Disseminação superficial da cultura (Indústria Cultural?)


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Acho que nunca se viu ou se discutiu tanto sobre dança como nas últimas décadas no Brasil. E a televisão tem um papel importantíssimo sobre essa febre que tomou de assalto o país. O ápice de toda essa euforia deu-se quando a tv Globo, no programa Domingão do Faustão, realizou concursos de dança com famosos (Dança dos Famosos).

O índice de audiência obtido pela tv Globo foi gigantesco. Afinal, eles usaram uma combinação perfeita para atrair o público: o Faustão – que já é um programa de grande público -, a dança – que interessa a muita gente – e pessoas famosas – que disperta a curiosidade dos fãs em geral.

Posteriormente, a telenovela Dance, Dance, Dance, exibida na rede Record, angariou significativos pontos na sua audiência também. Nela, a trama – ou a falta dela – passava-se toda ao redor da dança: a mocinha que se apaixona pelo cara malvado; o casal que sofre desilusões amorosas, mas que no final conseguem ficar juntos – como sempre!

A telenovela Páginas da Vida usou a dança como pano de fundo para tratar da bulimia. Malhação reposicionou seu formato de forma a parecer um – bem inferior – High School Musical. A Band exibiu Floribela, que possuia como cenário uma academia de dança. O SBT lançou mão do programa Bailando Por Um Sonho

Enfim, exemplos não faltam para confirmar o que foi dito no primeiro parágrafo. E eu acho isso muito bom. Acho, realmente, louvável essa tentativa de trazer a dança para mais perto do grande público. Fico feliz em saber que muitas pessoas, depois de terem visto qualquer um dos exemplos acima, procuraram um local para que pudessem aprender determinada dança.

Mas a questão é: até que ponto nós, bailarinos e profissionais da dança, devemos nos alegrar com isso? Afinal, o que me parece estar acontecendo é muito mais uma banalização da dança do que seu esclarecimento.

É muito fácil enaltecer certos aspectos da dança em detrimentos de outros. Para quem assiste a esses programas, o universo da dança é dos mais bonitos possíveis. Mal sabem as dificuldades e problemas que os profissionais encontram pelo caminho. Concordo que os preconceitos e problemas que existem para se tornar um profissional da dança, por exemplo, não atrairiam tanta gente quanto aquela manjada história do casal que, desde o início da telenovela, sabe, com apenas uma troca de olhares, que ficarão juntos pelo resto de suas vidas.

Mas há ainda algo que eu, na minha humilde opinião, considero pior: é o fato da dança ser reduzida à pura e simples forma de diversão. Não discordo que ela seja para se distrair, mas não é só isso, oras. A dança tem sido usada apenas como uma forma de entretenimento; ela apenas ajuda a contar uma historinha romântica que todo mundo já conhece.

Quando se vai além, tem-se apenas o tema da superação incluida no contexto. Como algumas danças são exigentes demais e para ser bom é necessário muito esforço e dedicação, ela ajuda a formar o arquétipo do herói que tanto atrai o público e agrada às emissoras.

Mas e a dança como arte? Como profissão? Como estilo de vida? E a parte teórica da dança? Nada se vê sobre essas coisas.

Chego a conclusão que a televisão brasileira vem disseminando um pensamento massificado sobre algo que pode se desdobrar em muito mais elementos. A dança deixa de ser uma arte para se tornar um parque de diversões. Pensamentos historicamente consolidados são enraizados cada vez mais fundo na mente das pessoas.

"Se a dança me emociona, é porque ela é boa". Lamento muito ler e ouvir esse tipo de coisa. A dança vai mais além do que isso, caro leitor. Mas, infelizmente, o senso crítico popular anda em baixa, o que torna as pessoas incapazes de se aprofundar em alguma coisa e ver o que existe adiante.

Superficialidade, talvez esse seja o mal do nosso século!

Au revoir.

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Sara Gobbi