História da Arte faz algum sentido?


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Arte não é Ciência, e sendo assim, será que algo como “História da Arte” faz algum sentido? Será que o trabalho de um pintor do século XXI anula a obra de todos os pintores anteriores a ele? E o modo como classifico Goya ou De Chirico realmente tem importância? Os professores da História da Arte dizem que sim. Já este escriba acha que não…

O que me cai às mãos, ou mais apropriadamente, o que tenho diante dos olhos pela primeira vez é novo para mim. Isto é um fato que no mais das vezes deixamos de lado em favor de uma construção histórica aparentemente mais sólida e mais correta, mas que não corresponde ao modo como conhecemos as coisas.
Um certo alemão afirmou: o mundo é minha idéia.
Ele nasce comigo e morre comigo, não tem mais do que a minha idade, portanto. Esta percepção da realidade é a base da minha compreensão da arte, e, neste caso, da pintura. Desse modo, Cimabue pode ser um pintor mais recente do que Mark Rothko, Rothko mais recente do que Anselm Kiefer, e Duccio di Buoninsegna o mais moderno de todos.
Essa abordagem não me parece ser muito corrente ao se falar de arte, nem por conservadores, nem por vanguardistas. Ambos preconizam uma rígida construção histórica, os primeiros alicerçados no passado, os últimos no futuro.
Mas que sentido pode ter isso ao nível do indivíduo? Tenho que falar da minha experiência pessoal.
Sou filho legítimo do milagre econômico dos anos 70s, num contexto em que a arte simplesmente não existia, e meu primeiro contato com a pintura foi com 7 ou 8 anos de idade, quando meus pais, percebendo que eu gostava muito de desenhar, resolveram colecionar os fascículos da famigerada coleção Gênios da Pintura, da Editora Abril. Momento mágico, marco zero da minha verdadeira educação, e início da minha danação, o que não vem ao caso.
E o primeiro pintor que conheci foi Renoir. E depois Manet e Monet (vê-se que era o volume do Impressionismo). E Degas foi o primeiro de quem realmente gostei. Seguiram-se todos os outros impressionistas, e os pós-impressionistas, e então… Giotto e Roger Van Der Weyden.
Resumindo uma narrativa que está ficando longa: na minha História da Arte, a pintura não começa com o caçador-xamã de Altamira, nem com Apeles, nem com Giotto: Renoir é o início de tudo. renoir_a_leitoraPor mais que hoje eu saiba dos séculos que distanciam A Descida da Cruz de A Leitora, na minha história, a moça de olhos baixos entretida com seu livro é a imagem primeira da pintura. Os anjos em agonia, o Cristo morto e sua mãe que chora é obra posterior, e dela não compreendi nada na época, devo confessar.
E isso tudo porque o mundo é minha idéia. Que nasce e morre comigo.
Se isso sempre foi verdadeiro, hoje é mais. Com a internet, entramos na Biblioteca de Babel daquele argentino cego.
Imagine alguém que se senta pela primeira vez diante de um computador conectado à rede e tem diante de si a infinita cacofonia de informações que a web lhe oferece. E imagine que essa improvável personagem seja um neófito em pintura e esteja ávido por conhecer mais. Ele percorrerá o caminho que os professores de História da Arte determinam, com aquela certeza que é exclusiva dos catedráticos e dos ignaros? Ou será que, indisciplinado que é, começará por um expressionista, seguirá para um barroco, passando por mais uma meia dúzia de pintores que ele não tem a menor idéia sobre o modo como são classificados, mas que achou que eram espantosos e maravilhosos?giotto_lamentacao_do_cristo
Eu não tenho resposta, mas como também sou indisciplinado e caótico, tendo a achar que o sujeito construirá sua própria e personalíssima história da arte, no mais das vezes mais rica e interessante do que a dos eruditos doutores, mais preocupados em classificar Goya como barroco, neoclássico ou romântico, ou como se pronuncia corretamente “Vermeer”.
E, para encerrar essa história, e sendo muito franco: saber como se deve rotular o autor de Saturno Devorando Seus Filhos ou qual a pronúncia correta do nome do autor de O Astrônomo faz alguma diferença sobre o modo como eu aprecio ou não a obra desses sujeitos?
Responda você, meu caríssimo leitor…

 

 

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.