Comércio exterior brasileiro: a roça e a mina

Ao longo do século XX, o Brasil sempre entrou em crise econômica quando tinha um choque externo e havia uma abrupta queda nas exportações. Foi assim em 1930, quando a economia primário-exportadora entrou em colapso. O Brasil entrou novamente em crise quando o balanço de pagamento ficou muito deficitário no final dos anos de 1970. A sobrevalorização do real também provocou crise no final dos anos de 1990, no início do segundo governo FHC. Em todas estas ocasiões  houve aumento do desemprego e agravamento das condições de pobreza.

Porém, nos últimos 10 anos a balança comercial brasileira tem apresentado superávits em todo o período, devido à melhora nas relações de troca e ao aumento do preço das commodities. Mas isto não criou uma situação de superávit em transações correntes e o Brasil continua se endividando para fechar suas contas externas, embora agora conte com elevadas reservas internacionais devido à entrada de capitais estrangeiros.

Atualmente a situação do Brasil é melhor do que no passado, apesar de estar perdendo espaço no comércio internacional de produtos manufaturados. No período 1981/1984 as exportações brasileiras representavam 1,2% das exportações mundiais, enquanto as exportações da Coréia do Sul representavam 1,1% e as da China representavam 1,2% do total. Em 2011, as exportações brasileiras passaram para 1,4%, diante de 3% da Coréia do Sul e de 10,4% da China.

Enquanto a Coréia do Sul e a China aumentaram a participação no comércio internacional de produtos industriais e tecnológicos, de alto valor agregado, o setor exportador brasileiro está cada vez mais dependente das atividades agrícolas e mineradoras. Está havendo uma “especialização regressiva” na pauta de exportação nacional.

O governo está tomando medidas para incentivar a industria brasileira e para desvalorizar o Real, pois a valorização cambial tira competitividade da industria brasileira. O governo também desejaria que o PIB brasileiro crescesse em torno de 5% ao ano, mas os últimos dados do FMI mostram que a economia tupiniquim vai crescer menos de 4% ao ano. Alguns analistas acham que não passa de 3%.

Está ficando cada vez mais claro que o crescimento econômico não é capaz de resolver todos os problemas brasileiros. Ao contrário, este crescimento tem trazido diversos problemas ambientais. Por isto crescem o número de pessoas que fala em decrescimento econômico no futuro. Evidentemente é muito dificil defender decrescimento econômico quando há crescimento demográfico e quando o número de pobres é ainda muito grande.

Todavia, mesmo num cenário de crescimento, a economia brasileira vai enfrentar sérios problemas pela frente, pois ela está cada vez mais dependente da roça (agronegócio) e da mina (exploração de minérios, petróleo, etc.). Não é possível garantir qualidade de vida para 200 milhões de habitantes voltando ao modelo primário-exportador que prevaleceu na República Velha.

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José Eustáquio Diniz Alves