Entrevista realizada com Rodrigo Bouillet – Coordenador de Rede do Cine Mais Cultura


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Entrevista realizada com Rodrigo Bouillet, Coordenador de Rede do Cine Mais Cultura. Realizada dia 23 de novembro de 2010.

 

[Paty] 1. Como começou seu interesse pelo cinema?

 

[Rodrigo] Não foi um começo glorioso, indo a um cinema de rua de mil lugares assistir algum filme que se tornaria um grande clássico de início de anos 80. Minha dieta cinematográfica até a faculdade sempre consistiu em muita (muita!) Sessão da Tarde e raras idas ao cinema ver algum filme americano de aventura ou terror. Eu só fui surpreendido pelo cinema quando entrei na Universidade Federal Fluminense (UFF). No curso de Publicidade (depois eu fiz Cinema), logo no primeiro semestre, havia uma matéria de tronco comum das habilitações de Comunicação onde o Professor Antonio Serra pediu aos alunos um estudo comparativo entre “Terra em Transe” (filme de Glauber Rocha, do ano de 1967) e “Vidas Secas” (filme de Nelson Pereira dos Santos, do ano de 1963). Foram duas exibições e a aula era de 8 da manhã ao meio-dia. Foi onde tudo mudou. Foi onde vi que podia se fazer, pensar outras coisas com o cinema, e resolvi cair de cabeça nessa história de imagem em movimento.

 

[Paty] 2. Já participou de cineclube antes de ingressar na faculdade de cinema?

 

[Rodrigo] Nem sabia que isso existia. Conheci dentro da faculdade.

 

[Paty] 3. E sua articulação direta no movimento cineclubista, surgiu como?


[Rodrigo] Na faculdade, participei de um cineclube em 2002, projeto do Professor Tunico Amâncio. Fora da faculdade comecei a participar em 2003, no Cineclube Tela Brasilis, com exibições na Cinemateca do MAM-RJ. Neste mesmo ano de 2003, teve a Jornada Cineclubista de rearticulação. Eu não fui, tava totalmente por fora.

Em 2004, teve a primeira Jornada Nacional Cineclubista de fato após uns 15 ou 20 anos sem nenhum encontro deste tipo. Naquele momento as primeiras informações passaram a chegar via e-mail, o número de cineclubes aumentava, as reuniões no Rio entre cineclubistas tornavam-se mais freqüentes, os cineclubistas que foram à Jornada estavam muito entusiasmados e procuravam outros cineclubistas para passar as informações e, por fim, foi fundada a ASCINE-RJ (Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro).

Era louco para participar das reuniões da ASCINE-RJ, mas meu cineclube não tinha uma postura clara sobre o que queria ou como poderia colaborar com o movimento cineclubista organizado. No finalzinho de 2005, acertamos os ponteiros internamente e passei a freqüentar os encontros.

Em 2006 fui à jornada nacional (de cineclubes). Até então, a ASCINE-RJ existia como fórum, mas não como Associação. Quero dizer, não tinha diretoria, etc. Voltamos (da jornada cineclubista) com muito gás para tocar a Associação para a frente. Em agosto do mesmo ano já fazia parte da diretoria provisória, como Diretor Administrativo.

Em abril de 2007 fiz parte da primeira diretoria de fato, aí como Diretor Geral. Não cheguei a completar o período de 2 anos, pois em setembro de 2008 fui convidado a participar da ação Cine Mais Cultura, do MinC.

 

[Paty] 4. Toda organização tem fragilidades, quais são os pontos mais frágeis no movimento cineclubista nacional hoje?

 

[Rodrigo] Vejo como maior fragilidade o movimento ter se articulado de cima pra baixo. É engraçado pensar que essa mesma característica foi quem possibilitou toda a reorganização. Afinal, em 2003, como reunir antigos e novos cineclubistas concentrados em poucas iniciativas em algumas das capitais do país, mas sem comunicação entre si? Enfim, tudo tem que começar de algum lugar, não é?

