O branco desnutrido


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A cor branca, ou a anticor branca, é um mistério em sua pálida possibilidade de ser completa, de ser tingida, tisnada, engravidada com o mínimo tom colorido acima de sua ausência. Mas a cor branca é unicamente a união de todas as cores, então ela é uma camuflagem, ela proteje quem nela habita. Quem sobre ela planta ou arranca as raizes da linguagem, seja ela na forma de literatura, de artes plásticas, de cinema com seu roteiro, de música com sua partitura, é alimentado por sua nova forma. Ninguém se alimenta do vazio, da ideia encanecida, sempre de algo que faz, além do estômago, a alma salivar e escorrer seu sumo criativo.

Líter e -fagia, dois elementos comparativos tão sonoros quanto os gritos das minhas intenções com este espaço, tão silentes quanto os suspiros das palavras carnais que ainda pulsam e se abrem em novos significados. Líter, referente às letras, à escrita, ao mundo visual desses símbolos pelos quais nos comunicamos e nos deixamos cair em abismos de prazer intelectual. Seguido por -fagia, ação de alimentar-se, que denota nutrição, ou mais subjetivamente, uma ação sem a qual não se vive.

Literofagia não está no dicionário, não foi um termo inventado por mim, mas pensado por mim sem nunca ter passado por meus olhos. Talvez uma escolha facilmente construída, mas com poucos resultados se você fizer uma busca na internet. Existe o termo “literomania”, a mania de escrever, de ser literato, assim como “literofobia”, a aversão às letras, mas eu não me encontro no primeiro porque manias são automáticas, e de autômato já basta o tempo, e menos ainda no segundo, quando prefiro ter medo do medo às escrituras.

Literofagia é um espaço para discussão de livros, autores, estilos literários, influências, processos criativos, o fazer do escritor, o uso da palavra escrita e revolvida, destruída e reconstruída, a ideia dissecada, cortada em fatias ou rodelas, mastigada – ou vomitada, se ruim, se perdeu o tempero porque perdeu o acento agudo. Para mim, a escrita, a leitura, tudo o que envolve a palavra impressa, a exposição de pensamento impressa e repensada, a ficção – para mim, tudo isso é alimento, e o branco ainda não mexido, ainda não invadido, ainda não alterado pela ação da escritura, é um prato vazio, onde a poeira da ideia é o refugo da ignorância ou da preguiça. Eu quero um branco rasgado pela cor da literatura e de suas nuances, quero um banquete onde os livros são a comida, os olhos são os talheres, os dentes que mastigam, os dedos que escrevem.

Rasguemos os guardanapos, quebremos as taças e com os cacos de cristal, cortemos os pulsos do breu criativo. Bom apetite.

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Alex Sens