A redução das desigualdades e a convergência de renda entre as regiões do mundo

Existem muitos conflitos e muitas injustiças no mundo. São tantas as dificuldades e os problemas, especialmente na área ambiental, que algumas novas tendências positivas ficam ofuscadas. No plano internacional, a novidade recente é que o hiato de renda entre as economias avançadas (desenvolvidas ou Primeiro Mundo) e as economias emergentes (em desenvolvimento ou Terceiro Mundo) está diminuindo.

Nos anos de 1980, a crise econômica internacional e o aumento dos juros nos Estados Unidos (durante o governo Ronald Reagan) provocou um declínio da renda per capita na maioria dos países pobres do mundo. Em consequência, houve aumento das desigualdades de renda entre as nações. Em 1989, a renda per capita (em poder de paridade de compra – ppp) dos países desenvolvidos era mais de 10 vezes superior à renda per capita dos países em desenvolvimento, segundo dados do Fundo Monetário Internacional – FMI.

Porém, desde o início dos anos de 1990, houve um processo de redução das desigualdades, pois o fator de multiplicação caiu para pouco mais de 8 vezes na última década do século XX. Este fator chegou pela primeira vez abaixo de 8 vezes em 2005 e caiu rapidamente nos anos seguintes, ficando abaixo de 6 vezes em 2012. Esta tendência de desconcentração deve prosseguir em 2013 e nos próximos anos, pois as economias maduras estão em crise e economias emergentes – como China e Índia – ainda continuam crescendo num ritmo bem superior.

É claro que existem extremos, quando se compara, por exemplo, a renda per capita dos EUA e de alguns países ao Sul do Sahara. Mas com o maior crescimento dos países em desenvolvimento a renda mundial apresenta um processo de convergência, embora a igualdade, provavelmente, nunca seja alcançada. Estas novas tendências foram tratadas no livro The Next Convergence: The Future of Economic Growth in a Multispeed World, do prêmio Nobel de economia de 2001, Michael Spence. Na mesma linha foi escrito o livro de Kishore Mahbubani, em 2013.

Um dos lados positivos deste processo de convergência da renda é a redução da pobreza do mundo. Segundo dados do Banco Mundial – que utiliza como referência uma linha de renda de 1,25 dólares por dia (em poder de paridade de compra – ppp)- houve uma redução absoluta e relativa da extrema pobreza no mundo. Em 1981, existiam quase dois bilhões (1,938 bilhão) de pessoas pobres (representando 52,2% da população), caindo para 1,909 bilhão, em 1990 (43,1% da população), para 1,743 bilhão (34%) em 1999 e para 1,289 bilhão de pessoas em 2008, representando 22,4% da população dos países em desenvolvimento.

A maior redução da pobreza aconteceu exatamente entre 2003 e 2008, quando também houve redução das desigualdades internacionais de renda. Mas como os países em desenvolvimento (ou emergentes ou do Terceiro Mundo) continuam crescendo em ritmo mais elevado, a probreza continua caindo na segunda década do século XXI, como aponta o programa do governo Dilma: “O fim da miséria é só um começo”. Embora pobreza extrema seja considerado apenas R$ 70,00 per capita por mês ou US$ 1,25 por dia.

Um outro lado, muito comemorado pelos governos, pelas empresas e pelas consultorias internacionais é o aumento da classe média e do poder de consumo de parcelas crescentes da população mundial. Estudo da McKinsey Global Institute, de 2012, mostra que a classe média mundial (aquela com mais de 10 dólares diários, chamada de “classe consumidora”) era de 0,3 bilhão de pessoas em 1950, de  1,2 bilhão de pessoas em 1990, passou para 2,4 bilhões em 2010 e deve chegar a 4,2 bilhões de pessoas, em 2025. Nesta data, o percentual de consumidores da “classe média” mundial será maior, pela primeira vez, do que a parcela dos menos consumidores (aqueles com renda inferior a US$ 10 diários).

A redução da pobreza e o crescimento da classe média mundial poderiam ser fatores de grande comemoração se acontecesse fora do quadro de reprodução do padrão de produção de bens materiais e descartáveis que só reforçam a cultura consumista no mundo. Evidentemente que as populações pobres do mundo devem ter o direito de escolher o que comprar e consumir. As Conferências Internacionais da ONU consideram o Desenvolvimento um direito dos povos.

Mas o que tem acontecido é desenvolvimento tem sido usado como sinônimo de consumo e o predomínio da produção de bens industrializados das grandes corporações internacionais visam muito mais o lucro do que a qualidade de vida das populações e do meio ambiente. Por meio de campanhas de publicidade milionárias as principais marcas de produtos internacionais vão impondo o seu domínio pelo mundo afora. Porém, o consumo de 4,2 bilhões de pessoas, com renda igual ou superior a US$ 10 por dia, exige uma quantidade de matérias-primas e energia que é incompatível com a sustentabilidade ambiental.

O ideal é que houvesse crescimento da renda com mudança no padrão de consumo, pois, se os países emergentes simplesmente mimetizarem o estilo de vida das economias avançadas, os limites da natureza serão ultrapassados e a perda será geral. Em termos de justiça social, não basta apenas ampliar o padrão de consumo. É preciso reduzir o impacto das atividades antrópicas.

O desenvolvimento dos países do Terceiro Mundo e a redução das desigualdades internacionais de renda poderia ser uma novidade alvissareira se houvesse um relacionamento harmônico com o meio ambiente. Porém, tem acontecido o contrário, pois a ampliação da renda e do mercado de consumo tem ocorrido no sentido de ampliar a compra de produtos que geram mais lucros e poluição do que satisfação para a sociedade e proteção para o meio ambiente.

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José Eustáquio Diniz Alves