EUA em declínio: Déficit fiscal ou déficit de emprego?

Os Estados Unidos da América estão enfrentando um difícil dilema: ou aumentam o déficit fiscal (e a dívida pública do país de cerca de 16 trilhões de dólares) ou vão ter que conviver com desemprego elevado.

Na virada do ano, houve inúmeras reuniões para elaborar um acordo provisório e de última hora para evitar o abismo fiscal (fiscal cliff), pois se não houvesse um pacto no Congresso o governo ficaria sem dinheiro para honrar os seus compromissos e haveria corte de programas sociais e aumento de impostos para toda a população. O abismo foi evitado, mas os problemas fiscais não foram definitivamente resolvidos.

Nos meses de janeiro e fevereiro de 2013, a discussão se voltou para o teto da dívida (debt-ceiling crisis). Em termos brutos, a dívida americana já é superior a 100% do PIB e o déficit público anual está acima de US$ 1.000.000.000.000,00 (um trilhão de dólares). O partido Republicano quer reduzir o déficit e reduzir o crescimento da dívida, medidas que podem fazer a economia entrar na recessão. A oposição quer que o atual governo pague suas contas na atual gestão. Isto desgastaria a popularidade do presidente e abriria a oportunidade de um presidente republicano assumir o governo daqui 4 anos.

Já o partido Democrata e o presidente Obama querem continuar aumentando o gasto público para recuperar a economia e diminuir a taxa de desemprego, se opondo aos cortes nos programas sociais e nas obras de infraestrutura. Ou seja, eles argumentam que é preciso aumentar o déficit e a dívida agora para recuperar a economia e garantir o crescimento econômico, mesmo que a conta da dívida fique para as futuras gerações.

Na realidade as gerações atuais já estão pagando a conta e as gerações futuras também vão enfrentar dificuldades. O desemprego está em torno de 7,8%, representando cerca de 10 milhões de pessoas. Em dezembro de 2012 foram criados 155 mil empregos. Neste ritmo, o nível de emprego combatível com o que existia em 2007 só vai ser alcançado em 2022.

Estudos econométricos mostram que um crescimento do PIB de 2% é suficiente apenas para manter o desemprego no nível atual. Mas está dificil sair da armadilha do baixo crescimento econômico. Por exemplo, em janeiro de 2013 foram criados 157 mil empregos nos EUA, mas a taxa de desemprego subiu de 7,8 para 7,9%.

Desta forma, mesmo com os altos déficits fiscais a economia americana continua patinando e existem forças políticas tentando jogá-la mais para baixo. Para complicar, cresceu o trabalho em tempo parcial e houve redução ou estagnação dos salários de amplas parcelas dos trabalhadores.

Para enfrentar todos estes desafios, a receita milagrosa tem sido a mitificação do crescimento econômico como uma panaceia capaz de resolver todos os problemas. O partido democrata quer que o Estado promova o desenvolvimento com inclusão social. O partido republicano que que o setor privado (o mercado) seja o motor do crescimento econômico com liberdade total da livre iniciativa.

Porém, os EUA estão passando por um momento crucial que pode estar sinalizando para o fim do crescimento econômico tal como aconteceu nas últimas décadas. Provavelmente os americanos vão ter que conviver por um longo período com alto desemprego e altos déficits, indicando que o país está aprofundando o seu processo de declínio relativo da hegemonia mundial.

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José Eustáquio Diniz Alves