DE CÍRCULOS E ESPIRAIS


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Alguém já falou – e não recordo nesse momento quem foi – que governar é fazer escolhas.
 
Em termos de governos, só existem duas opções: ou se governa em um círculo vicioso ou em uma espiral virtuosa.
 
O mesmo vale para a forma como as pessoas encaram as ações dos governos: ou ficam no fácil plano – ocupado pelo círculo – da crítica rasa, ou procuram ascender na espiral e fazer uma análise mais profunda.
 
Claro que a mídia, interessada que é em que as pessoas não sejam capazes de ir além de uma manchete, instiga nas pessoas o raso “ser contra”.
O caso da realização da Copa do Mundo (e da consequente Copa das Confederações) no Brasil tem sido, usando da velha e batida expressão, paradigmático dessa oposição entre o pensar no plano do círculo e o pensar em espiral virtuosa, ascendente.
 
O pensamento raso é: há tanto por fazer em termos de saúde, de educação, de segurança e outras necessidades do povo, e os governos gastam bilhões na construção de estádios de futebol. Quantos leitos em hospitais poderiam ser disponibilizados com esse dinheiro, quantos hospitais, escolas e prisões poderiam ser construídos com esse dinheiro.
 
E por aí vai… Raso, extremamente raso.
 
Não seria de se exigir que as pessoas que pensam dessa forma tivessem um mínimo conhecimento de economia. Impossível, é claro, em um país onde até pessoas com nível superior de educação formal são consideradas como analfabetas funcionais (apenas 62% das pessoas com nível de escolaridade superior são considerados alfabetizados plenamente. (Veja aqui).
 
Admito que seja complicado explicar, para essas pessoas, a opção tomada pelos governos Lula e Dilma e o quanto eles diferem dos governos anteriores.
 
Há momentos no desenvolvimento do país. Houve, nos governos militares, o entendimento de que o Brasil necessitava de infraestrutura para crescer. Energia, estradas, telecomunicações e uma variedade de investimentos foram feitos para dar o necessário suporte ao desenvolvimento da indústria e, como consequência, do comércio e dos serviços.
 
Claro que tivemos erros estratégicos, como a tentativa de desenvolver a indústria de informática pelo fechamento do país. A intenção era boa, mas a execução foi péssima. Por sinal, um segundo momento no desenvolvimento veio quando o governo Fernando Collor “abriu a economia”. Posta a infraestrutura, era necessário confrontar nossa indústria com o mundo, dar-lhes competitividade e oportunidade para aperfeiçoar aqui que era feito sob a reserva de mercado e que mostra-se, a todos, de péssima qualidade.
 
Um terceiro momento, consequência direta dos dois anteriores, necessitava de uma urgente intervenção: a inflação. Verdadeiro monstro a atormentar a vida de todos. Décadas de investimento em infraestrutura e aprimoramento da indústria foi parar, literalmente, no o saco, no saco da ciranda financeira.
 
E viva FHC! Construída a infraestrutura, aperfeiçoada a indústria, controlada a inflação, estava pavimentada a estrada para os próximos passos. Mas só isso não bastava.
 
Vamos recordar que foi nos governos militares que se deu a reforma da educação e onde começou o desinvestimento nessa área. Os governos seguintes nada fizeram. E em outras a mesma situação. A isso damos o nome de escolha.
 
Dois problemas, no entanto, nunca foram tratados por todos esses governos. O desenvolvimento não era para todos. O bolo crescia mas, diferente do que pregava Delfim Neto, continuava a ser repartido entre os mesmos. Afinal, quem parte, reparte, fica com a melhor parte.
 
E assim como os presidentes anteriores puderam fazer suas escolhas, Lula fez a sua. E fez tão somente porque era o restava fazer: incluir os que até então nunca haviam se beneficiado de tudo quanto fora feito.
 
Mas incluir no quê? Incluir onde?
 
Seguir a falácia de fazer o bolo crescer? Já vimos que quem parte, reparte… Não podemos nos iludir que para tirar pessoas da miséria bastam um punhado de teorias econômicas e um balde cheio de boas intenções.
 
Há que fazer o bolo crescer? Sim. Mas antes há que dar parte desse bolo, do tamanho que estiver para quem nunca recebeu.
Mas basta tirar as pessoas da miséria? Se bastasse, razão teriam os que acusam os programas do governo de serem meramente assistencialistas (e, pior, eleitoreiros).
 
Havia a necessidade de algo muito mais premente: emprego.
 
Emprego significa economia se desenvolvendo. Mas de uma forma diferente das anteriores: é um desenvolvimento com inclusão.
 
Novamente os críticos rasos aparecem: miseráveis foram transformados em consumidores e, em futuro breve, em devedores inadimplentes!
Um dos primeiros efeitos resultantes de ter trabalho é o retorno da consciência da dignidade (antes inexistente, ou quase perdida). O segundo, sem dúvida, é colocar milhões de pessoas no mercado consumidor. Mas isso é positivo, embora as críticas feitas.
 
Esse é o objetivo da Copa: gerar trabalho, emprego e dignidade. E consumo, que gera demanda para as indústrias, que cria mais emprego, que gera mais dignidade… E, assim, coloca-se a espiral a ascender…  
 
Pessoas com emprego e dignidade exigem mais educação, saúde, segurança e, por terem renda, estão contribuindo para que o governo possa dar a eles mais educação, mais saúde e mais segurança… É a espiral rodando e subindo…
 
É tão básico que espanta ver pessoas “esclarecidas” fazendo as críticas que fazem. E, pelo geral, de pessoas que não perderam a sua fatia no bolo. Ao contrário, só lucram com isso.
 
Um próximo momento está a surgir e para ele o governo deve se preparar: acabadas as obras da Copa, o que fazer com os incluídos? O que fazer com o servente de obra que, depois de dois ou três anos trabalhando sustentou sua família?
 
Essa escolha é nossa!
 
Ou seguimos subindo na espiral virtuosa ou retornamos para o círculo vicioso.

About the author

Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!