Escola Anormal – A Trompa

 Tenho, em meus alfarrábios, uma pequena série de artigos que denominei de Escola Anormal, forma de alusão às antigas Escolas Normais, encarregadas de formar professores e que acabaram sendo substituídas pelas atuais escolas de segundo grau ou, sei lá como se chamam hoje em dia… Nesta série, faço pequenas e despretensiosas descrições dos vários instrumentos componentes de uma orquestra (ou não) dando ênfase àqueles mais esquisitos ou, menos comuns, o que, em verdade, acaba abranjendo  todos eles pois, se analisarmos com cuidado, perceberemos que todos apresentam características singularíssimas, resultado, penso eu, da tremenda necessidade que sempre atormentou o homem no seu afã de expressar-se através da arte, principalmente da Música.
 Há, entretanto, neste seleto hall de instrumentos sinfônicos (ou não) realmente, alguns que nos chamam à atenção mais que outros, seja pelas suas esquisitices estruturais, por alguns detalhes construtivos ou até pelo perfeccionismo da boa liuteria.
 Exemplo de um dos mais belos artefatos sonoros criados pelo homem é a Trompa, consiste, este magnífico instrumento de angelical sonoridade, de um tubo metálico com quase quatro metros de comprimento, enrolado em círculos sobre si mesmo, a fim de, diminuindo-lhe o tamanho, possa ser manipulado e executado com relativa facilidade pelo músico, o trompista, facilidade, no caso da Trompa é mera retórica.
  Dotado de chaves, estas são acionadas pela mão esquerda do músico, enquanto a direita controla a intensidade de ar que percorre o instrumento. Este enorme tubo de metal habilmente enrolado tem, numa extremidade o bocal, a embocadura propriamente dita, noutra, o pavilhão, por onde sai o som, amplificado pela sua natural conformação em forma de campânula. O concurso do uso das chaves e da mão direita no interior da campânula, sem esquecer-se do sopro perfeito do trompista, é que faz com que as notas sejam produzidas em diferentes alturas e timbres. É um instrumento realmente muito difícil de tocar, o trompista, além de um ouvido afinadíssimo deve ter uma coordenação motora perfeita para controlar os músculos das mãos direita e esquerda além da própria respiração. O timbre da trompa é muito rico em harmônicos e muito se assemelha à voz humana, a mão dentro da campânula ajuda a produzir uma enorme variação de timbres.
 Trompas aparecem nas 10 últimas sinfonias de Haydn e Mozart, em todas as 9 de Beethoven, nas 4 de Schumann, nas 4 de Brahms, nas 6 de Tchaikovsky, nas 9 completas de Mahler. A partitura da Segunda Sinfonia de Mahler exige dez trompas”.
  Bem alunos, Oops! Quero dizer, bem amigos, esta é nossa querida Trompa, milhões de palavras, entretanto, seriam inúteis para descrevê-la. Como disse o sábio Mikhail Naimy: “Em cada mil palavras que se escrevem, às vezes só há uma, que verdadeiramente é necessário escrever! As restantes são somente tinta e papel desperdiçados e minutos aos quais se deu pés de chumbo em vez de asas de luz. Como é difícil, oh! como é difícil escrever a palavra que realmente deve ser escrita!”
 Sinto-me impossibilitado, pelas minhas inúmeras limitações, a prestar uma justa homenagem a este magnífico instrumento que nos tem embalado com encanto e desvelo durante os séculos da Música. Fiquemos, portanto, por aqui mesmo. Na próxima aula conheceremos um instrumento bem estranho, mistura de cordas friccionadas com uma campânula metálica, um híbrido esquisitíssimo! Meio violino, meio trompa… Refiro-me ao desengonçado  porém adorável Violino Stroh, mas, trataremos dele só na próxima. Até lá.
Forte abraço!

 

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newton lobo