Kevin Carter: o dilema de um fotógrafo ante a fome na África

Abutre, Kevin Carter

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Kevin Carter tornou-se célebre ao documentar a fome na África. Sua mais famosa foto, vencedora do prêmio Pulizer de 1994, mostra a inanição de uma desnutrida menina sudanesa, observada por um abutre a pouca distância. A imagem, chocante, chamou a atenção para a questão dos famintos da África e trouxe à baila um questionamento moral quanto à atitude de não envolvimento por parte de fotojornalistas.

Nascido na África do Sul em 1960, Kevin Carter começou sua carreira de fotojornalista na área de esportes. Em pouco tempo abandonou as competições esportivas e integrou-se ao Bang-Bang Club, quarteto de fotógrafos que se celebrizou pela cobertura dos últimos dias do apartheid na África do Sul, desde a libertação de Mandela em 1990 até a primeira eleição democrática do país, em 1994.

As imagens produzidas pelo grupo – além de Kevin, Greg Marinovich, Ken Oosterbroek, e João Silva – raramente eram divulgadas na África do Sul, uma vez que o governo exercia controle sobre a imprensa. Obtiveram, porém, enorme aceitação no exterior, o que rendeu fama e prêmios internacionais aos quatro fotógrafos.

Em 1993, Kevin e João Silva encontravam-se no Sudão, cobrindo o genocídio de tribos cristãs por tropas do governo. Ao testemunhar o horror da falta de alimentos, passaram a fotografar os famintos e desnutridos. Kevin já havia feito algumas fotos de uma esquálida menina que agonizava quando notou a aproximação de um abutre. Fez nova foto e enxotou a ave.

 

Abutre, Kevin Carter

 

Esta imagem foi vendida ao The New York Times e publicada em março de 1993. Posteriormente estampada em numerosos jornais e revistas de todo o globo, por certo chamou a atenção do mundo para o problema da fome na África, mas paralelamente levantou uma outra questão: o que fez o fotógrafo em favor da criança?

Ante a questão, Kevin mostrava-se atordoado, inclusive oferecendo diferentes versões para os fatos. Por conta do risco de doenças, os jornalistas eram advertidos a não tocar nos famintos. Ainda assim, Kevin confidenciou a amigos que se arrependia de não ter socorrido a menina.

Em abril de 1994, Ken Oosterbroek foi morto em ação, sendo atingido acidentalmente por forças de paz na periferia de Joanesburgo. Dias depois, Kevin foi agraciado com o Pulitzer por conta de sua foto da menina e do abutre.

Em uma noite de julho de 1994, Kevin dirigiu seu carro até o rio Braamfonteinspruit, uma área em que ele costumava brincar quando criança. Estava atormentado por seu envolvimento com drogas, pela falta de dinheiro, pela morte de seu amigo Ken, pelas críticas recebidas sobre a foto vencedora do Pulitzer. Prendeu na janela do passageiro uma mangueira, ligada ao escapamento do carro. Escreveu então um bilhete de despedida:

“Estou deprimido… Sem telefone… Sem dinheiro para o aluguel.. Sem dinheiro para ajudar as crianças… Sem dinheiro para as dívidas… Dinheiro!!!… Sou perseguido pela viva lembrança de assassinatos, cadáveres, raiva e dor… Pelas crianças feridas ou famintas… Pelos homens malucos com o dedo no gatilho, muitas vezes policiais, carrascos… Se eu tiver sorte, vou me juntar ao Ken…”

Acabava assim a carreira de um fotojornalista extraordinário.

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Ricardo Montero