Com o título “Se precisar, peça ajuda!”, iniciamos o mês de prevenção ao suicídio, promovido, todos os anos, pela Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP. E os números seguem alarmantes no Brasil.
É sabido que a imensa maioria dos casos poderia ter sido evitada, se as pessoas próximas soubessem identificar os sinais de que uma pessoa está pensando em tirar a própria vida. Temos que admitir, no entanto, que a sociedade se encontra, atualmente, em um avançado processo de “não olhar o outro”, em muito proporcionado pela vida digital, que cada vez mais isola as pessoas do contato interpessoal.
Vários são os sinais de alerta que quem deseja cometer suicídio coloca à disposição do olhar de quem queira estar atento, mas, no geral, as pessoas os tratam como “normais da idade”, coisas de adolescentes ou coisas de velhos.
Não há, por outro lado, um efetivo engajamento, por parte do sistema empresarial, na divulgação de campanhas de prevenção ao suicídio. Não se vê, por aí, em lugares de grande frequência de pessoas, cartazes ou qualquer outra forma de divulgação. Pouco se fala na mídia. Uma ou outra entrevista, ou alguma breve referência, que no mais das vezes serve apenas para “ficar bem na foto” com o público.
O medo da divulgação advém do conhecido “Efeito Werther”. Acredita-se que mais de uma centena de jovens tenha cometido suicídio após a publicação, em 1774, do livro “Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe. Registre-se que não há comprovação que estabeleça a relação entre a obra e os suicídios, embora as semelhanças sejam imensas.
Há, no entanto, um outro efeito, o “Efeito Papageno” (personagem da ópera “A Flauta Mágica”, de Mozart), que demonstra que quando as informações sobre suicídio são passadas de forma adequada ocorre uma diminuição do comportamento suicida. É preciso, porém, que o acesso a essas informações seja amplo, o que não vem ocorrendo.
Suicídio é palavra proibida nas redes sociais. Muitos países regulamentam a forma como devem ser noticiados os suicídios. Em outros, os próprios meios de comunicação estabelecem códigos sobre como tratar os casos de suicídio. Em recente programa, que participei sobre o tema, fui orientado a que não deveria usar a palavra, pois seria “cortada” na reprodução ou mesmo a programa todo poderia ser retirado das redes sociais. Precisei usar a expressão “pessoas que atentam contra a própria vida”.
O suicídio não é apenas um tabu, é um assunto ignorado.