Acerca dos multiterritórios


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Os multiterritórios se assemelham a um grande e transbordante caldeirão de bruxa em intenso turbilhonamento, mistura da mistura em loop: “… orelha de cobra, pó de asa de morcego, com uma pitada de dedo de aranha” – é tudo feitiço!

 

Os territórios, conforme Guattari, quer sejam eles existenciais, geográfico-políticos, socioeconômicos, musicais, semióticos, não são extintos, se transformam. Arrastam-se e são arrastados no contínuo devir do mundo.

 

Olho ao redor e percebo a cidade e as subjetividades em meio aos aterros e lixões, passando ao lado dos condomínios de luxo e dos espigões. O morro cortado pelas vias de trânsito rápido. A nossa pseudo-Autoban é um grande queijo suíço.

 

E os carros, quantos carros! Quanto mais rápidas estas máquinas de locomoção, mais máquinas e maior a comoção. Quanto mais destas máquinas, menos movimento e maior a lentidão. Tenho a suspeita de que hoje em dia os nossos carros produzem mais pressa e poluição do que movimento. A pressa segue como inimiga das velocidades. Você pisa fundo, acelera, mas não sai do lugar.

 

Também temos as fabulosas máquinas de voar que hoje disputam mais os espaços de estacionamento nos aeroportos do que nos ares. E com a prática rasteira do overbook, que de literatura nada tem, estas máquinas de voar não saem do lugar e nós somos mantidos com os pés atados ao chão.

 

Muitas Igrejas instalaram seus templos e efeitos especiais onde antes tínhamos salas de cinema e parte da produção cinematográfica nacional segue pelas vias da espetacularização da favela, da polícia… antes faziam isso com o nordeste do Brasil.

 

Religião, do “religare” ao frenético liga-desliga, zapeando com o controle remoto na mão: Há mais pastores e padres eletrônicos, reality shows e jornais policiais na TV do que propagandas comerciais, o que mudou? Nada em grandes proporções, apenas aumentou-se o investimento em merchandising. E ao mesmo tempo é difícil diferenciar o que assistimos, pois no baile de máscaras, os discursos se assemelham.

 

Assistimos também à imoderada produção em série de celebridades. É provável que tenhamos hoje mais celebridades do que seres humanos, até porque, estas, de humano quase nada têm. Além disso, temos as celebridades digitais e seus indefectíveis avatares, algumas inclusive sob a forma holográfica em 3D a emocionar platéias aglomeradas em estádios de futebol, vide Hatsune Miku no Japão. (leia mais sobre isso em post recente no NewNomadology)

 

It’s evolution, Babe! A Academia pulverizada pelas soluções em educação fast food, os vídeos e músicas que não podem ter duração superior a três minutos. Os livros que não podem ser de papel – seria isso uma alergia, ou outro tipo de alegria?

 

E nas práticas de consumo, até os golfinhos se engalfinham, nadando apressados pelo assoalho dos oceanos, portando suas sacolas de plástico, pois não querem perder a liquidação total dos sete mares.

 

Enquanto isso, as subjetividades, que não podemos entender por estáticas, tampouco por algo já dado e exclusivamente internalizado, mas sim como processo sempre inacabado, estão por aí, pelas esquinas, onde encontros acontecem, não acontecem ou estão para acontecer. Cartografá-las, só se for para mantê-las em movimento. Há resistência, no sentido de invenção de modos de existência, conforme Deleuze, Guattari e Foucault, quando processos de subjetivação se dão em meios que não têm a Vida a se deixar de fato viver como prioridade.

 

Disciplinamento, docilização de corpos, formas de controle e ao mesmo tempo fissuras, rupturas, frestas, saídas, deslizamentos, quantas palavAras!

 

Os multiterritórios ainda conservam suas torres panópticas convivendo com formas de controle a céu aberto, será que a revolução não vai mesmo ser televisionada?

 

*imagem do golfinho extraída daqui.

 

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Rogério Felipe