Então é Natal


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Então é Natal é a melhor canção de toda a história humana. Música e letra se combinam numa unidade inquebrantável, sublime e delicada, humana e contundente. A versão da letra em português, de autoria de Cláudio Rabello, deixa no chinelo a letra original de John Lennon. Seus versos são insuperáveis na melodia, na criação de imagens e nas ideias e emoções por eles geradas. Analisemos com algum cuidado:

Então é Natal, e o que você fez?

Um início surpreendente e um tapa na cara da sociedade: o que você fez, pergunta-nos Rabello, através de Simone, dando mostras da avalanche de questionamentos que está por vir.

O ano termina, e começa outra vez

Preciosa nota filosófica que se segue, de intenso caráter reflexivo e de originalidade sem par. Pensadores futuros gastarão quantidades extraordinárias de tinta e papel para dar conta dos mistérios contidos nessas sete palavras.

Então é Natal, a festa Cristã

Uma severa definição. Para não deixar dúvidas do que se trata. Os pagãos que se explodam, esses ímpios safados, com suas ideias extravagantes de que o Natal é a cristianização do Yuletide ou de coisa que o valha. O 25 de dezembro é data do nascimento de Cristo, de Cristo que é o nosso salvador, e ponto final. Macumbeiros que se arrependam enquanto é tempo.

Do velho e do novo, do amor como um todo

Uma incitação ao congraçamento das gerações, algo como o velho PMDB saudando o novíssimo MDB. Um amor assim… geral, grandão. Um amor aglomerado.

Então bom Natal, e um ano novo também

A coragem da bonomia, um toque de gentileza que acaricia o ouvinte. Neste mundo de trevas em que habitamos, a honestidade do indivíduo de coração puro que nos deseja o bem desarma o mais cínico dos ouvintes.

Que seja feliz quem souber o que é o bem

Quase um truque, quase uma armadilha urdida pelo poeta Rabello: quer a felicidade? Quer? Conheça o bem! Entendeu? Conheça! Conheça!

Então é Natal, pro enfermo e pro são

Pro rico e pro pobre, num só coração

Nesses dois versos, de maneira precisa e informal, Simone reitera a perpétua validade dos valores cristãos. Um duradouro sentimento de igualdade e fraternidade inunda nossos corações.

Então bom Natal, pro branco e pro negro

Amarelo e vermelho, pra paz afinal

Em tempos de intolerância como os nossos, um chamamento, uma incitação à paz! Impossível ficar indiferente depois de ouvir esses versos cantados com tanta emoção e verdade por Simone.

Harehama, há quem ama

Audácia extrema, convite ao ecumenismo, rima riquíssima! Impossível esgotar os tesouros presentes em “Harehama, há quem ama”. O micro-cosmo se unindo ao macro-cosmo, em harmonia serena, sob a égide de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Então é Natal, e o que você fez?

O ano termina, e nasce outra vez

A canção, de modo magistral, faz-se espelho da Criação: tudo é um ciclo, o fim é o começo, o começo é o fim. Os versos retornam, revividos e ressignificados.

Hiroshima, Nagasaki, Mururoa, há…

As luzes não se percebem sem as sombras, o eterno não se reconhece sem o efêmero, eis a razão de ser desse potente e inesperado verso.

É Natal, é Natal, é Natal

O que dizer de semelhante fechamento poético, meu caro leitor?

É Natal, é Natal, é Natal!

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.