Damas e Mascotes


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– Ó lá, os times tão entrando em campo. É hoje que a gente goleia.

– Não gosto de ver essa entrada. Me dá uma tristeza danada.

– Por quê?

– É a segunda maior frustração da minha vida. 

– O que, meu Deus? O que?

– Tá vendo essa criançada que entra com o time?

– Sim, os mascotes.

– Pois é. Eu sempre quis ser um mascote quando era criança. Mas nunca consegui. Quando vejo um time entrar em campo, lembro disso e fico triste.

– Que viadagem. 

– Você acha?

– É, uai! Entrar em campo com um monte de macho de shorts e suados… não sei não.

– Alto lá. Suados, não. Eles ainda não jogaram. Estão secos.

– Tão nada. Eles aquecem no vestiário. Tão tudo melado.

– Tão nada. Um atleta aquecendo é como se estivesse dormindo. Em resumo: não faz nem coceguinha. Estão secos.

– Não fala besteira. Como você pode ter tanta certeza, se nunca esteve lá, se nunca foi mascote?

– Não apela que eu choro. Com frustração não se brinca.

– Tá, desculpa. Mas você disse que não ser mascote é a segunda maior frustração da sua vida. Qual é a primeira?

– Nunca fui dama de honra em casamentos.

– Como?

– Isso. Eu nunca fui daminha. 

– Agora sim, virou viadagem o assunto.

– Por quê?

– Que eu saiba, dama de honra é coisa de menina. E você, pelo que eu saiba, é homem. Quando criança, você deve ter sido menino. Não é isso?

– Sim, fui menino.

– Pois então. Me dizendo que você queria ser dama de honra, eu entendo que você queria ser menina. E, hoje, mulher.

– Não coloque palavras na minha boca. Eu disse que queria ser dama de honra, não mudar de sexo.

– Taí, você tem certa razão. Mas a pergunta natural é: você queria tanto ser dama de honra a ponto de ter que mudar de sexo para realizar a proeza?

– Não. Eu queria ser menino e ser dama de honra. É tão difícil assim entender?

– Mas você não queria ser menina?

– Não. Queria ser dama de honra, mas sendo menino.

– Mas daminha se veste com vestido. Você queria usar vestido?

– Querer, eu não queria. Mas eu queria ser dama de honra. E como para a função é necessário estar de vestido, eu me sacrificaria pelo meu sonho.

– Quem veste vestido é mulher. 

– É? E o padre? Ele usa vestido. 

– Aquilo é a batina.

– Questão semântica. Parece vestido de onde vejo.

– Batina é diferente de vestido. 

– Qual a diferença?

– Quem usa batina é padre. Quem usa vestido é mulher.

– Então a diferença básica dos vestuários é quem o usa?

– É.

– Se eu vestir uma batina, viro padre? Se eu usar um vestido, viro mulher?

– Exatamente. Você já viu algum padre usando vestido? Ou alguma mulher usando batina?

– Nunca. 

– E sabe por que?

– Porque a partir do momento que o padre usa vestido, ele vira batina. E quando qualquer mulher traja uma batina, ela passa a ser vestido?

– Exatamente. 

– Imaginemos uma situação hipotética. Se eu fosse uma criança prodígio e, com três anos, ingressasse no sacerdócio e virasse padre aos oito. Com nove, já padre, eu resolveria mudar de sexo. Nessas condições, eu seria um padre-mulher que poderia, em tese, realizar um casamento e ainda atuar como dama de honra na mesma cerimônia. Considerando tudo isso, a pergunta é simples: que roupa eu usaria? Batina ou vestido?

– Acho que camisa de força. 

– Ó lá, os times tão entrando em campo. É hoje que a gente goleia.

– Não gosto de ver essa entrada. Me dá uma tristeza danada.

– Por quê?

– É a segunda maior frustração da minha vida. 

– O que, meu Deus? O que?

– Tá vendo essa criançada que entra com o time?

– Sim, os mascotes.

– Pois é. Eu sempre quis ser um mascote quando era criança. Mas nunca consegui. Quando vejo um time entrar em campo, lembro disso e fico triste.

– Que viadagem. 

– Você acha?

– É, uai! Entrar em campo com um monte de macho de shorts e suados… não sei não.

– Alto lá. Suados, não. Eles ainda não jogaram. Estão secos.

– Tão nada. Eles aquecem no vestiário. Tão tudo melado.

– Tão nada. Um atleta aquecendo é como se estivesse dormindo. Em resumo: não faz nem coceguinha. Estão secos.

– Não fala besteira. Como você pode ter tanta certeza, se nunca esteve lá, se nunca foi mascote?

– Não apela que eu choro. Com frustração não se brinca.

– Tá, desculpa. Mas você disse que não ser mascote é a segunda maior frustração da sua vida. Qual é a primeira?

– Nunca fui dama de honra em casamentos.

– Como?

– Isso. Eu nunca fui daminha. 

– Agora sim, virou viadagem o assunto.

– Por quê?

– Que eu saiba, dama de honra é coisa de menina. E você, pelo que eu saiba, é homem. Quando criança, você deve ter sido menino. Não é isso?

– Sim, fui menino.

– Pois então. Me dizendo que você queria ser dama de honra, eu entendo que você queria ser menina. E, hoje, mulher.

– Não coloque palavras na minha boca. Eu disse que queria ser dama de honra, não mudar de sexo.

– Taí, você tem certa razão. Mas a pergunta natural é: você queria tanto ser dama de honra a ponto de ter que mudar de sexo para realizar a proeza?

– Não. Eu queria ser menino e ser dama de honra. É tão difícil assim entender?

– Mas você não queria ser menina?

– Não. Queria ser dama de honra, mas sendo menino.

– Mas daminha se veste com vestido. Você queria usar vestido?

– Querer, eu não queria. Mas eu queria ser dama de honra. E como para a função é necessário estar de vestido, eu me sacrificaria pelo meu sonho.

– Quem veste vestido é mulher. 

– É? E o padre? Ele usa vestido. 

– Aquilo é a batina.

– Questão semântica. Parece vestido de onde vejo.

– Batina é diferente de vestido. 

– Qual a diferença?

– Quem usa batina é padre. Quem usa vestido é mulher.

– Então a diferença básica dos vestuários é quem o usa?

– É.

– Se eu vestir uma batina, viro padre? Se eu usar um vestido, viro mulher?

– Exatamente. Você já viu algum padre usando vestido? Ou alguma mulher usando batina?

– Nunca. 

– E sabe por que?

– Porque a partir do momento que o padre usa vestido, ele vira batina. E quando qualquer mulher traja uma batina, ela passa a ser vestido?

– Exatamente. 

– Imaginemos uma situação hipotética. Se eu fosse uma criança prodígio e, com três anos, ingressasse no sacerdócio e virasse padre aos oito. Com nove, já padre, eu resolveria mudar de sexo. Nessas condições, eu seria um padre-mulher que poderia, em tese, realizar um casamento e ainda atuar como dama de honra na mesma cerimônia. Considerando tudo isso, a pergunta é simples: que roupa eu usaria? Batina ou vestido?

– Acho que camisa de força. 

Leia no blog de origem: Dois vezes Um

About the author

Rafael Reinehr

Rafael Reinehr é um autodidata eclético. Saiba mais sobre ele em http://reinehr.org/quem-sou