A Grécia como elo fraco: a crise da economia européia e do mundo


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Não adianta chorar pelos gregos. Não adianta simplesmente culpar o capital financeiro pela crise internacional. As causas dos problemas atuais são muito mais profundas e podem trazer grandes prejuizos e danos para todos, principalmente, para as camadas mais pobres da população mundial. Os países desenvolvidos estão vivendo acima de suas posses e terão que se adaptar aos seus limites. Estamos diante de uma crise do crescimento pelo crescimento.

Tomara que as previsões pessistas (que estou incorporando neste artigo) estejam erradas. Tomara que os problemas atuais sejam passageiros e que a economia mundial possa encontrar um caminho de equilibrio e de bem-estar para todos. Há quem diga que estamos apenas em mais um ciclo de baixa na espiral de prosperidade de longo prazo e que a crise atual não passa de mais uma etapa do revolucionário processo de “destruição criativa”. Tomara que Cassandra esteja errada, que Polyanna esteja certa e que todo mundo possa ficar contente e feliz.

Porém, tudo indica que a Grécia vai abandonar o Euro – o sonho de uma moeda única, forte e próspera. Não é uma questão de vontade, mas sim de falta de opção para todos os lados envolvidos. A reunião do G-8, em Camp David, nos dias 18 e 19 de maio de 2012, reafirmou a vontade de manter a Grécia na zona do Euro. Mas, para a Grécia continuar usando a moeda européia vai precisar aprofundar os cortes nas despesas e nos salários, pois o país é deficitário nas contas públicas e no comércio exterior. Neste caso, os países mais fortes e o FMI precisarão continuar colocando dinheiro no berço da democracia ocidental. Mesmo assim, a recessão não tem prazo para acabar.

Evidentemente, o povo grego não está gostando nada desta história e deve votar nos partidos de oposição que estão dizendo: “Não pagaremos mais nada, chega de sofrimento”. Se as eleições de 17 de junho de 2012 decidirem contra os acordos de austeridade acordados, provavelmente, os países que controlam as finanças européias decidirão não colocar mais dinheiro na Grécia. Enquanto isto, quem tem dinheiro nos bancos em Euro buscam se precaver contra um possível abandono do Euro. Neste quadro fica difícil adotar medidas de estímulo para o crescimento econômico. Em poucos dias ou horas tudo pode mudar.

O quadro de incerteza só acelera a saída da Grécia do Euro, o renascimento da velha Dracma e a retomada da soberania grega sobre a sua política monetária. Para muitos esta é a solução para acabar com o drama da recessão grega que já dura 5 anos e não tem prazo para acabar. Com a nova moeda, o país terá dinheiro para pagar os salários e as despesas governamentais. Mas o problema vai ser a taxa de câmbio. Para tornar a economia grega competitiva, a nova moeda Dracma (se tirar o “c” vira drama) necessitará uma grande desvalorização (o que significará um empobrecimento imediato de todo o povo). A tarefa do novo governo será administrar a inflação (que deve subir) e a retomada da economia como o renascimento da Fênix, depois da autocombustão, a partir das cinzas. Portanto, em qualquer cenário, o sofrimento do povo grego será muito grande, pois se ficar no Euro vai penar no longo prazo e se sair o sofrimento será imediato e de curto prazo. Em ambos os cenários, o futuro é desanimador.

A saída da Grécia do Euro (o cenário mais provável) vai significar um calote na dívida externa, pois o país não terá como pagar suas contas denominadas em Euro, pois a Dracma não terá conversibilidade. Isto vai significar uma grande perda para o Banco Central Europeu, o FMI e para os grandes bancos da Alemanha, França e Reino Unido, etc. Se as coisas ficassem neste ponto, os prejuizos do capital financeiro poderiam ser contabilizados nos passivos, como créditos podres. Porém, o drama não pára na Dracma.

O endividamento grego não é um fenômeno isolado. Outros países, tais como Portugal, Irlanda, Espanha e Itália estão em situação semelhante. O contágio pode ser inevitável. A saída da Grécia do Euro pode provocar uma crise de financiamento nestes outros países, sendo que Portugal seria o próximo a deixar a zona do Euro e repetir o processo de desvalorização de sua nova moeda nacional – o Escudo (seria um escudo contra a crise?). Portugal também ficaria impossibilitado de pagar a dívida externa, o que afetaria os bancos espanhois que são seus principais credores. Mas Grécia e Portugal são países relativamente pequenos. O problema das perdas financeiras vão se agravar sobremaneira se o mesmo acontecer com Espanha e Itália.

