Uma mulher entra para a história automobilística


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Na metade do século 19, dois homens revolucionaram a história do transporte e o mundo conquistou a tão sonhada mobilidade individual: eles eram Gottlieb Daimler e Karl Benz, mas quem fez a primeira longa viagem da história dirigindo um carro foi mesmo… uma mulher.

 

 

"Papai, me empresta o carro?" Lembram da música da Rita Lee? Essa frase a gente conhece. Quando os jovens querem dar uma voltinha no carro do pai e têm que pedir permissão ou senão… pegam o carro escondido e muitas vezes sem a carteira de habilitação. Essa história é tão velha quando a existência do carro e o primeiro “caso” da história aconteceu no século passado, caso que a polícia não registrou, mas que entrou para a história automobilística.

O primeiro carro de três rodas e um cilindro movido a motor causou sensação em 1886, quando as ruas conheciam somente o cheiro dos cavalos. Inseguro em apresentar a sua máquina na exposição em Munique em 1888 e duvidando que ela pudesse ser vendida, Karl Benz pensou seriamente em desistir da empreitada. Mas…

Os primeiros a fazerem uma longa viagem naquela máquina, nas férias de verão do ano de 1888 foi a própria mulher de Karl Benz, Bertha Benz junto com os seus filhos Eugen e Richar, 15 e 14 anos respectivamente. Sem que o marido soubesse, pegaram o carro e foram fazer uma visita prometida à mãe na cidade de Pforzheim, que também era uma fascinada pelos veículos. Ah, vocês diriam, “mulher no volante, perigo constante”, ainda mais naquela época. Que nada!

Eles partiram da cidade de Mannheim, terra natal de Bertha Benz, que planejou a viagem em segredo com os seus dois filhos, afinal os meninos sabiam como por a máquina em movimento. Pé ante pé, empurraram para longe da oficina a carroça motorizada para que o pai, que estava dormindo, não ouvisse o barulho do motor e deixaram um bilhete na porta da cozinha: “Nós viajamos para casa da avó em Pforzheim”. Não deixaram claro “como” eles iriam viajar e nem disseram do “teste do carro”. O caminho até lá era tortuoso e passava pelas cidades de Ladenburg , Heidelberg via Wiesloch. Imaginem que naquela época as estradas eram construídas para passar cavalos e carroças e não carros.

 

Ih, o combustível acabou!

E como o tal carro poderia ser abastecido? O motor de 2,5 HP à 500 rotações por minuto funcionava com gasolina leve, (de 75 até 85 octanos) denominado “Ligroin”, nome mudado mais tarde para “Gasolin”, mais fácil de pronunciar. Era uma mistura à base de parafina que servia para as lâmpadas de iluminação, mas também utilizado para limpezas químicas e remoção de manchas. Eles levavam uma reserva de combustível vendido, naquela época, em farmácias e pequenas lojas. A farmácia da cidade de Wiesloch foi a salvação para o reabastecimento do carro. Até hoje a farmácia e a cidade são conhecidas por terem abrigado “o primeiro posto de combustível do mundo”.

 

A rebimboca da parafuseta

Quem disse que mulheres não entendem de carro e mecânica? Os imprevistos técnicos durante a viagem foram solucionados com a inteligência de Frau Bertha: um condutor de combustível foi desentupido com um grampo do chapéu e ela evitou o desgaste das velas envolvendo-as com suas meias. O carro tinha somente 2 marchas, sem potência suficiente para se deslocar nas subidas; a solução era descer e empurrar. Foi assim que surgiu a proposta de uma terceira marcha, feita por ela, e que foi integrada nos novos modelos. Sugestão de uma mulher!

O medo dela era de que os freios na descida não agüentassem, por isso eram renovados pelos… sapateiros das pequenas cidades por onde passava. Isto mesmo, sapateiros, aqueles que consertam sapatos, isso era possível, pois os freios, acionados por uma alavanca, eram de… couro.

Na chegada em Pforzheim eles estavam sujos da cabeça aos pés. A avó os recebeu atônita. Enviaram um telegrama para o senhor Benz: “A primeira longa viagem bem sucedida e chegamos bem à cidade de Pforzheim”. Ufa!

A cidade de Pforzheim estava em polvorosa e todos os parentes queriam dar uma volta no tal carro. Frau Betha e os filhos só puderam partir 3 dias depois. Foram os 106 quilômetros mais famosos da história automobilística. A cidade deu o nome ao “carro” de “Benzine”, nome que hoje é utilizado na Alemanha para denominar a gasolina.

Os agricultores, porém o denominaram de “Hexenkarren” ou carro de bruxa e apedrejaram e bateram no carro com chicotes, imaginando ser coisa de outro mundo. Durante a viagem, eles tiveram muitas vezes que parar no caminho e desligarem o motor para que as carroças passassem, pois não havia meio de acalmarem os cavalos. Cães e galinhas também sofreram ataques do coração.

Bem, três dias depois chegaram de volta em casa são e salvos., após demonstrarem ao mundo a eficiência dos motores. Seu marido, claro, estava com o coração nas mãos, mas orgulhosíssimo de sua mulher e de seu feito.

Bertha Benz não era a “grande mulher atrás de um grande homem”. Sempre otimista e acreditando na genialidade do marido, ajudou a financiar o projeto colocando dinheiro na firma, salvando-o da ruína. Incansável dizia: “As pessoas compram somente coisas que conhecem”. Dito e feito. Bertha fez um enorme sucesso ao fazer o percurso e ganhou a confiança dos futuros compradores, que não mais puderam duvidar da capacidade daquela máquina dirigida pelo “sexo frágil” e dois adolescentes.

A história se espalhou como fogo e o projeto ganhou credibilidade e conseqüente sucesso econômico e financeiro para a firma. Sem Bertha Benz e sua viagem, com certeza a história da mobilidade individual motorizada e os progressos tecnológicos de hoje seriam atrasados em alguns anos.

Em 1963 aconteceu a primeira comemoração dos 75 anos da viagem de Bertha Benz, denominado aqui de “Bertha Benz Fahrt”. Os amantes de carros antigos organizam a cada 2 anos um evento com o percurso de 106 km no mesmo trajeto que Bertha Benz fez em 1888 de Mannheim a Pforzheim de 2 a 4 de agosto.

Este ano serão comemorados de 01 a 3 de agosto os 120 anos da famosa viagem que hoje é considerada um feito da emancipação feminina. Tão famosa quanto o marido a Bertha Benz tem o seu nome registrado na história automotobilística.

Infelizmente não tenho nenhuma foto original para ilustrar o artigo, pois todas estão protegidas pelos direitos autorais, mas vocês poderão apreciar os modelos no site: “A primeira mulher no volante”, (em alemão).

 

Fonte: Bertha Benz Fahr

Mercedes-Benz Deutschland

Die Berlinerin/die Illustriert

Die erste Frau am Steuer- Bertha Benz schrieb Automobilgeschichte wie ihr Mann.

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Solange Ayres