Manter atitudes e espaços de liberdade em meio a uma sociedade torturada pela ânsia de controle e exploração. (Contra a presença do exército nas escolas públicas do RS) .


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Diariamente se desfaz um pedaço do disfarce “democrático”, máscara de ilusão, que encobre a face degradante de um sistema baseado na injusta e infame hierarquia de poder (enraizada na exploração). No Brasil essa máscara está em farrapos.

Sobrevivemos em um modelo doentio de sociedade onde multidões são hipnotizadas por ideologias que alimentam a estupidez, o egoísmo exacerbado, a falta de interesse pela busca de conhecimento; ideologias que protegem os interesses da classe dominante ao mesmo tempo em que propagam valores úteis para manter a situação “da forma como está”.

Brasil é um lugar privilegiado por riquezas naturais, fontes abundantes de matéria-prima, sugadas constantemente pela cobiça de parasitas que controlam o globo e apostam no jogo político institucional, enquanto isso, para a imensa população do país, sobram as migalhas e a triste sina de ser, há tempos, multidão iludida, dividida, incitada a lutar contra si mesma. Trabalhadores que conseguem empregos onde os salários ultrapassam um pouco a média, olham com desdém para os demais de sua própria classe, seguindo os preconceitos e toda a imbecilidade que a grande “mídia privada de massa” espalha intensamente, vinte e quatro horas por dia.

A cultura gerada pelo modo de produção capitalista (e que ao mesmo tempo o mantém vivo), alimentando a competição, contaminando todos os campos da vida humana e a natureza, transformando tudo em potencial mercadoria, adoece intelectos mais aguçados que não conseguem se adaptar ou encontrar sentido nessa prisão simbólica a qual transforma pessoas em peças de uma máquina que serve apenas aos senhores da cobiça.

A distância entre os muito ricos e a maioria da população no Brasil é abissal; enquanto trabalhadores seguem rotinas estafantes, acordando cedo demais em dias frios, gastando energia muitas vezes em trabalhos entediantes, preocupados se vão conseguir sair do vermelho no banco ou garantir o almoço de amanhã, pagar todas as contas; de outro lado uma elite minoritária vive na opulência que lhe garante “locomover-se no ar” sem dificuldades, não precisando se prender apenas aos limites das fronteiras desse subdesenvolvido território.

Não há real liberdade para a maioria da população nesse sistema maldito! Sobrevive a maioria como rebanho acorrentado, pastando capim ralo, ao lado de idílico paraíso cercado o qual só podem ver do outro lado da cerca.

Mantemos a esperança de que o conhecimento, a arte, a ciência, o pensamento filosófico, possam quebrar as correntes que amarram as mentes de milhões, mas, quando a revolta (consequência do pensar) se manifesta, é muitas vezes reprimida violentamente nas ruas. A liberdade de expressão é ainda tolerada enquanto não representar ameaça aos parasitas no topo da pirâmide. Mas, as ideias podem se espalhar no vento, como sementes que um dia germinarão!

Ainda podemos falar, escrever, criar, e isso não pode ser totalmente controlado pelo sistema, para tal, então, os parasitas propagam o lixo da indústria cultural com muita dedicação, poluindo todos os espaços, gerando uma competição desleal diante da qual o pensamento honesto e sincero, tal como uma planta diante de uma erva daninha, se vê em dificuldades de aflorar ou reproduzir-se gerando novas formas de compreensão da realidade, desvinculadas da podridão mercadológica.

Apesar de todo pessimismo realista diante do que acontece no Brasil, apesar de observarmos a Direita se deleitar no controle do Estado e usar essa arma de forma covarde contra a classe trabalhadora e a juventude, notamos que ainda há possibilidades de resistência e que os velhacos ainda temem alguns espaços onde a autonomia e o pensamento livre podem surgir e se fortalecerem pela interação coletiva, mesmo no meio de todas as dificuldades e empecilhos impostos por governos e pelo Mercado. Um exemplo disso são as escolas públicas onde, mesmo com toda a burocracia estúpida e governos atrapalhando o trabalho de professores(as), ainda há resquícios de liberdade e a possibilidade de pensamento crítico, algo que vem sofrendo ameaças constantes.

Se o trabalho de professores(as) em escolas públicas não fosse uma real ameaça ao sistema, certamente governos e empresas não se preocupariam tanto em atacar esses trabalhadores e fazer o possível para prejudicar o bom funcionamento de escolas, cortando recursos e pagando baixos salários aos trabalhadores em educação.

Podemos sim reconhecer, como já dizia um famoso filósofo francês, que muitas vezes as escolas são pensadas para servirem como braços “disciplinadores do Estado” e para moldarem o comportamento de jovens preparando-os para serem encaixados no padrão exigido pela sociedade, e isso é, também, infelizmente verdade, mas, sempre houve e ainda há exceções, resistências e experiências relevantes de autonomia nesses espaços que são lugares de interação intensa entre pessoas.

