Um novo editor provisório


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Em maio, a escritora e blogueira Fal Azevedo esteve em Brasília, para a estreia da peça teatral Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite, baseada no romance homônimo de sua autoria. Dois dias antes da estreia, Fal, na companhia do diretor da peça, Arthur Tadeu Curado, participou de um bate-papo a respeito do livro, da adaptação e de outros assuntos. Ela falou um pouco sobre seu blog, Drops da Fal, um dos mais famosos, muito merecidamente, e antigos da blogosfera brasileira, que, em março, completou nove anos. Das palavras de Fal naquela noite, registrei uma passagem em especial. Ela contou que, nos últimos nove anos, a maioria das coisas boas que ocorreram em sua vida estiveram relacionadas, de alguma maneira, ao blog – de oportunidades de trabalho na área de tradução a novos amigos.
Tenho me perguntado: por que blogar? o que pode um blog? A primeira pergunta é subjetiva, pode comportar tantas respostas quantos forem os blogueiros; pode também ser reescrita: por que não blogar? A segunda respondo de modo vago: estamos descobrindo.
Eu mesmo não tenho uma resposta pessoal para a pergunta “por que blogar?”. Passados quase dois anos desde que comecei, ainda não sei por que blogo. Contudo, não tenho vontade de parar. Talvez, suspeito, porque o blog também me trouxe muitas coisas boas – entre as quais, a amizade de Madame Fal, como eu carinhosamente chamo a Fal.
Em uma carta à moda antiga, a uma amiga muito querida, ela também blogueira, autora daquele é, em minha opinião, um dos melhores blogs brasileiros, confessei que, por vezes, questiono se tudo o que escrevemos, movidos por aquilo em que acreditamos, produz efeitos. Ela deseja outro mundo. Eu também. Estou certo de que nós todos, colunistas e blogueiros que somos e fazemos O Pensador Selvagem, desejamos. De nossos desejos não sei o que restará. Tampouco dos milhares de textos que escrevemos. Anseio por um mundo outro, mais belo e justo, muito diferente deste, que não é nem belo nem justo. Não sei se viverei para vê-lo – talvez não. Não sei sequer se esse mundo virá, mesmo que em um futuro demasiado distante. Todavia, se tudo o que escrevemos for em vão, restarão os afetos. Em face do terror deste mundo, a amizade – esse vínculo gerado do gostar, do querer bem e da confiança recíprocos – consubstancia, em si, uma forma de resistência, porque é uma abertura ao outro e um entregar-se a possibilidades.
Um blog não é apenas uma escritura, pode ser também um espaço de encontros, de construção de afetos e envolvimentos. Eis um dos motivos pelos quais blogar, bem como coparticipar na escrita de um blog comentando posts, pode ser uma experiência gratificante.
No último diálogo travado com Kublai Khan, em As cidades invisíveis, de Italo Calvino,Marco Polo diz a seu amigo:
O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço.
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André Egg e Ulisses Adirt conceberam o projeto de uma série de editorais dedicados aos blogs do OPS! e me convidaram a participar da empreitada. Por ora, me considero um editor provisório. Estou neste espaço colaborando com dois amigos. Se me tornarei um editor efetivo, o tempo dirá, muito embora eu não tenha essa pretensão.
Em meu próximo editorial, entrarei na dança. O texto será dedicado ao blog do meu amigo André, Um Drible nas Certezas. Como disse a ele, passarei ao largo somente dos posts sobre futebol, por absoluta falta de competência para discorrer a respeito do tema.
PS: escrevi este editorial na madrugada do dia 20 de julho. Não sabia que dia era, nunca sei, e não me lembrava de que, nessa data, se comemora o Dia do Amigo.

About the author

André Egg

Músico, historiador e crítico. Professor da UNESPAR. Colaborador do PPGHIS-UFPR. Organizador do livro Música, cultura e sociedade. Página pessoal em http://andreegg.org