Se a “Eurolândia” fosse um Estado soberano disporia de instrumentos para enfrentar a crise, mas ela não é um Estado, pois a integração européia foi parcial. As últimas eleições da França e Grécia mostraram a vontade popular de vencer a austeridade. Mas não é uma tarefa simples adotar políticas keynesianas em países envididados, com déficits internos e externos e sem competitividade internacional. Nestes casos, o mercado costuma falar mais alto do que a democracia.

O fato é que a Europa já está em crise e o processo recessivo deve se aprofundar ao longo de 2012. Se a crise ficasse contida no Vellho Continente o impacto na economia internacional já seria grande. Mas os outros dois motores da locomotiva mundial também estão com problemas. Os Estados Unidos estão completamente endividados, com uma economia em frágil recuperação e com sérios problemas políticos devido à disputa desfuncional entre os dois grandes partidos do país. A China tem buscado um “pouso suave”, ou seja, tem tentado administrar, de maneira controlada, o processo de desaceleração de sua economia. Porém, vai ser dificil evitar um possível efeito dominó: primeiro cairia a Grécia, depois Portugal e demais PIIGS, a Europa entrando em recessão, puxaria para baixo os Estados Unidos e, todos juntos, derrubariam os 30 anos de crescimento chinês.

Uma crise na China prejudicaria o restante do Terceiro Mundo e significaria a queda do preço das commodities, afetando a Ásia, a África e a América Latina. A Índia, outra economia que apresentou altas taxas de crescimento nos últimos 20 anos, já está em processo de desaceleração e também seria muito prejudicada. Ou seja, o mundo poderá repetir a crise de 2008, com forte impacto ao longo de 2013. A Grécia pode ser o elo fraco da corrente que poderá descarillar os vagões do crescimento internacional. Foi assim com o Lehman Brothers em 2008.

Para o Brasil, estes cenários são péssimos, pois a economia já está desacelerada e são altos os déficits em transações correntes e no orçamento público. Todo o projeto nacional do governo Dilma de fazer crescer a “classe média”, reduzir a pobreza e as desigualdades pode ir por água abaixo. O Brasil, com sua enorme dívida social e ambiental, pode ter sua janela de oportunidade demográfica desperdiçada. Diante da crise iminente, os eminentes líderes do Governo Federal estão abaixando as taxas de IPI para a nova classe média comprar mais carros, embora ninguém consiga mais se locomover nas ruas das grandes cidades brasileiras de maneira decente (vide São Paulo). A mobilidade urbana está se tornando imobilidade e os automóveis estão ficando imóveis nos infindáveis congestionamentos. No Brasil se se aplica a fórmula de estímulo ao consumo e quase nada é feito no campo do investimento e da produtividade.

Mas, por outro lado, uma grande crise econômica mundial poderia, em tese, ser bom para o meio ambiente, pois provocaria um decrescimento forçado nas atividades antrópicas. Mas decrescimento econômico com aumento da pobreza tende a agravar os problemas ambientais, pois, por um lado, reduz os investimentos em tecnologias e soluções verdes e, por outro, agrava a dependência geral dos recursos da Mãe Natureza. O decrescimento que protege o meio ambiente tem que ser planejado e consensuado com a sociedade.

Vamos torcer para que este cenário pessimista não se realize e que a repetição da depressão dos anos de 1930 – e suas consequências – seja apenas um pesadelo de uma noite mal dormida e não uma realidade provável. Pode ser também que a saída da Grécia do Euro seja um fenômeno isolado e que não tenha efeitos negativos no continente e no resto do mundo.

As projeções para a economia internacional, do Banco Mundial, de janeiro de 2012 indicavam crescimento de 2,5% em 2012 e 3,1% para 2013. O relatório semestral do FMI, divulgado em abril de 2012 prevê um crescimento da economia mundial de 3,5% em 2012 e 4,1% em 2013, sendo -0,3% em 2012 e 0,9% em 2013 para a área do Euro e 5,7% e 6% para os países emergentes. O relatório econômico da OCDE, de 22 de maio, prevê uma queda de 0,1% na área do Euro em 2012, mas um crescimento de 1,6% em 2012 e de 2,2%, em 2013, para os 34 países da organização. Relatório do Banco Mundial, de 23/05/2012, fala em crescimento de 7,6% para a Ásia em 2012. Portanto, a despeito de todas as notícias ruins dos últimos dias, o Banco Mundial, o FMI e a OCDE acreditam em previsões relativamente otimistas.

Nos próximos meses veremos qual será o desdobramento da situação conjuntural, se o terremoto que está abalando o mar Egeu chegará em terras brasileiras como uma marolinha ou um tsunami.

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José Eustáquio Diniz Alves