Como quem controla o Estado não pode monitorar o interior de salas de aula e censurar o tempo todo professores(as), os espertos “administradores dos interesses da classe burguesa” pensaram formas mais criativas de facilitar o controle e repressão; um exemplo disso são as ridículas e risíveis propostas defendidas por representantes ou simpatizantes (entre os quais parlamentares como o “fascistinha” Marcel Van Hattem, do PP-antiga ARENA-no RS) do lamentável movimento “Escola sem partido” o qual tenta, através da apelativa propaganda ideológica, convencer e colocar estudantes contra professores(as) com discursos ultra-conservadores que lembram uma fase deprimente da história do Brasil.

No RS, além de todos os ataques de um governo formado por uma coalizão de partidos de Direita e Centro (PMDB-PSDB-PP-PSB-PPS-Solidariedade-PV…- com apoio da RBS) que vem parcelando salários do funcionalismo público, congelando salários, descumprindo o que a legislação exige (o piso do magistério jamais foi respeitado “por essas bandas”) ao mesmo tempo em que libera isenções para grandes empresas, benefícios para ruralistas e empresas e nada faz para cobrar os grandes sonegadores (RBS-ZH, milhões em impostos devidos aos cofres públicos) ainda pretende agora ressuscitar iniciativas retrógradas da época da Ditadura Militar e aplicá-las nas escolas públicas dessa unidade da federação: o incompetente governo Sartori deseja agora colocar o exército dentro das escolas para ministrar palestras sobre “moral e civismo” e certamente, também, tentar doutrinar estudantes e amedrontar educadores. Iniciativa absurda a qual precisa ser repudiada com energia!

Forças armadas são, no máximo, um “mal necessário” em um mundo dividido em fronteiras, entre países os quais, por culpa da forma como se organizam (e o capitalismo predominante é um dos fatores), poderiam e podem vir a se atacarem mutuamente ou invadirem terras dos indefesos, o que, na verdade, muitas vezes acontece mesmo sem guerra (o que é facilitado pela disseminação do mercado capitalista globalizado e de ideologias liberais no campo econômico, exemplo disso é o próprio Brasil, subjugado de forma vergonhosa, aos interesses dos EUA e mega empresas de outras nações).

Exército tem a ver com hierarquia, obediência, belicismo e jamais com educação (pelo menos quando se pensa uma educação para a autonomia racional, liberdade, igualdade e não submissão, nessa perspectiva não há espaço para militarismo ou “falso patriotismo” forçado)!

Quando alguns conservadores, de superficiais opiniões, defendem a necessidade de ensinar “valores morais” aos jovens e tomam como referência de “moralidade” o militarismo ou ainda “a religião”(a religião que cultuam, obviamente), demonstram apenas que jamais pensaram seriamente sobre o assunto, que nada sabem sobre Ética (Filosofia Moral) e que os valores que cultivam são os mais cretinos que se possa imaginar, não é atoa que demonstram intolerância agressiva contra a diversidade e pluralidade de visões de mundo e ao mesmo tempo nutrem simpatia pela disciplina punitiva e hierarquias de poder, resignados com as coisas “como estão”, como se nada devesse ser questionado e como se naturais fossem a desigualdade e a exploração.

Professores (as) é que deveriam visitar os quartéis para levarem conhecimento e incitarem reflexão e não o exército nas escolas em um espaço onde não faz o menor sentido sua presença! Da mesma forma colocar o exército nas ruas, como vem acontecendo no RJ, com a desculpa de conter a violência gerada pelas mazelas do próprio sistema falido, demonstra, na “melhor das hipóteses”, apenas uma tentativa ineficiente de controlar a criminalidade (que desconsidera questões e conhecimentos sociológicos básicos), isso se não for mais uma forma de gerar medo na população para evitar manifestações contra um governo corrupto como é o caso do atual governo federal (Temer: PMDB-PSDB-PP-PSC-PV,DEM, etc, apoiado pela mídia privada de massa) e do próprio governo do Estado do RJ (controlado, também, pelo PMDB).

Se há dificuldades nas escolas, isso é consequência de um modelo ruim de organização da sociedade e do descaso de fantoches políticos que controlam o Estado apenas para o interesse da classe dominante. Não é levando um modelo de repressão e manutenção de hierarquia para o interior das escolas que vamos resolver as mazelas da sociedade, não é transformando escolas em “fábricas de padronização de mentes obedientes” que vamos melhorar a situação de uma população castigada pela ganância dos poucos que vivem no luxo gerado pela exploração do trabalho da maioria, mas, é claro que a intenção do governo não é nada positiva e não seríamos ingênuos em esperar outra coisa de partidos que no poder sempre atacam os trabalhadores e sabotam a própria sociedade.

Manteremos aqui, também, a resistência, insistindo em buscar a criação de espaços para autonomia e pensar crítico (não apenas nas escolas, mas, em todo campo possível de ação), repudiando qualquer passo em direção ao retrocesso e controle repressor.

Paulo Vinícius

(Professor de Filosofia e Sociologia; Licenciado em Filosofia Licenciatura Plena; Bacharel em Ciências Sociais; Especialista em Pensamento Político).

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Paulo Vinícius

Paulo Vinícius : Professor de Filosofia e Sociologia; Cientista Social.