“Nenhuma cerca detém a semente que confia no vento.”
Saúdo-te, navegante de águas profundas, passageira de balões que riscam o céu. Acabas de aportar (ou decolaste?) num espaço onde as correntes mais turvas da história se encontram com brisas de futuro — a coluna Horizontes Libertários d’O Pensador Selvagem.
1. Por que um submarino e um balão?
Porque às vezes precisamos mergulhar para sentir na pele a pressão das engrenagens que nos aprisionam no fundo; noutros dias, é vital subir além das nuvens para enxergar o contorno de mundos possíveis. Aqui celebramos ambos os movimentos: investigação crítica das profundezas e voo imaginativo sobre o caos.
2. Nosso ponto de partida
Vivemos a era das supertorres de dados e das catacumbas de desigualdade. Somos lembrados, diariamente, de que “não há alternativa” — mantra repetido por quem lucra com a falta de alternativas. Pois bem: há, e somos nós que a teceremos. Anarquia, para este coletivo, não é desordem estéril; é autogestão fértil, é o talento de cada pessoa conectado por laços de solidariedade viva.
3. O convite
Esta coluna não tem dono, editor-chefe ou catraca giratória. É teia aberta, pronto-socorro de ideias, horta comunitária de palavras. Se chegas com um ensaio sobre mutualismo digital, um relato de horta coletiva no teu bairro, um poema que dissolva fronteiras — puxa uma cadeira no convés ou ajusta teu escafandro: teu lugar está garantido.
4. Como contribuir (sem medo de naufrágio)
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Traz tua experiência concreta. Amo ouvir o rumor dos motores que já funcionam — cooperativas, bibliotecas livres, rádios piratas que respiram cultura fora do circuito comercial.
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Traduz o denso em acessível. Se vais citar Bakunin ou Bookchin, tempera com metáfora de feira livre, de roda de chimarrão; a teoria deve caber no bolso de quem pega ônibus lotado às 6 h.
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Mantém a ternura subversiva. Ironia é bem-vinda, mas jamais para humilhar. Nossas farpas miram estruturas, não pessoas.
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Fecha com ação. Cada texto pode terminar em convite: um clube de leitura, um mutirão de telhado verde, uma vaquinha solidária. Anarquia é verbo praticado.
5. Horizonte é verbo no plural
Dizem que “o amanhã está cancelado”. Discordo: os amanhãs. São tantos quantas mãos dispostas a semear. Nesta coluna queremos cartografá-los: desde microssoluções de bairro até delírios planetários de ecossocialismo, passando por artes gráficas clandestinas, pedagogias libertadoras e finanças solidárias que dispensam banqueiro.
6. Um pacto de cuidado
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Liberdade que abraça, não que espanta. Respeito é nosso oxigênio comum.
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Comunalizar saberes. Nada de paywall mental; cita fontes, deixa referências livres.
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Ecologia integral. Cada letra deve lembrar que somos também sementes, rios, pássaros — e recicláveis (inclusive nossas convicções).
7. Semeia tua faísca
Antes de partires — rumo às marés do cotidiano ou às correntes de ar quente da utopia — deixa aqui a tua centelha: comenta, envia texto, grava áudio, propõe pauta. Uma teia só se expande se cada fio ousar tocar outro.
“A utopia é nosso mapa-estrela: não se alcança, mas orienta cada passo.”
Empunha-a na noite mais espessa; mergulha quando o estrondo parecer ensurdecedor; sobe quando a humanidade pedir fôlego. Encontrar-nos-emos sempre neste horizonte que não se cansa de amanhecer.
No mais, companheira, companheiro, companheire: bem-vindxs ao convés e ao porão. Ajusta o periscópio, infla o balão, abre o coração. A revolução cotidiana passa por aqui.
Com ternura insurgente,
Gael Libório
Hospedeiro da chama, jardineiro de teias, passageiro do balão coletivo