A inserção das TIC no mundo contemporâneo


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A função – e o impacto – das novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), em especial da Internet, nas sociedades é largamente investigada pelos estudiosos de áreas afins à comunicação e à política. Nos últimos cinco anos, tem-se dispensado atenção especial a alguns tópicos referentes a esse assunto, como participação política, ciberativismo, eleições online, governo eletrônico e ciberdemocracia

A indústria da informação vem ganhando espaço e poder jamais imaginados em qualquer outra época. Tudo o que integra a agenda econômica, cultural ou política passa obrigatoriamente pelo que Gomes (2004) chamou de “esfera de visibilidade pública”, mediada pela referida indústria.

Um dos problemas inerentes a esse sistema comunicativo – bastante discutido pelos teóricos de comunicação política – é que o controle da informação é ainda das elites econômicas e/ou políticas. Os media tradicionais ainda obedecem aos anseios do mercado, ainda sofrem sérias restrições políticas, ainda pensam mais em audiências e consumidores que em cidadãos, participantes.

As tecnologias da informação e da comunicação surgem nesse cenário, então, como uma alternativa para a participação de cidadãos que estavam antes à margem de todo o processo de tomada de decisão política, ao menos em tese. Muitos autores, a exemplo de Bucy e Gregson (2000), consideram a Internet como sendo a modalidade que oferece as melhores opções de participação política no mundo contemporâneo. Para Wiklund, está claro “que os serviços disponibilizados pelas tecnologias da informação e da comunicação podem suportar ambições democráticas encorajando formas de organização informais e não-hierárquicas” (2005, p.263).

Segundo Savigny (2002), a expansão da Internet como um novo meio de comunicação gera uma mudança potencial da primazia da mídia tradicional e partidos políticos como formadores da opinião pública. O autor acredita que a Internet, assim como as demais tecnologias a ela relacionadas, oferece grandes oportunidades para os indivíduos participarem dos diversos âmbitos de debate existentes no ciberespaço.

Já Stanley e Weare (2004), em estudo realizado a respeito dos efeitos do uso da Internet na participação política, acreditam que a Internet se constitui como um fórum através do qual os indivíduos podem adquirir níveis de civilidade necessários à participação. No referido artigo, os autores demonstram como a discussão baseada na Internet pode atrair novos indivíduos a participar do processo político. Já Ayres argumenta que:

enquanto algumas evidências pintam uma imagem de usuários da Internet como indivíduos atomizados, solitários, mergulhados em depressão enquanto se perdem numa bagunça de salas de bate-papo, outras evidências sugerem que a Internet serve como uma ferramenta eficaz para aqueles envolvidos em uma causa particular” (1999, p.138).

 

 

 

Em contraposição a esses autores, muitos outros não nutrem esperanças a respeito do tão celebrado potencial democrático da Internet, ou a tomam apenas por uma ferramenta neutra que pode e deve ser utilizada para modernizar, melhorar e fortificar a democracia (Buchstein, 1997). Wiklund (2005) defende a idéia de que os serviços e informações disponibilizados pelas TIC possuem um potencial democrático, mas atenta ao fato de que a Internet precisa ser utilizada com cuidado e que apenas disponibilizar serviços não garante que eles sejam utilizados.

A participação de uma parcela cada vez maior de cidadãos também é um ponto bastante questionado por uma corrente de autores que defendem o chamado “pluralismo elitista”. Walter Lippmann (1922,1927, apud Bucy & Gregson, 2000), por exemplo, defende que os cidadãos comuns não são competentes para participar efetivamente de atividades políticas tão complexas. Já Dahlgren não acredita que as discussões realizadas no ciberespaço consigam adentrar as esferas de decisão pública. Ele argumenta que a Internet e as tecnologias a ela relacionadas estariam apenas “no domínio do informal, da política extra-parlamentar” (2005, p.154).

Com o surgimento e a utilização das novas tecnologias da informação e da comunicação, há, como já houve em outros momentos da história (quando da invenção da televisão, do telefone, do telégrafo e do fax, por exemplo), a idéia de que a Internet surge para superar ou tomar o lugar dos formatos tradicionais da indústria da informação. Além disso, discute-se que a rede que interliga computadores em todo o mundo acaba por distanciar os cidadãos e aumentar a possibilidade de controle da população por parte do governo.

Em resposta a essas questões, Buchstein (1997) e Wiklund (2005) defendem que a Internet é uma ferramenta neutra de disponibilização de informação. Ela serve muito mais como uma alternativa e um complemento aos outros formatos da indústria da informação que como uma ameaça de “extermínio” das mídias tradicionais. A Internet oferece uma diversidade de informações que, muitas vezes, não são exploradas pelos formatos tradicionais da indústria da informação. Essa disponibilização de informações e serviços ampliaria a possibilidade de participação política do cidadão, antes excluído do processo de tomada de decisão política.

