Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / 11/10/2017 Share 0 Tweet Um amigo de um grupo do WhatsApp me pergunta: “Somos prisioneiros da vida ou existe uma lógica a ser descoberta, uma chave, rumo à liberdade do “espírito”? Algo que permita a qualquer um, ao decifrar, evoluir? Já fizeste essa análise? Te interessa essa discussão?” Minha tentação natural é devolver com três outras perguntas: – o que é liberdade? – o que é espírito? – o que é evoluir? A palavra espírito já veio propositadamente grafada entre aspas porque havia uma conversa no grupo sobre a existência ou não do espírito ou da alma e quais seriam as diferenças entre ambos. Claro que, após citações de todas as espécies, de grandes teólogos a filósofos, além das tradicionais opiniões pessoais, a conversa restou inconclusa. Como era de se esperar. E era de se esperar porque, em geral, as pessoas não se preocupam, antes de um debate, em definir o conceito que está sendo debatido. Debater sobre a existência do espírito deveria passar, antes, pela aceitação de um conceito comum sobre o que seja espírito ou alma, vá lá. Alguns diziam: “eu não acredito em espírito”. Outros que “espíritos existem”. Mas em momento algum foi definido o que é espírito, para, ao depois, cada um expressar a sua crença. Não por outra razão pensei em devolver a pergunta, porque mesmo os conceitos de liberdade e evolução não são de comum entendimento. Contive-me, no entanto, e tentei fazer uma análise considerando que ele tenha partido dos conceitos mais usualmente aceitos para liberdade, espírito e evolução, ou seja, “liberdade” como pleno exercício da vontade, “espírito” como o sopro que dá vida a uma massa inerte chamada corpo e “evoluir” como melhorar, progredir, sair de um estágio inferior e ir a um estágio superior. Analisando sob a ótica das religiões de formação judaico-cristã e mesmo nas concepções ou filosofias orientais, a resposta imediata é: sim, existe uma lógica, uma chave que conduz à liberdade do espírito e essa liberdade é considerada como evolução para quem a descobre. Esse conceito, por sinal, é o cerne das religiões, isto é, oferecer a chave do paraíso ou do nirvana. O prêmio para a conduta conforme com os cânones. De salientar que todos esses conceitos são definições e definições são limitações e, portanto, excludentes. Quem define, delimita. E quem delimita o interior automaticamente exclui o exterior. E daí surge a grande necessidade da criação de um universo “superior”, “externo” à consciência humana. A ligação entre esses universos, interior e exterior, se dá pela criação do conceito de espírito como algo “dado” ao homem por um deus ou por vários deuses e, portanto, perene. A consciência tem necessidade de ser perene, pois não consegue, via de regra, elaborar a finitude. Mas e os absolutamente materialistas como ficam nessa história? Aqueles que conseguem elaborar a finitude sem traumas? Terão o pleno exercício da vontade (liberdade) tolhido? Não evoluem? Feitas essas breves considerações – e que jamais chegarão sequer a sola dos pés dos grandes pensadores do assunto – eu diria que não, não somos prisioneiros da vida, mas da morte, da finitude. É a finitude que nos faz ou aceitá-la ou criar religiões, filosofias, maconhas e milhares de soluções para ela. É a finitude que nos faz acumular riquezas materiais tanto quanto a busca pela riqueza espiritual. Por fim, devolvo uma pergunta que não uma das três que formulei no início, mas: liberdade, espírito e evolução não seriam conceitos intimamente derivados da incapacidade que temos em aceitar a finitude, considerando que (1) o que é finito não tem pleno exercício da vontade (pode desejar não morrer, mas morre assim mesmo) e (2) se é finito não tem espírito, posto que o conceito de espírito é de algo perene e (3) não havendo propagação depois da morte (finitude) não há evolução? Compartilhe isso:Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)Compartilhe no Google+(abre em nova janela)MaisClique para compartilhar no LinkedIn(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Tumblr(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Pinterest(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela)Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela)Clique para compartilhar no Skype(abre em nova janela) Relacionado