Cultura do Brincar By Rafael Reinehr / Share 0 Tweet O Instituto Libertas de Educação e Cultura, de Belo Horizonte, convidou o educador da Escola da Ponte (Portugal), José Pacheco, para fazer parte de sua equipe. Zé da Ponte, como ele mesmo se autodenomina, fez uma conferência aberta à comunidade escolar, no início de fevereiro. Há muito tempo eu não ouvia alguém falar de educação […] O Instituto Libertas de Educação e Cultura, de Belo Horizonte, convidou o educador da Escola da Ponte (Portugal), José Pacheco, para fazer parte de sua equipe. Zé da Ponte, como ele mesmo se autodenomina, fez uma conferência aberta à comunidade escolar, no início de fevereiro. Há muito tempo eu não ouvia alguém falar de educação com tanta leveza, humor, inteligência e abertura criativa para o novo. José Pacheco realizou, diante da audiência, um exercício de escuta qualificada e atenção plena. Contou rapidamente o que significou para a educação o projeto Escola da Ponte. Zé está criando novas pontes, como é o caso de sua parceria com o Instituto Libertas, passando a residir em Belo Horizonte por um bom tempo. Bons ventos. Aliás, quando a utopia parece sumir no horizonte, deparar-se com um educador como Zé da Ponte traz ânimo e vontade de criar, de inventar e continuar em frente. O que ele nos disse pode ser resumido rapidamente no seguinte: de como um grupo de educadores realiza, numa das escolas mais públicas mais pobres de Portugal, após o desabamento da ditadura Salazarista pela Revolução dos Cravos, um dos mais inovadores projetos de educação de nossos tempos. As crianças viviam em extrema pobreza, muitas envolvidas na prostituição infantil, outras muito violentas, sem cuidados mínimos, cheirando a vinho e com piolhos. O ensino era tradicional, ou seja, baseado nas cartilhas de alfabetização etc. Esse quadro transformou-se num outro: essas crianças logo se tornaram as melhores, nos indicadores de aproveitamento escolar, em todo o país! Relatar toda a conferência de José Pacheco é impossível. Mas posso dizer um pouco mais: de como ele valoriza a formação do ser humano em primeiro lugar – ou seja, de que podemos nos tornar melhores e não ficarmos reduzido somente ao aspecto cognitivo de desenvolvimento. Este não é negligenciado, antes pelo contrário, assume um aspecto mais amplo, justamente o da formação humana. A questão da autonomia, da valorização das assembléias democráticas, da prática e do exercício da transformação. Mas tudo isso é para dizer o seguinte: num momento, um professor perguntou ao Zé da Ponte qual seria o papel da educação física na educação que ele acredita e exercita. E José Pacheco responde que se um projeto obtém sucesso é porque ele tem a arte como centralidade. E disse, então, da importância da educação do movimento. Por essa e outras falas, saí feliz. Aquilo foi um belo encontro. Que o José Pacheco possa fazer novas pontes para o futuro. E para fechar, o trecho de um artigo do professor José Pacheco, que muito me tocou por falar da solidão produzida pela escolas, algo que foi um traço marcante da minha infância: “Todas as escolas deveriam ser espaços produtores de culturas singulares, mas também espaços de múltiplas interacções, comunicação, cooperação, partilha… Sabemos que não é bem assim. As escolas são, quase sempre, espaços de solidão. O trabalho dos professores é um trabalho feito de solidão e a solidão dos professores é da mesma natureza da solidão dos alunos – professores e alunos estão sozinhos nas escolas.” Mais referências: Artigos do Professor José Pacheco em A Página da Educação – A Casa de Rubem Alves – Leia no blog de origem: Cultura do Brincar » Luiz Carlos Garrocho