O Mito da Cerveja Quente


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Há muito, muito tempo, numa época em que para mim a Alemanha só existia nos filmes e livros de história, ouvi dizer que os alemães bebiam cerveja quente. Porém, nessa mesma época, meu conhecimento sobre o tema cerveja era bastante limitado. Após experimentar umas três ou quatro marcas, decidi beber sempre Skol ou Antártica e não quebrar mais minha cabeça com isso.

Ah, e claro, a cerveja devia estar devidamente gelada, este sendo um quesito simples que de fato ajuda qualquer um a engolir o tal sumo amargo sem digladiar-se com o senso de bom gosto. Com o passar dos anos, acostumei-me ao amargo da cerveja, mas nunca tornei-me sua fã ardorosa. Ainda hoje, após experimentar diversas marcas, e acima de tudo, diversos tipos de cervejas alemãs, não me tornei uma devota da bebida, mas pelo menos consigo entender porque os alemães, no fim das contas, realmente bebem cerveja “quente”. No entanto, não se pode esquecer de que este “quente” é relativo, já que estamos falando de beber cerveja na Alemanha e não no Brasil.

E é quente mesmo? – Como dito, o quente daqui é relativo devido à temperatura local e também à qualidade da bebida. Cerveja tipo Pils, essa à qual estamos acostumados no Brasil, é sempre servida gelada (mas não congelada!). Já as outras qualidades da bebida – Helles, Weizen, Dunkles, Starkbier – bastam estar frias, não quentes, mas frias, para fazer um freguês satisfeito.

E por que não precisa ser “gelada”? – Isso é possível por dois motivos: primeiro, o clima daqui é na maior parte do tempo tão “refrescante” que ninguém suportaria beber uma cerveja realmente gelada. A meu ver, no inverno já é difícil engolir as frias, então imagine uma cerveja “estupidamente” gelada descendo sua garganta enquanto lá fora a temperatura está abaixo de zero. Eu por exemplo prefiro um chazinho a uma dor de garganta. Mas os alemães nunca renegam uma cervejinha devidamente “fria” nem no inverno. Agora, o segundo motivo, claro, está relacionado ao tipo de cerveja. O tipo preferido do brasileiro – ou simplesmente, o mais vendido e encontrado nos supermercados brasileiros – é a cerveja tipo Pils, que de acordo com fontes não oficiais, deve ser servida mais geladinha que as outras. Portanto, fora essa exceção, qualquer outra cerveja pode e é servida fria, a temperaturas que chegam no mínimo a 6°C e 7°C, como indicado no próprio frasco das cervejas.

Uma curiosidade – No inverno basta deixar as cervejas por uma meia hora na varanda ou sacada para que fiquem no ponto. Tem gente que se satisfaz em colocá-las num corredor sem aquecimento, ou melhor ainda, no porão, para que adquiram a temperatura adequada. Os porões costumam ser tão frescos que mantém qualquer bebida refrescante o ano todo – mas não para o gosto do brasileiro, claro. E para quem curte acampar ou fazer picnics regados a álcool, basta imergir o engradado no rio ou lago mais próximo e pronto, está garantida a cerveja fria para acompanhar o churrasco.

Copinhos e copões – Alemão gosta de tirar sarro dos copinhos minúsculos que usamos para beber cerveja no Brasil e que em contraste com os típicos copões alemães – que chegam a comportar até um litro de cerveja – realmente parecem brinquedo de criança. E nesse caso, a temperatura ambiente também se responsabiliza pelo tamanho do copo. No Brasil a cerveja precisa ficar protegida do calor nos invólucros de isopor, e quanto menor o copo, maior a chance de seu conteúdo ser sorvido antes que este se aqueça inadequadamente. Já na Alemanha, as temperaturas frias – e amenas no verão – são menos agressivas e permitem o uso dos tais copões, sem proteção alguma. É claro que o restinho de cerveja no fundo desses ultra-copos não tem gás, nem frescor, muito menos sabor, mas tem nome próprio – Norgerl, um termo, digamos, bem bavariano! – e deve ser engolido por uma questão de honra, que só sendo da raça desse povo para entender! Portanto, depois de tanta explicação, por fim o alemão realmente bebe pelo menos uma pequena porcentagem de sua cerveja literalmente quente.

E os refrigerantes? – Ah, esses merecem um capítulo a parte!

Foto: Ariadne Rengstl

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Ariadne Rengstl