Castrar ou não castrar… eis a questão

cachorroSerá que vale a pena castrar aquele seu cachorrinho mal educado, que faz xixi pela casa inteira, come seus sapatos, late o tempo todo e te mata de vergonha ao fazer de namorada a perna dos seus convidados? Aqui vão algumas dicas e reflexões para ajudar na sua decisão.

cachorro roedorPara quem possui um animal de estimação em casa, a castração pode parecer um ato cruel. A simples sugestão feita por veterinários pode suscitar olhares escandalizados nos consultórios. Diversos mitos estão associados a este medo dos proprietários, que acreditam que seu cão ou gato irá sofrer ou ficar gordo, letárgico, bobo.

Muitos veterinários vêm usando a internet para tentar esclarecer essas questões, deixando assim os donos de animais mais informados na hora de tomar esta decisão. Uma destas veterinárias é Silvia Parisi, que destaca como benefícios da operação as mudanças no comportamento dos cães machos, que costumam demarcar o território com urina (problema que aflige muitas pessoas que criam cães dentro de casa). A castração da fêmea, ou seja, a retirada dos ovários e trompas, evita ninhadas indesejadas e o câncer nestes órgãos.

Segundo informações da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA), uma única cadela, com uma vida reprodutiva de seis anos, pode gerar 100 descendentes, enquanto uma gata em apenas dois anos pode deixar 200 descendentes. Muitos destes animais, quando nas mãos de proprietários não cuidadosos, acabam sendo deixados na rua, mortos ou colocados em abrigos, onde aguardam adoção. No abrigo da Sociedade Protetora dos Animais (SUIPA), na Zona Norte do Rio, são deixados 50 animais por dia. Alguns não têm esta sorte, e são recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Prefeitura da Cidade, onde após o período de um mês, são sacrificados.

cao de ruaPara evitar este problema, só no ano passado a Prefeitura esterilizou 10,5 mil cães e gatos. A administração municipal considera este problema uma questão de saúde pública e por isso realiza cirurgias gratuitas no Instituto Jorge Waitsman, hospital veterinário municipal e em clínicas conveniadas. Outras instituições também oferecem o serviço a preços populares, como a WSPA, em seu recém inaugurado Centro de Esterilização e Educação, e a SUIPA.

A veterinária Ana Paula de Bragança Pimentel apóia a iniciativa de castrar os animais de rua, ou quando isto é uma decisão que visa a controlar a população de animais. Ela faz uma ressalva, porém, quando o objetivo é uma mudança de comportamento do animal. Para ela, muitos fatores influenciam nas atitudes que um cão ou gato têm, e a diminuição dos hormônios causada pela esterilização trás conseqüências variadas para diferentes animais. “É uma loteria. Não se pode afirmar que o cachorro ou gato vai ficar mais dócil, ou que vai parar de urinar pela casa, pois muito disso é do seu caráter, ou já foi aprendido antes da castração. As chances aumentam se o animal for castrado antes do primeiro cio”, explica ela, que possui 12 cachorros, sendo oito castrados, e um gato, também esterilizado.

gatoQuanto à cirurgia, chamada de Panhisterectomia, Ana Paula explica que, no caso do macho, o procedimento é mais simples, com um tempo de recuperação de uma semana. A operação na fêmea é mais intrusiva, retirando-se o útero e os ovários, e a recuperação requer mais tempo e cuidados. A veterinária nota uma reação diferente entre os proprietários de animais quando confrontados com a sugestão de esterilização. “geralmente as mulheres ou os proprietários de fêmeas se incomodam menos. Mas os homens que possuem animais machos não se conformam. Eles levam para o lado pessoal. É como se a operação fosse neles”, diverte-se.

Pensando nestes homens que sentem sua masculinidade ferida ao ver o pobre animal sem suas, digamos, jóias da coroa, o empresário americano Gregg Miller inventou, em 2005, próteses de testículos para cães castrados. Só no ano de lançamento do produto, Miller vendeu 150 mil unidades, faturou US$500 mil e, de quebra, ganhou o IgNobel, paródia do Prêmio Nobel que homenageia achados inúteis ou absurdos de pesquisadores.

Para Isabela Bragança, proprietária de duas cadelas, a castração não parece ser um problema. Lua, sua pitbull de cinco anos, vem tendo gravidez psicológica repetidas vezes. “Dá pena ver a pobre cachorra tomando conta dos nossos pares de sapato como se fossem seus filhos. Queria até que ela tivesse filhotes de verdade, mas eu moro em apartamento, não teria espaço para isso. Se a solução é operar, não tem o que ficar pensando”.

Castrando ou não seu animal de estimação, o importante é tratá-lo com carinho e responsabilidade. E caso a decisão de cruzar seja tomada, é importante escolher bem o par, para gerar crias saudáveis, e planejar o que fazer com os filhotes, para que estes não acabem nos abrigos ou na rua.

Fotos:

Introdução

Luiz Pinheiro – Curitiba, PR

Texto
Foto 01 – Roberto Valdés – Cochabamba, Bolívia
Foto 02 – Natasa – Eslovênia
Foto 03 – Stella Levi – Toronto, Canadá
Foto 04 – Gabriella Fabbri – Rapallo, Itália.

 

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Pedro Serra