Deus, à imagem e semelhança do homem

Os estados teocráticos e a falsa moralidade religiosa invadindo  temas laicos, trazem à tona um tema que permeia a sociedade desde que o homem tentou entender a natureza. A chuva com seus trovões, a seca, a passagem do dia e da noite, os astros, a morte. Alguém deveria entender e tentar intermediar a relação do invisível com o concreto. E, claro, quem dispunha deste privilégio de entender-se com o que ninguém conseguia entender despertava o respeito e o temor dos demais.

Certamente o primeiro homem que deduziu que estes sinais da natureza eram manifestações divinas imaginou também formas de contentar a estes deuses para que os problemas causados pelos deuses não tivessem tanto impacto na materialidade. Agradando aos deuses imaginava-se possível reverter seus acessos de ira, responsáveis por tantos estragos de tempos em tempo.

 

Mas não era toda a coletividade que possuía esta condição, a de intermediar e comunicar-se com os seres divinos. Era necessário que o coletivo se resguardasse das ameaças, que providenciasse alimentação, havia ainda o cuidado com a estrutura que protegesse do clima e tempo.

 

A existência de um excedente de alimentos a partir da agricultura permite que a sociedade se divida em tarefas diferentes. As funções básicas das sociedades primitivas, produção, arrecadação  previam que deste excedente alimentasse o contingente destinado à segurança, e também os dirigentes destas comunidades. E claro que aquele que possuía o dom de agradar aos deuses geralmente interferiam no poder diretivo, por respeito ou medo, a acabavam decidindo os rumos de suas comunidades, respaldados pelos deuses que diziam representar.

 

Neste contexto as religiões e seus representantes tinham como principal função a obtenção de ganhos ou benefícios. A necessidade de entender a natureza e a própria natureza humana ficava em segundo plano. Os rituais, a destinação de locais próprios para cultos, a criação das artes adivinhatórias criavam a aura de mistério e respeito necessária para garantir que os sacerdotes fossem considerados semi-divindades.

 

Nesta situação a fusão entre decisões humanas e desejos divinos era providencial para os governantes. O temor aos deuses, estes obviamente criados a partir do modelo humano, com amores, paixões e ódios de formato humano, mas com poderes ilimitados facilitava que decisões terrenas fossem justificadas por desígnios divinos. Homens podem ser contrariados, deuses jamais. E desta forma, desde as primeiras sociedades a religião permeia o poder terreno, chegando mesmo a eleger como deuses alguns de seus governantes, tornando-os deus na terra, portanto com poderes ilimitados.

 

Quanto a população, restava-lhe sustentar com seu trabalho governantes e sacerdotes, seguir suas regras opressoras e temer a ira de suas  vingativas e cruéis  divindades temendo, além de todo o tormento terreno os tormentos de outra vida além da morte.

 

 

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regina abrahão