Línguas negro-africanas


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Línguas do Egito, da Nigéria, da Tanzânia… A África é um continente com uma diversidade lingüística realmente impressionante. No matabicho de hoje, em comemoração ao mês da consciência negra, vamos entender um pouco dessa enorme riqueza lingüística e algumas características gramaticais das línguas dos povos trazidos ao Brasil como escravos.

Bom dia! O assunto do mês é o dia da consciência negra, celebrado no próximo dia 20 de novembro. Vamos então comemorar essa data com um matabicho especial a respeito das línguas faladas pelos inúmeros povos da chamada África negra.

A África é um continente realmente fascinante em termos de diversidade lingüística. Só na Nigéria, um país praticamente do tamanho do Estado do Mato Grosso, são faladas cerca de 250 línguas diferentes. Isso já seria fascinante mesmo se ignorarmos as línguas européias e crioulas que chegaram lá por ocasião da colonização européia. Mas se observarmos apenas as línguas faladas pelas populações nativas, notamos que elas podem ser classificadas em quatro grandes grupos:

Línguas afro-asiáticas: como o nome está dizendo, esta é uma família de línguas que tem membros tanto na África quanto na Ásia. O grupo mais famoso dessa família é o grupo semítico, que engloba o árabe e o hebraico.
"Mas essas línguas não são faladas por populações negras!" Bom, o hebraico de fato não, e o árabe originalmente também não. As línguas berberes, também afro-asiáticas, tampouco. Mas há algumas dessas línguas faladas predominantemente por populações negras (embora talvez elas tenham de fato se originado em povos não-negros). Destaca-se o haussá, do grupo chádico, uma das línguas mais faladas na África norte-ocidental, e o oromo, do grupo cuxítico, falada na Etiópia. É interessante lembrar que pertencem a essa família as línguas que receberam pela primeira vez em toda a História uma forma escrita: o egípcio e o acádico (ambas mortas atualmente, mas você já ouviu falar delas nas aulas de História).
Algumas características gramaticais: todas as línguas afro-asiáticas têm dois gêneros (masculino e feminino) e costumam ter flexão interna. Por exemplo, na conjugação verbal, em vez de desinências, como em português, muda-se o interior da palavra, como em somali: wudimta (ele morre), wedimata (ela morre), wadimate (você morre) etc.

Línguas nilo-saarianas: como o nome diz, são línguas faladas às margens do Nilo e no deserto do Saara. O problema é que esse grupo de línguas ainda é hipotético: não há comprovação de que todas essas línguas são de fato relacionadas e podem ser agrupadas conjuntamente. A principal língua nilo-saariana é o luo, falado no Quênia, a língua materna do falecido pai de Barack Obama. E você também já deve ter ouvido falar do povo masai, também do Quênia. A língua deles também pertence a essa família.
Algumas características gramaticais: como essa família ainda é uma hipótese, fica difícil encontrar uma característica comum a todas. Uma delas talvez seja o número: quase todas elas apresentam distinção singular-coletivo-plural.

Línguas coissã (ou khoi-san): formam um grupo relativamente pequeno de línguas faladas no sudoeste da África, em especial na Namíbia (e tem um grupo perdido também na Tanzânia, do outro lado). Elas ficaram famosas por uma característica fonológica peculiar que aparentemente só elas têm: os chamados "cliques", consoantes produzidas como se fossem estalos da língua contra os dentes ou o céu da boca (sabe quando você faz aquele som característico do "tsc-tsc"? Pois é, esse som é uma consoante nessas línguas). Uma comédia de 1980 intitulada "Os deuses devem estar loucos" aproveitou-se disso para fazer piadas.

Línguas níger-congolesas (ou niger-congo): deixei por último porque esta é a maior e mais importante família de línguas da África. As línguas niger-congo são faladas em praticamente toda a África sub-saariana. Com certeza a esmagadora maioria dos escravos trazidos para o Brasil eram falantes dessas línguas. Um subgrupo dessa família tornou-se quase que um sinônimo de língua da África: trata-se do grupo banto, com características bem específicas. As línguas niger-congo mais importantes são o bambará, falado no Mali; o wolof, falado no Senegal; o iorubá, falado na Nigéria (confira em outro matabicho); e várias outras. Entre as línguas banto, destacam-se o suaíli, falado em quase todo o sudeste da África, e o zulu, na África do Sul.
Algumas características gramaticais: a grande maioria das línguas niger-congo são tonais, ou seja, em vez de sílabas fortes ou fracas (como em português), elas têm sílabas agudas ou graves. Isso mesmo, são conceitos musicais. Uma sílaba pode ser mais aguda ou mais grave que outra. Agora, a característica gramatical que mais chama a atenção nesse grupo, em especial nas línguas banto, que conservam isso de forma bem marcante, é o sistema de classificação nominal. Basicamente, trata-se da mesma idéia que temos em português do gênero: as palavras são classificadas arbitrariamente em masculino e feminino (e isso não depende de sexo, porque "mesa" é feminino e "livro" é masculino, mesmo sendo seres assexuados). Porém, as línguas banto não se contentam com apenas dois gêneros: elas têm um bocado deles, algo como cinco, seis ou mesmo dez. O suaíli, por exemplo, tem nove: um para pessoas, um para plantas, um para frutas, um para objetos, um para animais, um para lugares… Mas como em português, a coisa não funciona tão bonitinho assim: pode haver um animal que tem o mesmo gênero que uma planta, por exemplo. Ah, e além disso, os gêneros são marcados geralmente por prefixos: em suaíli, o prefixo do gênero pessoa é m-, o do gênero fruta é ji-, o do gênero animal é n- e assim por diante.

Por hoje é só, e já tem coisas demais aí… Numa próxima eu falo de algumas dessas línguas com mais detalhes.

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Bruno Maroneze