Consumo: o propósito de cada coisa e nosso livre arbítrio


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Como homus-economicus que somos, temos necessidades de consumir coisas para nossa sobrevivência. Somos a única espécie a princípio que faz isso. O consumo está ligado não só a nossa alimentação e outras necessidades básicas, mas principalmente ao conforto que buscamos em nossas vidas.

As tecnologias nos poupam tempo. Mas o que fazemos com esse tempo? Aproveitamos para algo maior? Ou será que nos envolvemos apenas em atividades de lazer e auto-servidão, buscando incessantemente saciar a nós mesmos e nossos desejos?

Os meios de transporte como o carro e mais tarde o avião, foram criados com o propósito de facilitar os deslocamentos, fazendo com que perdessemos menos tempo nos deslocamentos entre nossas casas e o trabalho, supermercados, locais de lazer, etc. Pouco tempo depois, o carro é adquirido mais pelo status que ele proporciona e seu conforto, do que para o transporte. O propósito portanto foi desfigurado. A preocupação passou a ser o conforto, os equipamentos, a tecnologia e não mais a função pela qual ele foi criado. Isso aconteceu e continua acontecendo com tantos outros produtos de consumo.

Quais as implicações de desviarmos o propósito de algo? É nisso que poderíamos parar um pouco e refletir.

Utilizando novamente a analogia do carro (poderia ser qualquer outra produto), quando mudamos o propósito, toda a orientação de design e engenharia do produto também muda. Vamos a um exemplo. Nos EUA os conhecidos como SUV (Sport Utility Vehicle) rapidamente conquistaram os consumidores. Carros robustos, feito para ser usado tanto nas condições normais das cidades, quanto em locais como o campo (e será que alguém utiliza mesmo para isso?), com motores potentes e muitos com recurso de tração nas quatro rodas. Como o propósito do veículo que era de transportar, passou a ser outro (conforto, robustez, status), os designers e engenheiros dotaram esses carros de tecnologias e recursos, acabando por construir carros que custam caro e consomem muito combustível, além de serem dotados de diversas tecnologias e materiais sem preocupações quanto a eco-sustentabilidade.

Nós como consumidores deveríamos estar atentos a essa perspectiva. Olhar um produto, gostar dele, se “apaixonar” por ele, é claramente uma atitude emocional bastante distante da racionalidade necessária para encarar as coisas sob uma nova perspectiva.

O suficiente e o "mais que suficiente"

Quando passamos de consumidores de sub-existência (estou criando o termo aqui caso ele não exista) para consumidores de conforto e luxo, passamos a comprar e ter coisas com atributos além dos que seria necessário, buscando na maioria das vezes produtos cujo propósito foi alterado ao longo do tempo por grandes e engenhosas campanhas de marketing.

O ato de desviar a atenção humana para o propósito de cada coisa – muito utilizado pelas campanhas publicitárias – apelando para o lado emocional, foi uma receita encontrada para fazer com que passássemos a criar desejos de posse e dependência de produtos os quais vão além de seu propósito original, ou mesmo já o desfiguraram completamente. Ainda que o lado da psicologia humana consiga explicar essas necessidades que embutimos em nosso consumo, há um preço a ser pago por isso e esse deveria estar bem claro para nós, muito antes de consumirmos.

Com a nova onda de produtos verdes (“green produtcs”) e da preocupação das empresas em se adequarem à uma nova tendência de comportamento do mercado consumidor, pode ser que tenhamos algumas mudanças. Mas é ingênuo pensar que todo tipo de produto ou negócio pode ser sustentável. Alguns deles são desde o princípio anti-naturais e agressores do meio-ambiente. Ainda que surjam tecnologias, processos e materiais que tornem esses produtos mais “verdes”, eles continuarão ameaçando a sustentabilidade do planeta.

Seja como for, do outro lado sempre estaremos nós, com nosso dinheiro, nosso livre-arbítrio, decidindo o que comprar, quanto comprar, de quem comprar e o quanto pagar por cada coisa.

Tarefa para um Mundo 2.0

Vale a pena começar a pensar no que consumimos:

  • De onde vem?
  • Quais processos utiliza?
  • É ou não nocivo ao meio-ambiente?
  • O que essa empresa está fazendo para atenuar os impactos que ela causa?
  • Devo mesmo comprar esse produto? Preciso dele? Em qual quantidade?

Ao invés de depender da boa-vontade de governos e empresas, bem melhor seria usar seu poder de escolha e livre arbítrio para fazer as melhores escolhas para o planeta, e em conseqüência, para você mesmo e todos nós.

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Paulo Ricardo Colacino e Lício