Febre do Rato: o cinema messiânico de Claudio Assis.


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 Cláudio Assis nunca esteve para brincadeira. Isso já ficou claro não apenas em seus filmes, mas em suas declarações e posturas claramente combativas. Amarelo Manga e Baixio das Bestas já diziam muito desse cara nascido em Pernambuco, estado que merecia um estudo simplesmente para tentarmos entender de onde vem tanta criatividade, tanta luta, tanta inovação estética e discussão política.

 

febre do rato

 
Febre do Rato, seu novo filme, tem uma fotografia esplendorosa do já veterano Walter Carvalho. Preto e branco, altamente contrastada, por vezes estourada, Recife (ou Hellcife como lhe cai muito melhor e o filme diz isso) é retratada em belos planos abertos, para na seqüência nos jogar, nus, em seus pequenos ambientes privados e desconhecidos. Nessa pequena “zona autônoma” – onde o rato é a figura simbólica, mas poderia ser o caranguejo – lutando por reorganização (“Que eu desorganizando posso me organizar”), temos uma briga da poesia contra o estado inalterado das coisas, contra a moralização castradora.
 
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Irandhir dos Santos faz esse poeta-messias disposto a levar as pessoas a despertarem de um estado de torpor para entrarem de cabeça num mundo onde a poesia dá as regras, onde as palavras “organizadas” segundo a métrica de uma beleza sutil têm poder de uma revolução própria. Ele vive para poetizar seu cotidiano mais próximo, transformando-o, organizando-o no sentido que Chico Science daria para isso. E Chico está presente no filme, na fala do poeta, quando clama: “Chico, me empreste sua ciência, para que eu possa me esclarecer”. A bela trilha de Jorge du Peixe também não está ali à toa, é o Recife que grita do mangue. É o Recife que grita como qualquer outra metrópole, mas que grita de forma diferente já há muito tempo.
 
Criticaram Cláudio Assis pelo excesso de esteticismo no trato com questões que não mereciam, talvez, um “adversário” em sua observação. Besteira pura. Como sabemos há muito tempo, uma coisa complementa a outra. Cláudio Assis cria um cinema messiânico cheio de sexo e poesia, com imagens marcantes. Câmeras em carrossel, enquadramentos atrevidos, nudez contextualizada. O poeta clama pela coletividade, continuando a tradição.
 
Eneida, a musa, mija na mão do poeta, se masturba lendo seus versos. A câmera gira vertiginosamente com a música de du Peixe ao fundo. Cenas que tratam também de um cinema alheio ao “bom-mocismo”, ao Brasil para turista, e sim, seguem na vertente de que o ser humano continua sendo “estômago e sexo”, e agora vai além, é necessário ser coletivo.
 
Cláudio Assis tem o que dizer, sabe como dizer, sabe ao que deve respeito, e ao que deve um dedo médio, em riste, apontando para o horizonte.  
 
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Diogo Brunner