Sobre capas e charutos


Warning: array_rand(): Array is empty in /home/opensador/public_html/wp-content/themes/performag/inc/helpers/views.php on line 280

Notice: Undefined index: in /home/opensador/public_html/wp-content/themes/performag/inc/helpers/views.php on line 281

Quem usa capa no século XXI?

Usam capa no século XXI personagens fantásticas do universo pop, como Batman, Thor e Superman, e indivíduos concretos de um país mítico da América do Sul, como desembargadores e ministros dos Supremos Tribunais.

Super-Homem de um lado, Ministro de um Supremo Tribunal do outro. Ambos muito poderosos.

São essas as personagens que usam capa no século XXI.

Simbolicamente, poderíamos comparar a capa ao charuto. Freud (ou não) nos alertou que um charuto, muitas vezes, é apenas um charuto. Mas Freud tratava do mundo real. Numa terra mítica, como esta que se situa na América do Sul, um charuto é sempre aquele algo mais: ereto na boca, grosso e comprido, feliz e mau como um pau duro, acendendo-se no escuro (Caetano). Além disso, não é coisa para qualquer um: é preciso ser alguém para ter tanto cacife quanto contatos para possuir um estoque adequado de Cohibas. A capa, por certo, também acende algumas coisas no escuro. E, sem dúvida, também é preciso ser alguém para possuir cacife e contatos para vestir a capa. É coisa do bicho macho alfa, mesmo quando se é mulher.

Como aqui se trata das coisas dos mitos, tudo possui um sentido oculto, e que é o verdadeiro sentido das coisas.

Nestes lugares de fantasia, o cerimonial é muito importante. A execução de uma performance grandiloquente e cheia de dignidade é sempre necessária, pois através dela admiração, respeito e até mesmo temor são dispensados pela população aos homens e mulheres investidos do Poder.

Poder: outra palavra que une os que usam capa. São portadores de poder. Thor é dotado de força sobre-humana, pode voar e controlar as tempestades. O Ministro do mítico país tem o poder de dispor como bem entender da liberdade alheia, além do poder supremo, que é tornar o país mítico da América do Sul um lugar mais feliz para seus amigos, que também são portadores do poder.

Quando os vemos reunidos, sempre há pompa. A pompa característica dos países da América do Sul e do Caribe, tão suntuosa quanto ridícula.

É triste fazer a escavação arqueológica dessas imagens, dessas performances, e chegar onde sempre chegamos: num estrato que ainda fede a casa grande e senzala. Não por acaso, este arremedo de presidente, este conspirador que tanto obrou para sentar no trono que agora ocupa, é cavalheiro anacrônico que faz uso das defuntas mesóclises. Claro, desde muito cedo, desde seu berço no meio jurídico, aprendeu que o melhor expressar-se é o da linguagem dos rábulas, dos juristas, dos advogados de outrora, e de hoje também, que uma corporação jamais abdica do próprio poder. É a linguagem pervertida, cifrada, dos homens do Direito que escolheram fazer sua fortuna servindo aos poderosos. São os decifradores dos códigos esotéricos que são os documentos jurídicos, homens e mulheres que desatam os nós que atrapalham o caminhar Johnny Walker dos homens e mulheres que fumam Cohibas.

Quem usa capa no século XXI?

About the author

Marcos Schmidt

Marcos Schmidt é designer gráfico e ilustrador. Vive e trabalha na irremediável cidade de São Paulo.