A blogosfera já era


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Esta pequena introdução seria um P. S., mas cabe já de início a fim de que uma possível subestimação de meu senso temporal (cuja aparente falha será explicada) não ofusque o conteúdo a seguir apresentado.
Este texto tem mais de um ano. Talvez dois até. Revisei-o e o atualizei, mas sua base é daquele nascimento mesmo. Talvez isso o faça datado por seus detalhes, já que falo muito em blog quando outras redes sociais protagonizam o momento (e este momento mesmo já passado); despertou-me escrevê-lo o enfraquecimento da blogosfera a partir do crescimento do Twitter e do Facebook. Como disse no @joaogrando em 3 de agosto de 2009: “Em 2004 a moda era ter um blog sempre atualizado; em 2009, é ter um blog abandonado e explicar o porquê” – num dado momento ano passado, vários blogs famosos pararam suas atividades e outros tantos diminuíram muito suas atualizações. Enfim, ao texto:

A BLOGOSFERA JÁ ERA

@joaogrando:
“É quase unânime a idéia de o paraíso ser um lugar onde há um programa que lê nossas memórias com precisão.”
[5:23 PM Sep 1st from Seesmic]

“Eu trocaria toda a pornografia da internet pela minha vizinha nua visível pela janela.”
[9:24 AM Jan 26th from web]

“txt 50 KB > .jpg 1 MB > .mp3 4 MB> .avi 1 GB”
 [1:40 PM Jun 28th from TwitterBar]

“[em termos de FAMA] O “ranking” de followers brasileiro (http://migre.me/7zrA) faz valer o ditado EM TERRA DE CEGO QUEM TEM UM OLHO É REI.”
[11:39 AM Sep 23rd from web]

“BLOGOSFERICAMENTE [pejor.] falando, comentar parece mais c/ FAZER CIÚMES do que c/ FLERTAR ou CONVERSAR.” [12:35 PM Sep 24th, 2009 via web]

A blogosfera já era

A blogosfera morre.

Porque a blogosfera funciona analogamente ao mundo das celebridades, a ‘celebrosfera[?]’: há gente que está lá por algo (Roberto Carlos, Ronaldo, Caetano); há gente que está lá simplesmente por estar [star?] (BBBrothers e afins), sem abrir mão de toda aquela pseudo-crítica blá-blá-blaiana anexada de bombardeio ao segundo grupo. Porém, uma vez na celebrosfera, está-se lá pelas propriedades da celebrosfera (as coisas do mundo real não importam – os gols do Ronaldo, as músicas do Caetano): lá se respira como eles respiram, como ser um astronauta em Marte – a casa tem suas regras.

Por quê? Porque para os méritos específicos proporcionáveis, na blogosfera o contato conta mais que o resto. É mais que o fim de rankings ou coisas tão ousadas (e bobas) quanto. Porque a obviedade maior que twitteres, blogs, flickres, youtubes, facebooks nos oferecem está embutida nos ‘enjoy it’, ‘free’ etc: na internet você não precisa do aval de ninguém: eu não preciso de um jornal para escrever – embora talvez precise de um para ser (bastante) lido.
Ainda.
E aí que a blogosfera entra[va]: cria[va] uma rede (‘panelinha’ para os não incluídos) que estava sob os holofotes: o tapetão vermelho do mundo virtual: um moça bonita é menos bonita que uma moça bonita com 40 comentários (flashs).

Soa subversivo se pensarmos justamente na questão da internet dar chance a todos – é quase como o Stálin para a revolução russa. E, para não perder o tom masturbatório que o mundo virtual (já de brinde com o adjetivo) tem até então (o que vem mudando), a blogosfera leva um massacre da celebrosfera no seu próprio campo: vide as @pessoas mais seguidas no Twitter. O blog do Marcos Mion tem, num post qualquer, mais comentários que todas as visitas que eu já recebi no meu endereço, isso incluindo as aterrissagens decepcionadas ao correrem atrás de “loira descomunal levando surra de pica”. 
 

“Ninguém pode dar as cartas na internet”: escrevi essa frase, seu efeito é bom, entanto não sei se posso concordar: se pensarmos em superfaturamento, suborno em licitações, amiguismo em editais, interestings no Flickr paramos numa mesma origem: alguém tem de dizer “isso sim, isso não”. E havendo possibilidade de publicação com igual acessibilidade ninguém deveria dar as cartas: isso é um incentivo à pureza (a despeito da perigosa abolição das especialidades e de um público sem pai e nem mãe deslumbrar-se de modo desenfreado). 

Não raro o termo blogueiro significa a atividade de alguém que utiliza o meio, fala do meio, mas não chega a criticar com ações o meio. Ou seja, ele usa um serviço, fala sobre este serviço, mas não pensa este serviço além daquele universo. É como um usuário top. É uma personagem existente em função de um novo contexto, como uma Geisy Arruda, embora, claro, cineastas só passaram a existir após a invenção do cinema (inda que as seis outras artes anteriores ao cinema talvez sejam a base definitiva para qualquer criação cultural, ocorrendo além disso apenas um jogo de mídias que as converge ou utiliza de modos diferentes).