 

Toda preocupação do pessoal da “velha guarda”, de forma muito legítima, foi alargar a base e gerar um conforto para essa base operar. Veio a Programadora Brasil, em 2006. Teve um edital pra equipamento de cineclube, sem coordenadoria ou acompanhamento, no mesmo ano de 2006. Em 2008 veio o Cine Mais Cultura, com equipamentos, oficina, filmes, acompanhamento, enfim, o combo completo. Veio a campanha dos direitos do público. Houve uma grande luta na parte da revisão dos direitos autorais, que o cineclubismo teve grande influencia nesta revisão.

Hoje em dia, existem os cineclubes sem apoio de políticas públicas, como existem os diretamente beneficiados. Tem também os pontos de cultura que exibem e que ganham equipamento multimídia. Existem, também, as praticas cineclubistas que não são cineclubes, como SESC, SESI, centros culturais. Digo isto porque a organização nestas práticas cineclubistas não existe com uma autonomia de organização e programação, é um funcionário que está à frente da ação.

Assim sendo, o alargamento da base com um relativo conforto de exibição deixou o movimento cineclubista grande, disperso, com diversas iniciativas que não estão dialogando. Há várias dificuldades físicas e virtuais a contornar. Acredito que, atualmente, o desafio seja criar algum jeito de juntar essa galera e fazer com que se comuniquem, fazer com que haja ações conjuntas. Há um pequeno grupo de toda essa massa que está conseguindo se encontrar e conversar. Enfim, tudo normal, é algo que se conquista passo a passo.

Além de tornar essa grade quantidade de cineclubes mais organizada, outro desafio do movimento é torná-la mais comprometida com o processo interno de valorização e politização do próprio movimento. O CNC (Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros) assim como as Federações e Associações estaduais, as poucas que existem, têm estatutos. Existe um corpo, uma diretoria e filiados. Acaba que estes estatutos demandam muito da diretoria. Contudo, não há instrumentos estatutários ou de regimento interno que engaje, que dê deveres ao filiado de colaborar com a diretoria. Não existe instrumento que faça com que o filiado beneficiado seja obrigado a colaborar com os esforços do coletivo, justamente para lutar pela manutenção desses mesmos benefícios. Qualquer coisa que exista só garante os deveres à diretoria, ficando tudo em suas costas.

 

[Paty] 5. Algum comentário sobre o ECAD e a nova lei de direitos autorais?

 

[Rodrigo] A consulta pública a proposta da nova Lei do Direito Autoral já encerrou. Então, mobilize seu Deputado Federal, seu Parlamentar, porque o bicho vai pegar no Congresso.


[Paty] 6. Quer deixar algum recado?

 

[Rodrigo] Esse negócio do equipamento de exibição chegar até diversos tipos de grupos, de lugares tão distantes das capitais, sendo que muitos destes grupos nunca praticaram cineclubismo antes de serem contemplados por um edital (como uma associação de moradores, por exemplo), é algo fenomenal. Qualquer um poder organizar seu cineclube, tornar-se protagonista, integrar-se a uma rota de comunicação e apoio, de articulação da cidade, do estado e do país que comporta interesses distintos que se somam, constituindo uma grande frente cidadã.

Acho que, no momento, a grande missão é tornar o movimento mais bem informado sobre as possibilidades de mudanças estruturais do cineclubismo, do audiovisual e da cultura no Brasil para, a partir daí, revisarmos todos os nossos conceitos, pois cada nova contribuição que chega faz a roda continuar a girar.

 

About the author

Patrícia Louzada dos Anjos

Com planos irrealizáveis desde 1983, possui o ser humano como foco central de suas atividades. É bacharel em comunicação social, com habilitação em cinema e vídeo, e especialista em comunicação digital. Escreve como vício e estuda por compulsão. Usa linux, comemorou seu casamento com um bolo de padaria e inventa estórias para sua filha comer.