O problema Mondrian


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Mondrian é um ótimo exemplo de como a teoria pode estar afastada da realização prática de um artista.

Vejo a obra de Mondrian como um problema. Vejo Mondrian como um problema. Interessante, é verdade. Mas sempre um problema.
Mondrian foi um artista tremendamente coerente, e seu pensamento é talvez o mais claro entre todos os pintores modernos. Necessita-se saber da sua ligação com a Teosofia para entender sua reflexão e sua prática.
Resumindo uma história que pode ficar muito longa: para Mondrian, as linhas ortogonais traziam em si todas as outras relações possíveis entre as linhas, e as três cores primárias, o vermelho, o amarelo e o azul, abarcariam todas as cores possíveis existentes. Utilizando-se apenas desse instrumental, Mondrian construiu sua obra. Linhas ortogonais, cores fundamentais e puras produziriam imagens que seriam a culminância de toda a história da arte.
Quando li seus textos, quando fui conhecer um pouco mais sobre a tal da Teosofia, entendi melhor sua obra, e não pude deixar de admirar sua extraordinária coerência. Mas…
E se deixarmos de lado toda essa teorização e considerarmos apenas o resultado dela, que são justamente suas telas? O que temos?
Vou dizer o que penso que sobra: belíssimos quadros decorativos, que ficavam muito bem nos halls de entrada de sofisticados apartamentos de pessoas muito sofisticadas e modernas nos anos 40s e 50s. E só.
Sendo muito franco, não consigo intuir, a partir das suas telas, todo o cosmos e seu desenvolvimento, como pretendia Mondrian. Vejo apenas aquilo o que realmente são: inócuos quadros decorativos. Não há porque condescender em relação a isso porque Mondrian pregava, como muitos outros artistas, que os problemas levantados por seus questionamentos deveriam ser resolvidos plasticamente, nunca no campo do pensamento. Justamente nesse ponto é que tudo desanda, tanto o pensamento quanto a prática: Mondrian começa a parecer um dogmático bastante grosseiro ao colocar como certas determinadas reações aos estímulos fornecidos por seus quadros (que foram concebidos de antemão e não durante a execução; é importante ressaltar isso no seu caso): ao tentar equilibrar aquilo o que é objetivo com aquilo o que é subjetivo através das já citadas linhas ortogonais e cores primárias, a emoção seria espontaneamente criada. Difícil pensar que essa conclusão não seja dogmática ou arbitrária.
Aqui, faço minhas algumas palavras de Francis Bacon: a arte abstrata transmite emoções muito aguadas, porque, na verdade, qualquer forma pode fazer isso. De certo modo, não passam de padronagens. Não quero generalizar e afirmar que toda a arte abstrata é débil: Rothko e Tàpies são pintores absolutamente intensos e dificilmente eu consideraria a arte deles como simples padronagem ou decoração inofensiva. Entretanto, tendo a considerar que bons pintores abstratos são extremamente raros e constituem exceção.
E Mondrian, a meu ver, não é uma dessas exceções.
Chamei-o de problema porque é muito interessante acompanhar sua linha de pensamento em seus textos e o modo como resolveu sua problemática em seus quadros, e a distância enorme que há entre a teoria e a prática, mesmo num sujeito tão coerente quanto Mondrian.
Não vejo o universo todo implícito em suas telas, como ele esperava que naturalmente acontecesse. Pode ser uma limitação minha, sem dúvida. Mas, foi pensando sobre as questões que sua obra suscita que acabei por achar que a arte, a verdadeira arte, aquela que é mais profunda e que me toca mais intensamente é aquela que passa pelas vísceras, e não pela mente. Acho que foi isso o que Cézanne quis dizer ao afirmar que, caso pensasse enquanto pintava, seu trabalho estaria arruinado. O espírito não pinta, quem pinta é o corpo.

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.