A descoberta da América, parte 5: o longo caminho para Las Vegas


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Para quem gosta de colocar o pé na estrada e cruzar grandes distâncias de carro, quase nunca o trajeto mais curto é o melhor caminho. O navegador indicava uma distância de 460 km desde a locadora de carros em Los Angeles até o hotel que havíamos reservado em Las Vegas. Em nosso tortuoso caminho, rodamos 553 km – quase 100 km a mais. Por certo o percurso extra valeu a pena.

Para quem gosta de colocar o pé na estrada e cruzar grandes distâncias de carro, quase nunca o trajeto mais curto é o melhor caminho. O navegador indicava uma distância de 460 km desde a locadora de carros em Los Angeles até o hotel que havíamos reservado em Las Vegas. Em nosso tortuoso caminho, rodamos 553 km – quase 100 km a mais. Por certo o percurso extra valeu a pena.

Como ainda teríamos alguns dias em Los Angeles no fim da viagem pela Califórnia, decidimos sair da cidade assim que chegamos. O primeiro desvio em nosso nada óbvio caminho até Las Vegas foi a Mulholland Drive. Trata-se de uma estrada não muito larga que cruza as montanhas de Santa Mônica, oferecendo belíssimas vistas da cidade de Los Angeles, do vale de São Fernando e do gigantesco letreiro de Hollywwod. Com mais de 30 km de extensão, a rua é repleta de curvas e mansões. Enorme a lista de celebridades com casa ali: Jack Nicholson, Marlon Brando, Warren Beatty e Annete Bening, Faye Dunnaway, Demi Moore e Bruce Willis, Mary Tyler Moore, John Lennon, Madonna.

Cruzamos depois o vale de São Fernando pela rodovia CA170. O trânsito pesado fluía bem pela rodovia de doze (sim, doze, seis de cada lado) faixas, todos os motoristas com o piloto automático na velocidade limite da estrada. Aqui cabe um parêntese: nas highways norte-americanas, a prioridade é o deslocamento sem interrupção. Poucas as saídas, e é proibido parar no acostamento (a não ser, óbvio, em caso de problemas mecânicos). Anda-se devagar (velocidades permitidas na faixa dos 100 a 120 km/h), mas se mantém um ritmo, graças ao piloto automático; por isso, as viagens acabam sendo mais rápidas que no Brasil, onde se corre mais em alguns trechos mas com freqüência é preciso reduzir a velocidade.

Saímos da highway e pegamos outra série de estradas de pista simples e nomes bucólicos: Sierra Highway, Agua Dulce Canyon Road, Soledad Canyon Road. Esse desvio cruza bonitas montanhas em paisagens semi-desérticas e foi cenário da estréia de Steven Spielberg no cinema em 1971: Duel (no Brasil, Encurralado), excelente e muito imitado suspense onde o motorista de um carro é perseguido sem motivo aparente por um enorme caminhão em estradas de pouco movimento e bela paisagem.

Voltamos então à rodovia – desta vez, a CA14, rumo a Palmdale. Nesta cidade, fizemos a primeira parada para comprar algo para beber: por ingenuidade, paramos em uma das populares “liquor stores”. Literalmente, saí correndo: a vizinhança parecia ser barra-pesada; na loja, apenas bebidas alcoólicas (em grande variedade), cigarros, snacks de aparência duvidosa e o rapaz do caixa, protegido atrás de vidros a prova de bala. Uns poucos quilômetros depois, paramos em um decadentíssimo shopping center, várias lojas abandonadas e as poucas que funcionavam direcionadas para o público de imigrantes mexicanos. Assustador, mas logo estávamos na estrada novamente.

Mais um pouco e estávamos em Victorville. Mais uma vez optamos por uma estrada vicinal: um trecho da famosa Route 66, carinhosamente chamada pelos norte-americanos de “Estrada-Mãe”. Por 50 km dirigimos na pouco movimentada estrada, que não oferecia grandes paisagens. Vez por outra no asfalto, o dístico “66” pintado em letras brancas. Seguimos até Barstow e ante a falta de atrativos da 66, voltamos para a rodovia – desta vez, a Interstate 15, que segue direto para Las Vegas. Mais tarde, já no Brasil, descobri que os poucos quilômetros da 66 que deixei de percorrer em Barstow eram justamente o trecho mais interessante da estrada na região…

Logo após Barstow, um pequeno desvio nos leva à Calico, uma remanescente cidade fantasma do velho oeste! Ainda que seja uma parada obrigatória para quem segue para Las Vegas, a verdade é que a cidade é bastante fake e basicamente orientada para a venda de souvenires aos turistas.

De volta à Interstate 15, estávamos agora em uma enorme reta, cruzando o deserto de Mojave. A viagem em si é bonita para os olhos: as montanhas ao longe, a imensidão da estrada a rasgar o horizonte. Surpresa: pegamos chuva em pleno deserto! Chuva mesmo, pois não se tratava de um delírio como os de Hunter S. Thompson fazendo o mesmo trajeto em seu genial "Medo e Delírio em Las Vegas". Nós, que estávamos sóbrios, ainda assitimos às gotículas d’água caprichosamente proporcionarem um bonito arco-íris em pleno Mojave.

Cruzada a divisa estadual de Califórnia e Nevada, surgem os primeiros cassinos. Jogadores insaciáveis podem parar e ficar jogando ali mesmo. Ou andar mais 70 km e torrar o dinheiro em Las Vegas, tema do artigo seguinte.

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Ricardo Montero