A religião corporativa


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Em alguns escritórios existe um comportamento reverenciado pelos chefes e detestado por quem almeja ter vida pessoal além da carreira: a devoção corporativa. É visto como santo aquele que passa horas além do expediente para dar conta até de assuntos que não lhe dizem respeito, é reverenciado como mártir aquele que envia emails de trabalho durante a madrugada e o líder é sempre aquele cara que fala por metáforas e não se envolve diretamente com nenhum assunto que seja do nível sub-diretoria. A religião corporativa tem seus cultos, um dos mais importantes é a reunião. Por várias razões como motivar os funcionários a vestirem a camisa da empresa mesmo que estes não recebam salário justo para comprar as próprias camisas, falar sobre problemas internos de ordem pessoal, planejar negociações ou apenas contar “causos” –  que no mundo corporativo são chamados de “case”.  A reunião é um culto muito importante na vida corporativa, sem elas nada pode funcionar.

O escritório é a igreja da religião corporativa, ali os fiéis se reúnem por motivos diversos, nem sempre com boas intenções. Assim como tem gente que vai à igreja pedir pela saúde de alguém, há quem procure ajuda superior pedindo para o vizinho morrer ou a sogra adoecer e o mesmo se passa no escritório. Há quem vá para encontrar os colegas, para puxar o saco do chefe, para fazer fofoca e cuidar da vida alheia, para arrumar amante e até quem vá para trabalhar. Cuidar do ambiente de trabalho é uma preocupação crescente entre as empresas, talvez tenham percebido que não é possível garantir que o indivíduo cumpra seus compromissos durante todo o dia em que está na labuta, então usam de psicologia quase infantil para lidar com a desmotivação que o trabalho burocrático gera em quase todo mundo depois de algum tempo: Eu te dou um brinquedo e você me obedece. Se não obedecer, não vai mais brincar. É uma atitude que mede o trabalho pelas horas que a pessoa gasta dentro de um ambiente e não pela sua produção real, e as práticas para incentivar o empregado a produzir motivado podem ser úteis ou tornarem-se motivo de piadas.

A inclinação para ter fé e dar o sangue pela empresa vem, basicamente, da possibilidade de realização profissional e pessoal que o empregado pode vislumbrar. É muito difícil estar motivado numa igreja empresa onde haja favoritismos nas promoções, onde a capacidade técnica seja secundária ao marketing pessoal, onde os estagiários não aprendem nada e são humilhados com piadinhas diversas sobre sua função que, muitas vezes, é tão árdua e comprometida quanto a dos efetivos. Ter fé na corporação é menos importante que ter fé em si mesmo, trabalho não significa necessariamente emprego. Alguns fiéis da vida burocrática poderiam avaliar se converter todo mundo ao corporativismo não vai matar a espontaneidade vital para o nascimento das grandes idéias e, consequentemente, dos grandes negócios.

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Lia Drumond