Da Escola ao ENEM, do passado ao Pink Floyd.


Warning: array_rand(): Array is empty in /home/opensador/public_html/wp-content/themes/performag/inc/helpers/views.php on line 280

Notice: Undefined index: in /home/opensador/public_html/wp-content/themes/performag/inc/helpers/views.php on line 281

alt

Quem queremos formar? Cidadãos, aberrações ou máquinas de decorar fórmulas químicas e matemáticas? A educação do Brasil é um problema amplo e antigo, que não vale a pena aqui esmiuçar. O intuito é ser irônico. Tão irônico ao ponto de elevar o ENEM ao patamar de termômetro de nossa educação. Nos finais de ano pululam nos jornais e noticiários a nossa evolução em IDH´s, taxas de analfabetismo, números de crianças matriculadas em escolas primárias e em progressões continuadas. Os números maquiam a realidade – famintos trajados de estudantes e analfabetos funcionais concluindo o ensino fundamental ciclo I. A culpa de tudo isso é um mix de sociedade, pais, alunos e profissionais da educação – mesmo aqueles com todo um arcabouço teórico, calcados nas mais “quentes” teses da pedagogia, que acusam alguns de antiquados e acomodados, sendo eles os primeiros a servirem a mesma engrenagem. Aos alunos cabe a ideia fixa de tirar uma nota, aprender? – claro que não!, o importante é ter um bom boletim repleto de notas azuis. O Maio de 68 não nos está longe apenas no tempo e no espaço, mas também está em espírito. Muitos dos “intelectuais” que militaram nesse ano, fazem parte da alta cúpula da educação que assiste tudo a isso como um entretenimento barato. O ENEM (exame nacional do ensino médio) é uma mistura de vergonha, decepção e inutilidade – um exame que examina o quê? – sua capacidade de decorar e regurgitar o que decorou? Numa analogia, se a educação – e a escola brasileira – fosse um muro (wall), o martelo seria o Pink Floyd para derrubá-lo. A música “Another Brick In The Wall” é um verdadeiro soco no estômago dos educadores, não apenas britânicos, mas de qualquer nacionalidade. A Legião Urbana também ajuda a entender essa questão: em primeiro apresentando o estágio atual dos jovens e adolescentes (“e há tempos o encanto está ausente, e a ferrugem dos sorrisos”) – apatia, comodismo, alienação. Não se trata de mudar o mundo numa “utopia” ou “dispotia” – para ser mais irônico – mas sim mudar o próprio destino, ou o microcosmo de convivência, sua escola, sua sala de aula. O que fazem os alunos? Jogam “Uno”, ouvem música no celular de última geração ou lêem livros de bruxos ou vampiros teens.

altalt

 

Assim, não haverá um novo 68, mas sim um novo 64 – ou 84, sabe-se lá qual é pior. Segunda lição “legiãourbaníca (sic)”: “depois de vinte anos na escola, não é difícil aprender, todas as manhas do seu jogo sujo, não é assim que tem que ser”. A escola é um lugar alienante e tirânico (na maioria das vezes), onde há um explícito confronto entre alunos e professores – verdadeiros inimigos, adversários. Todo esse sistema coercitivo é anti-educacional, não funciona. Provas rígidas, onde os alunos são colocados em fileiras como soldados (inclusive também são uniformizados), olhando fixamente suas provas, sem poder trocar ideias, debater, exercitar suas mentes. O nervosismo trava o cérebro, bloqueia o conhecimento e a decoreba. Essa forma não tem dado nenhum resultado, apenas números – que servem de vitrine para FMI, Banco Mundial, ONU e seus braços UNICEF e UNESCO. Isso gera não-cidadãos, pessoas incapazes de avaliar um programa político, de votar com coerência (se é que é possível), de exercer seus direitos – e como disse Jack London, de “viver, e não apenas existir”. Nossa educação forma mão-de-obra barata, profissionais mal remunerados, porque não há interesse em formar críticos e pessoas questionadoras, leitores ou subversivos. John Nash no filme “Uma Mente Brilhante” diz em uma cena, “que a educação formal nubla e mente e castra toda criatividade espontânea”. E é exatamente isso que fazem as escolas brasileiras. 

 

Roger Waters escreveu:

“Nós não precisamos de nenhuma educação. Nós não precisamos de nenhum controle de pensamento”.

“Professores, deixem essas crianças em paz”.

“Em suma, você é apenas um outro tijolo no muro”

“Errado, faça de novo!”

 

 

alt

alt

 

Esses são os versos de “Another Brick In The Wall”, canção escrita em 1979 – mas que como uma profecia, nos mostra exatamente o retrato de nossa atual situação. Imposições, perseguições, incômodo, é isso que sentem alguns alunos ao adentrarem um recinto que deveria ser como uma segunda casa. O controle de pensamento é muito evidente no atual sistema educacional. Os livros didáticos sangrando mentiras apoiadas pelo governo – as bibliotecas cheias de vazio, de espaços vazios nas prateleiras. Usar outras fontes que não as oficiais, é totalmente contra as regras de Oceania – métodos heterodoxos e anti-convencionais também não são tolerados. Professores que tentam abrir mentes são vistos como subversivos, muitos alunos também não querem ver a coisa com outros olhos – têem medo do conhecimento, de olhar para o lado, de se desamarrar. Isso é como um anti-Ícaro, ou um anti-Prometeu. Enquanto isso o governo vai nos dando pistas de sua ingerência educacional, patinando pelo segundo ano consecutivo no seu “exame” mais bem acabado. É essa conexão que paralisa o processo verdadeiro de aprendizagem – pois as escolas apenas se preocupam em preparar os alunos para o ENEM e para os vestibulares – e as universidades cospem trabalhadores munidos de diplomas, rédeas e força braçal. Se esse é o futuro da nação, bem-vindos ao admirável mundo do ENEM – onde jovens são felizes com alto número de acertos e políticos aptos a assumirem cargos com um mínimo número de acertos.

 

 

 

About the author

Marlon Marques Da Silva

Humano, falho, cético e apenas tentando... Sou tio, fã de Engenheiros do Hawaii, torço pro Santos F.C. e não me iludo com políticos e religiosos e qualquer discurso de salvação. Estudei História, Filosofia, Arte, Política, Teologia e mais um monte de coisas. Tenho minha opinião e embora possa mudar, costumo ser aguerrido (muito) sobre ela e geralmente costumo ir na contra-mão da doxa.