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É como a celebridade da blogosfera: ele não se destaca por sua escrita, por suas idéias ou por qualquer outro conteúdo que gere (pois a maioria do que gera não tem nada de diferente (ou pior: nada de melhor) dos conteúdos gerados nas mídias tradicionais), não pelo que faz, mas sim por dois outros pontos fundamentais: (a) a maneira como se engendrou neste sistema (contando claro com um pouco de tudo aquilo) e consegue manter a atenção para si e (b) a relação de mesmo nível que mantêm com seus leitores/ seguidores, dinâmica acompanhada geralmente de termos como “bate-papo” etc.
E o tom dá tão certo que as celebridades desceram e (teoricamente) aderiram ao bate-papo, ainda que digam muito mais que escutem, até pela desproporção absurda de seguidores.
(Sublinhe-se o “não raro” de linhas acima, a fim de não aparentar injustiça (porque nem seria isso, já que não é ofensa alguma) para com tantos blogueiros que, ainda os sendo, produziram algo de fértil ou exerceram alguma atividade de tal modo especial (geralmente a escrita, às vezes a presença carismática entre outras) a ponto de produzirem algo independente da rede em que se relacionam e acrescente-se aí, complementando, que ter um blog não caracteriza ninguém como blogueiro; é-lo aquele que se adapta a esta mídia e depende das relações específicas criadas por ela, repito.) 

Quando encontramos amigos comumente falamos de coisas triviais: qual o melhor tênis para corrida, “quem foi melhor: Jardel ou Romário?”, os prós e contras dos relacionamentos ou como cuidar de algumas partes do corpo etc.

Qual seria o mal de buscar tais informações num nível maior, mundial quiçá? Os Reality Shows e programas de fofoca nos põem como amigos destas pessoas, as celebridades ou aspirantes a. É como qualquer experiência virtual. E, como qualquer experiência virtual 2.0, a discussão/ compartilhamento é muito maior: o fuxico é nacional, a dica para uma roupa é continental. Esta expansão da conversa torna a coisa uma forma de conhecimento, bem prático e útil para quem o procura. E uma opção mais cômoda para a fofoca – é bem mais fácil assistir a uma mensagem sensual entre um homem e uma mulher que se dizem amigos e questionar a etapa da relação contando com a televisão do que ter de esperar um final de semana na praia para tanto, no qual talvez a presença do expectador desmotivasse a geração do fato.
E do mesmo modo podemos conversar com os amigos aquele papo erudito, e aí a blogosfera também expande o assunto, apenas com o problema de autorizar qualquer um a ser crítico de qualquer coisa (mais isso é outra conversa).

Assim os blogueiros do tipo diaristas, à Clarah Averbuck (embora esta se encaixe na exceção não coberta pelo “não raro” pela terceira vez citado), são blogueiros roots: quem lê quer saber da vida deles, quer pegar o que eles têm para dividir, quer se inspirar, não no modo de escrever ou de praticar qualquer ofício, mas se inspirar para viver comumente de um novo modo: como reclamar, como ficar bêbado, como ir a festas etc. (saber o que eles compram, aonde vão, pois isso faz parte da nossa vida também. É sim como um bate-papo com um amigo seu, só que deste modo dá para aumentar o hall de amigos – e, ao contrário de quem põe isso abaixo da cultura tradicional, não há mal algum nesta relação). A mídia não importa e o interesse faz cada um procurar sua turma.
Instaura-se assim um processo contrário daquele que aparentam a saga das celebridades: não se trata das pessoas comuns se elevarem à fama, mas da abolição da fama: o fim (leia-se enfraquecimento) do mainstream. Mais horizontal, como é da evolução natural das coisas.

 

A VANGUARDA DA CELEBRIDADE

Para o ser humano a memória curta é mais selvagem: ver uma moça nua rapidamente é uma experiência mais marcante que ver uma foto sua.
Há milhares de mulheres belíssimas rodando o mundo diariamente em sites como Chagrin. Mas ver uma ao vivo, inda que muito mais meio boca do que as outras é uma experiência insubstituível, a realidade é ainda imbatível.
Até porque a imagem (uma foto de mulher nua) é apenas um dos componentes da realidade, já que ao vivo o tamanho da mulher, ambiente, cheiro e, mais que tudo, a dúvida (não se sabe exatamente o tamanho dos seus seios, não há como mensurá-los posto que a imagem é muito rápida) nos propõe uma experiência muito mais excitante (e não somente na conotação sexual), memória genética dum tempo em que não havia como significar as coisas. 
Como as diferenças entre ver um tigre numa enciclopédia, num zoológico e numa selva.

A foto e o vídeo surgiram no século retrasado, mas nesta década iniciaram um processo de popularização que muda[rá] muito tudo.
Uma foto revela os detalhes que a mente não aproveita do olhar, acaba com as elipses. O vídeo registra cada palavra de um evento para que seja revisitado (filmei praticamente todo meu aniversário e pude depois precisar o nascimento de certas histórias com precisão de minuto).

Gordon Bell pendurou uma câmera no seu pescoço e passou a registrar tudo de sua vida. Os reality shows geram arquivos em que é possível contabilizar até quantas vezes uma pessoa se coçou.

Em alguns anos, eu imagino que não será problema haver uma câmera de vídeo em cada local, e ser possível o acesso remoto a imagem gerada por ela de qualquer celular ou outra geringonça do tipo.

Seria o fim de esconder uma rosa nas mãos posicionadas nas costas; o fim do “não foi isso que eu disse” – imaginem replays (quiçá tira-teimas) de DR (discutir relação)?

Uma escovada de dentes, um sorriso no espelho: tudo registrado para poder ser consultado.
Este futuro plenamente registrável nos coloca numa nova pré-história: Gordon Bell e os BBBrothers da vida são como cuneiformes (alfabetos primitivos).

Estes registros farão pela nossa memória o mesmo que a escrita fez pelos pensamentos abstratos.

Com este possível registro pessoal completo (Yottabyte para que te quero), arte e vida aí sim se fundirão, sem mais simulações, representações, recriações: na hora, o que é, sem mais divisões.

Mudamos de milênio, não de século.

Na pré-história: é lá que estamos.

.^^. http://www.joaogrando.com

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João Grando