Húbris: os deuses não perdoam

João Dória e sua turma

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Os políticos são ciosos de sua imagem. Vivem dela.

Alguns supõem-se especialistas, já que vieram do show business. Cuidam da própria imagem com zelo e, não poucas vezes, é apenas isso o que fazem.

Existe também a húbris, a ambição desmedida que é punida pelos deuses. Não raramente, o político moderno, totalmente consciente e ativo na construção da própria imagem, sucumbe à húbris como se fosse um novato inexperiente. Ambição, arrogância e vaidade combinados soterram a razão com facilidade.

Claro que me refiro ao inacreditável João Dória, fictício alcaide da cidade de São Paulo e cobiçoso candidato à presidência da República em 2018.

O dono da inconcebível revista Caviar Lifestyle zela da própria imagem como poucos políticos o fazem, homem de televisão que era, ou é, sabe-se lá. E, atento à contemporaneidade, usa a rede social com desenvoltura e talento de criatura midiática. Um maldoso poderia dizer que seu mandato é exercido virtualmente apenas, gerando imagens e slogans com grande potencial viralizante (não por acaso, é apoiado pelos exóticos e histéricos liberais do MBL). O Dória que acorda cedo e dorme tarde, o Dória travestido de gari, simulando a varrição de uma rua qualquer, o Dória que comanda a destruição da cracolândia… Tenta passar a imagem de gestor, de homem de ação que veio do empresariado e que não transige com os métodos viciados dos políticos tradicionais. Vende a ideia de que é o novo.

Até certo ponto, a coisa estava funcionando. Muitos brasileiros passaram a acreditar que o empresário feito político representava uma novidade no panorama da política brasileira. Viam suas publicações no Facebook, reportagens sobre ele nos jornais, televisivos ou não, e criam que o moço vestido à maneira de playboy maurício estava a fazer um belo trabalho na prefeitura paulistana.

Mas, eis que Dória não consegue controlar a própria ambição, a própria arrogância, a própria vaidade. Vê a oportunidade de lançar-se candidato ao cargo maior passar diante dele, sedutora e perfumada. Impossível resistir, impossível escapar da húbris.

João Dória Júnior sai em virtual campanha pelo Brasil afora, iludido pela névoa inebriante que o cerca, criada pelos deuses, é certo. Briga com a imprensa que o critica. Aliás, briga e ofende a qualquer um que o critique. Comete ações desastradas, como seus atos higienistas, como a divulgação do “alimento abençoado”, a ração para humanos que batizou de Farinata.

Coroando o desastre, dois vídeos são exumados e passam a circular pelas redes sociais. Num deles, demofóbico que é, exibe sua indisfarçável sociopatia. Afirma, sem rodeios, sobre os hábitos alimentares dos que não compram a Caviar Lifestyle: “Hábitos alimentares? Você acha que gente humilde, pobre, miserável, lá vai ter hábito alimentar? Você acha que alguém pobre, humilde, miserável infelizmente pode ter hábito alimentar? Se ele se alimentar, ele tem que dizer graças a Deus”. Isso foi dito quando detonava um participante do reality show que apresentava.

E noutro vídeo, bem mais engraçado, o genial Chico Anísio, já em 1988, quando o novinho João Dória era presidente da Embratur (ele que nunca foi político), sintetiza à perfeição o pensamento do prefeito de São Paulo, chamando suas ideias de “repugnantes”.

Húbris.

Os deuses não perdoam.

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.