Ciúme e Sororidade


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Eu queria muito escrever sobre esse tema. Mas ao mesmo tempo, me sinto um pouco hipócrita pra falar disso.

Ciumenta, possessiva, vingativa. Escorpiana, né mores? Acho que dói menos culpar o signo do que assumir a minha responsabilidade nessa história.

O meu primeiro namorado foi certamente o que mais sofreu com meus ataques raivosos de ciúme. Depois que terminamos eu gostava de pensar que eu era muito nova, machista e insegura. A única coisa que eu errei foi o tempo verbal, fora isso tudo certo.

Fiz terapia, cuidei da minha insegurança. Entrei pra faculdade e conheci Jesus, digo, o feminismo. Percebi o quão machista eu era e tentei me tornar uma pessoa mais atenta às mulheres e suas lutas. Enfim, cresci um pouquinho (bem pouquinho mesmo).

Então, comecei meu segundo relacionamento. Era ótimo. Não sentia ciúmes, não brigávamos quase nunca, conseguia quase sempre me manter racional. Eu me achava a pessoa mais evoluída do mundo e julgava toda aquela Bia versão ensino médio que eu costumava ser. Acreditava cegamente que toda aquela serenidade do nosso relacionamento se dava pela minha evolução, e o fato de ele só trabalhar com homens e só ter amigos homens, era apenas um mero detalhe.

Iludida, eu?

Foi só eu me encontrar frente a frente com uma mulher com a qual ele já havia ficado no passado que toda aquela insegurança voltou. Linda, mais velha, simpática, tinha muito mais a ver com o rapaz em questão do que eu. Me senti um peixinho fora d’água. Passamos o carnaval no mesmo festival. E durante 5 dias eu tentei pintar a figura mais feia dela pra mim. A cada vez que ela me tratava bem eu tentava me convencer de que era falsidade. A cada palavra que ela pronunciava eu buscava algo de errado. Eu decidi que ela era uma pessoa ruim e precisava de provas.

Mas a verdade é que não tinha nada de errado. Nós, mulheres, tão domesticadas a enxergarmos as outras mulheres como ameaças, como competidoras pelo macho-prêmio, ficamos cegas. Não conseguimos enxergar a ex do nosso atual, ou a atual do nosso ex simplesmente como mulheres. A enxergamos como potenciais ameaças prontas para nos trair a qualquer momento.

E sejamos honestas, o que estava errado era eu estar em um relacionamento que me permitia sentir esse tipo de insegurança. A culpa não era dela, a culpa era minha. Se eu estivesse num namoro ideal me sentindo completamente amada, a simples presença de um antigo flerte não me abalaria tanto (talvez um pouquinho porque afinal de contas sou escorpiana).

Terminamos o namoro naquele mesmo carnaval.

No último dia do festival, fui comer um pão de queijo com café e quem eu encontro na fila fazendo o exato mesmo pedido? Ela. E só nesse dia eu parei pra pensar que, se nós duas nos interessamos pelo mesmo cara em algum momento de nossas vidas, certamente tínhamos alguma coisa em comum. Não era só o cara, era também o pão de queijo, e era também a dúvida na escolha da profissão, e eram também as inseguranças da vida, e eram também os valores, e eram tantas mas tantas coisas em comum que eu me senti um lixo por ter achado que ela era uma bruxa.

Pra quem não sabe, vai ai um copia e cola do conceito de sororidade: “união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum”.

Quantas vezes nos esquecemos da sororidade por causa de um homem qualquer? Conseguimos ter empatia com todas as manas da nossa vida, menos com aquelas que se envolveram com o dito cujo. Por quê?

Que possamos nos unir e crescer juntas. Que nos enxerguemos como aliadas e não como competidoras. Afinal de contas, cientes ou não, estamos todas em busca do nosso espaço no mundo.

Obrigada por tudo que você me ensinou mesmo sem saber, Isa.

About the author

beaschau

Apenas mais um mamífero com telencéfalo altamente desenvolvido que decidiu largar o Direito para cozinhar e escrever.