De acordo com Bucy e Gregson (2000), a Internet, assim como as demais tecnologias da informação e da comunicação, constitui um fluxo de informação de mão dupla. Isso estimula o aspecto interativo e mantém a percepção e a realidade de um sistema político mais acessível. Os autores citados estabelecem quatro funções políticas inerentes à Internet. A primeira é que ela oferece acesso a notícias e informações políticas. A segunda é que ela interliga candidatos e cidadãos através de websites e e-mails. Além disso, ela oferece um espaço de discussão política, especialmente através dos grupos de discussão da Usenet. Por fim, ela serve para medir a opinião pública com a capacidade de oferecer a reação aos eventos e decisões concernentes ao processo político em tempo real.

O que parece ser quase um consenso entre os pesquisadores de comunicação e política é que a Internet oferece um tipo de informação que não faz parte do chamado “mainstream” da indústria da informação. Segundo Buchstein (1997), ela subverte as tradicionais estruturas de poder através da independência dos cidadãos das agências do governo e da grande indústria da informação. Para ele, a Internet disponibiliza informações políticas que afetam a participação do cidadão no processo de tomada de decisão. Apesar de a participação direta ou ativa ser mais bem vista pelos autores dos estudos sobre Internet, a indireta, ou passiva, também é considerada por alguns autores, a exemplo de Bucy e Gregson (2000). Eles defendem que não apenas as formas de envolvimento direto ou físico podem atribuir poder e benefícios mais tangíveis, como defendem o modelo normativo de participação. Para os autores, existem exemplos de participação passiva que podem resultar em uma atribuição de poder material, ou real, enquanto que o envolvimento ativo pode muitas vezes produzir somente um “empoderamento” simbólico.

O estudo sobre o uso da Internet na participação política é bastante amplo, mas oferece poucos resultados concretos e muitas lacunas. Stanley e Weare, por exemplo, apresentam duas hipóteses acerca dos efeitos da web no engajamento civil, defendidas por autores como Danziger, Dutton, Kling & Kraemer, 1982, e Norris, 1999 (apud STANLEY & WEARE, 2004). São elas a do reforço e a da mobilização. A hipótese do reforço defende que as TIC suportam a já existente distribuição do poder político porque influencia indivíduos e organizações já ativas no processo político. Já a hipótese da mobilização defende que as tecnologias irão também criar novas e maiores oportunidades para a participação, atribuindo poder a novos grupos e abrindo caminho para redes políticas antes difíceis de penetrar.

Segundo Stanley e Weare (2004), ainda não se pode afirmar se a Internet atrai indivíduos politicamente ativos para expor suas opiniões através de outra via ou se mobiliza os inativos a participar. Bimber (2000) parece ter uma opinião clara a respeito do assunto. Ele defende que o uso da Internet para reunir informação política não amplia a participação.

Entre os autores que dedicaram suas pesquisas a temas ligados a Internet e política nos últimos cinco anos, o clássico e polêmico fator da exclusão digital ainda tem lugar. Questões como a disponibilização do software adequado e o conhecimento necessário para a utilização efetiva das novas tecnologias da informação e da comunicação continuam presentes em diversos estudos. Wiklund (2005), por exemplo, defende que apenas o acesso não faz com que o cidadão participe do processo político. Segundo ele, as pessoas precisam de motivação para utilizar essa infra-estrutura.

Os estudos produzidos a respeito da inserção da Internet nas sociedades contemporâneas parecem enquadrar pesquisadores do tema em três vias básicas. De um lado, otimistas insistem em enfatizar o incrível potencial que a Internet tem de oferecer uma enorme quantidade de informação a baixo custo. Os mais céticos chamam a atenção para o fato de que a quantidade de informação disponibilizada pelas TIC não traz implícita a idéia de qualidade e que essa nova ferramenta não obrigatoriamente estimula a participação dos cidadãos antes inativos no processo de decisão política. De uma terceira via fazem parte aqueles autores que analisam com parcimônia esse tema. Essas são algumas das problemáticas geradas pela inserção da Internet nos países em que a democracia já está estabelecida. É importante perceber – e investigar – o fato de que a implantação das novas tecnologias da informação e da comunicação tem implicações bastante diferentes nas sociedades em transição democrática, como diversas nações asiáticas e do leste europeu, por exemplo.

 

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Najara Lima