A utopia de ontem ainda alimenta o amanhã?


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Este artigo toma como referencial um breve balanço do movimento estudantil e as utopias de 1968 com as atuais. As suas limitações e o porvir, já que não se pode saudar o de ontem sem perder de vista os horizontes do movimento atual envolto em outro contexto social.

    As portas do século XXI não parecem ser alento para as inquietudes de uma geração que nasceu sem uma possível alternativa a uma sociedade de mercado que engendra uma vida privada resoluta e o público associado ao Judas da pós-modernidade: a política. A vida moderna de 1968 tem inspirado as gerações atuais que ainda pensam em uma sociedade melhor, mais humana, democrática, socialista.

    É verdade que os estudantes de hoje precisam trabalhar mais, pois dois terços se encontram em faculdades privadas, boa parte com mensalidades caras e vazias de ensino, pesquisa e extensão. Estes asseclas de um mundo porvir estão espalhados pelos pátios afora, ainda pensam em revolução, mas se adaptam aos ventos democráticos pelo qual dezenas de milhares não conseguiram ver nem um sopro por detrás das grades do regime militar brasileiro.

    Nos dias de hoje podemos apontar diversas características do movimento estudantil atual: o lúdico como motivador de ações políticas, debate intenso de políticas públicas e reivindicações de caráter acadêmico-administrativo; lutas políticas em defesa de uma ética na política; encontros de área que pensem o papel social da profissão e sua inserção no mercado de trabalho, dentre outros.

    Limitações são visíveis no movimento concernentes a suas práticas políticas e dinâmicas de sociabilidade, contudo, os caminhos do século XXI, segundo o sociólogo polonês Zigmunt Bauman, é a marcado pelos “derretimentos dos sólidos” da modernidade e o ocaso das revoluções sistêmicas e a incapacidade de grupos tomarem o seu controle tanto por condições estruturais da modernidade como pela reconfiguração do indivíduo: para o autor há uma nítida escassez de pessoas que desejam ser revolucionários e abrir mão de planos individuais.

    Na contramão, o movimento estudantil ainda depreende corações e mentes dispostas a participar mais da vida política do país e pensar o amanhã. Ganham-se horas nos seus fóruns debatendo soluções a problemas tamanhos. Os partidos ainda são atores fundamentais para dar visibilidade institucional ao movimento, bem como um organizador e educador das vontades coletivas e individuais.

    Contradições à parte, o movimento estudantil não é campeão de bilheteria no mundo neoliberal de alcance global, assim como os movimentos sociais que amplificam os explorados dos últimos dois séculos, contudo, um dos espaços que toma para si o “dever ser” do cidadão ativo na esfera pública, é o movimento estudantil, que mesmo com suas reconfigurações não nos permite saudar o de 68 em detrimento do atual.

    Não achemos escalafobético ver um estudante que defenda o socialismo e beba coca-cola, nem naturalizemos caricaturas novelescas que classificam o estudante como um neurótico, provido de raiva e rebeldia incapazes de dialogar com o “mundo real”.

    Enfim, sejamos felizes em saber que utopia de ontem ainda alimenta o amanhã, saudemos o maio de 68 e que tal cuidarmos mais da vida pública do que o carro zero, o lar ideal, o celular do futuro e outras futilidades que só fazem nos entreter num mundo descaracterizado de nós mesmos? Voltemos à primavera de 1968 para melhorar os dias de hoje?

* Bacharelando em Ciência Política pela UFBA e pesquisador de iniciação científica pela mesma instituição.

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Cláudio André de Souza