Afinal, houve uma reunião de ministros ou uma Santa Ceia?


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"Eu fico imaginando que muitas vezes nesta mesa aqui parece a Santa Ceia, todo mundo reunido, depois passamos um ano sem conversar" afirmou o presidente Lula na última reunião ministerial.Marco da primeira missa rezada no Brasil

Qual é o limite da neutralidade religiosa do Estado brasileiro? Analisemos a influência da Igreja Católica na vida política nacional desde o remoto colonialismo no Brasil até as recentes manifestações contra a transposição do Rio São Francisco e contra a campanha contraceptiva pernambucana.

A primeira solenidade da Terra de Santa Cruz foi uma missa e as solenidades subseqüentes foram amplamente marcadas por traços religiosos. Dom João VI, por exemplo, foi recebido com missas por cada canto em que passava, desde Salvador até o Rio de Janeiro. Aliás, há 200 anos não só a missa era importante, mas também o soar dos sinos das igrejas, o qual era um regulador da vida colonial.

Dom João VI“Eram os sinos que marcavam toda a vida da cidade. Via-se um incêndio, era o sino; se havia um casamento, era o sino; se havia chamamento para a missa, era o sino que convocava para a missa. Tudo era à base de um comportamento que estava pautado pelas regras da religião oficial”, explica o professor de História da UFRJ, Francisco José Silva Gomes.

Chegada a independência, a tradição religiosa se manteve, o que se comprova pela coroação do Dom Pedro I na igreja de Nossa Senhora do Carmo. Além disso, nem mesmo toda a pompa intelectual e científica do Dom Pedro II foi capaz de suplantar a união entre o Estado brasileiro e a Igreja Católica.

No entanto, com o advento da República, instituição original e inovadora, a ruptura ocorreu e o país tornou-se laico. É… Laico. Apesar disso, é sabido que a Igreja ainda influencia na política nacional.

Primeiramente, é por conta do catolicismo que existem no país tantos feriados e comemorações religiosas institucionalizadas. Ademais, vale lembrar o Novo Sindicalismo, iniciado pelo grupo operário no qual figurava Lula, nosso presidente, e que foi um movimento de reivindicação de melhores salários, mas que, devido à influência de religiosos, clamava também por respeito ao trabalhador enquanto ser humano, respeito aos direitos básicos dos cidadãos.

Lula e o Novo Sindicalismo

Na contramão desses progressos vinculados ao crucifixo está, por exemplo, a inexistência de uma lei que garantisse o divórcio no país até 1977. Explica-se, pois o casamento é um sacramento da Igreja Católica.

Atualmente, no entanto, o Estado brasileiro demonstrou liberdade frente às amarras sagradas. A greve de fome do bispo Dom Cappio, a qual, vale ressaltar, é vedada pelas regras católicas, não surtiu efeito sobre o andamento da obra de transposição do Rio São Francisco e inclusive foi severamente rechaçada pelo presidente Lula.

Bispo Dom Cappio“É o projeto mais humanitário do governo. Quero acabar com a indústria da seca e do caminhão pipa. Só quem carrega lata de água na cabeça e viu sua cabrinha morrer de sede sabe o problema da seca” disse Lula sobre o episódio.

Agora a Igreja se mostra contrária em relação a outro tópico já bastante debatido: o aborto. Na verdade há tempos que autoridades eclesiásticas, tanto do Brasil quanto do México, defendem a excomunhão de políticos que votarem pela legalização do aborto. No entanto, em tempos de carnaval, a discussão ganhou novo fôlego mediante a determinação de duas prefeituras pernambucanas, a de Recife e a de Paulista, de distribuir pílulas do dia seguinte para os foliões.

A Arquidiocese de Olinda e Pílulas anticoncepcionaisRecife considera a medida promíscua, quer vetá-la e promete ir até a justiça se as autoridades não desistirem da iniciativa, mas parece-lhe faltar informações sobre as estatísticas de mortalidade materna, as quais mostram que o abortamento é a quarta causa de óbito materno no país e que também explicitam o exorbitante número de atendimentos hospitalares relacionados à complicações pós-aborto: 236.365.

As prefeituras, mesmo pressionadas, já decidiram manter sua posição quanto à campanha contraceptiva, mas até quando a Igreja vai conseguir manter-se contrária a decisões de óbvio benefício público, portanto democráticas, sem perder sua antiga magnitude?

 

Paulo Henrique Guerra é um universitário da Universidade Federal Fluminense do curso de Relações Internacionais louco para mudar o mundo.

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Paulo Henrique Guerra