Corpo existencial e fisioterapia – continuação


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Foucault, em seus discursos reflexivos sobre as diversas maneiras nas quais os homens elaboram, na sociedade ocidental, um saber sobre eles mesmos ao longo da história, analisou as várias ciências como entre outros “jogos de verdade”, ciências estas colocadas como técnicas específicas para os homens compreenderem aquilo que são(1).

O cuidado de si eclipsado pelo conhecimento de si no mundo moderno em contraparte com o da antiguidade greco-romana onde “conhece-te a ti mesmo” é conseqüência de “cuida de ti mesmo”. A medicina, e por estar imersa nesta, a fisioterapia, como advinda destas origens e utilizada para o bem-estar psico-fisico-social tem sido discutida nesta seqüência de textos como possibilidade nesta incursão de uma agora pessoa-corpo-sujeito que vem em busca destes cuidados. O fisioterapeuta apresenta-se como possibilidade de espelhar fielmente o mundo da pessoa-sujeito, refletindo-lhe as cristalizações do existir no/para o mundo(2).

É comum a frase: “eu me olho no espelho mas não me reconheço…esta não sou eu”, ou ainda, o paciente-sujeito não reconhece em si mesmo uma escoliose mesmo quando levado a realizar testes que comprovem o que ocorre no organismo. Como já discutido anteriormente por Levi Leonel(3), o organismo não transparece no cotidiano afetivo a não ser acidentalmente ou fortuitamente, quando o real do corpo, em seus tecidos e órgãos, é alçado ao social.

Dessa maneira, numa terapia onde inclui-se o cuidado suficientemente bom, um olhar refletido da situação que se apresenta, cria-se a possibilidade para o paciente-sujeito apresentar-se de fato ao mundo, no caso fisioterapeuta, e este, refleti-lo, e ainda, reconhecer o reflexo. O fisioterapeuta pode integrar um mundo “entre quatro paredes”(4) deste paciente-sujeito, interpelando-o em sua relação da carne com o corpo, este corpo que a princípio, teoricamente, é organismo, matéria viva, tecidos vivos, e a partir de um certo período na historia deste individuo, passa a ser interpelado em corpo, imantando um discurso e construindo uma existência num mundo pré-existente e não-dado. Entendemos assim, que o organismo é chamado á vida social, tornando-se corpo, corpo-sujeito, regido pela linguagem.

Corpo-sujeito que é projeto, falta, desejo de, sempre a fazer. O contato do fisioterapeuta com este corpo-sujeito se dá num momento onde a realidade do corpo separa-o do discurso, do projeto de existir, pedindo uma intervenção pelo discurso existencial, levando-o ao restabelecimento de uma continuidade, a uma vida viva.

 

1. Foucault, Michel. “Historia da sexualidade (As técnicas de si)”.

2. Jean-Paul Sartre em sua obra “O ser e o nada – Ensaio de Ontologia Fenomenológica”.Petrópolis, RJ. Editora Vozes, 2002, 12ª. Edição.
3. Leonel, Levi em “Pensando o Corpo Existencial: fragmentos de estudo”, 16 de março de 2008, nesta coluna.
4. "Huis Clos", 1945. Tema original da peça teatral escrita por Jean-Paul Satre.

 

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Vanusa Barboza