Século XXI – A Era do Tecnonarcisismo


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Narciso na fonte de Caravaggio Um fenômeno ainda não muito bem estudado nos dias de hoje diz respeito ao alto grau de especialização característico da sociedade contemporânea e à forma auto-inflada com que os atores desta peça posicionam-se no palco.

Narciso     Um fenômeno ainda não muito bem estudado nos dias de hoje diz respeito ao alto grau de especialização característico da sociedade contemporânea e à forma auto-inflada com que os atores desta peça posicionam-se no palco.

    A tecnologia, do grego techne, significa o conhecimento, a arte ou a técnica necessárias para a criação, para a produção de mudanças no mundo natural. O narcisismo, derivado do mito grego de Narciso, denota uma excessiva admiração que nutrimos por nós próprios, uma tendência anormal e excessiva para sentir prazer na contemplação da própria imagem . Pois é justamente da união destes dois radicais gregos que encontramos a definição ideal do que hoje se representa aos nossos olhos: especialistas utilizando-se de seu conhecimento técnico para alimentar seu próprio ego e, munidos de um status conquistado ou "arranjado" (falsamente insuflado pelas modernas ferramentas da propaganda e do marketing) garantem para si um alívio ilusório e anestésico para as angústias da modernidade.

    Esta tendência – que de nova não tem nada, já podia ser vislumbrada na época em que mecenas patrocinavam pintores e artistas para produzirem obras para seu deleite e estes, elevados ao posto de artistas de destaque da época garantiam a comida no prato e a tranqüilidade de seus espíritos (não havia ainda o moderno conflito entre arte remunerada e arte desvinculada de interesses financeiros)- volta hoje a todo vapor mas com nova roupagem.

    Nowadays, qualquer tipo de conhecimento técnico – inclusive o de uma língua como o inglês, utilizado no início desta sentença – é passível de ser utilizado como meio de posicionamento e status. Enquanto o conhecimento acumulado só faz crescer, destacam-se aqueles que, em nichos específicos, conseguem apreender o máximo em menos tempo e comunicar isso àqueles interessados no nicho em questão.
Do ponto de vista profissional, os mais aptos “sobrevivem”, dando credibilidade à cartilha pregada por Charles Darwin. Entretanto, na Sociedade da Hipercomunicação, o acesso indiscriminado à internet favorece o surgimento de numerosos charlatães – “especialistas da boca para fora” – que confundem o incauto internauta ao fazer-se passar por legítimos detentores do conhecimento em busca de uma massagem no ego e, pilantragicamente, uns tostões no fim do mês.

    Ainda não há como tecer previsões precisas sobre qual boca de esgoto estes detritos irão desembocar, ou se, dobrados sobre si próprios se poderá acrescentar duas fatias de queijo e uma porção de molho tártaro e fazer deles um sanduíche reforçado capaz de alimentar as próximas gerações. O que se sabe, de antemão, é que esta tendência encontra-se em clara expansão e que muito ainda se ouvirá falar dos tecnonarcisistas do século XXI.

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Rafael Reinehr