O paradigma fossilizado e o preço dos alimentos

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As crises econômica, financeira, ecológica, energética e alimentar são o resultado do velho paradigma fossilizado do crescimento pelo crescimento. Como disse a ativista e ecofeminista indiana, Vandana Shiva:  “O paradigma é fossilizado, tanto porque é obsoleto, quanto porque é o produto da era dos combustíveis fósseis. Precisamos ir além desse paradigma fossilizado, se quisermos enfrentar a atual crise econômica e ecológica”.

Nos últimos 200 anos a economia mundial cresceu a taxas elevadas e em ritmo bem superior ao crescimento da população. Embora tenha havido alguns momentos de crise e até de depressão econômica, o resultado global foi de crescimento médio superior a todas as demais épocas da história da humanidade.

Algumas pessoas consideram que se pode extrapolar as tendências dos últimos 200 anos para o século XXI. Neste caso, haveria uma continuidade do crescimento da renda per capita e do nível de consumo em geral e de alimentos em particular. Mas crescem o número de analistas que consideram que o mundo está chegando ao seu limite econômico, energético e ecológico.

O Fundo Monetário Internacional refez suas projeções para 2012 e aponta um menor crescimento nos próximos anos. Há um ano, o FMI considerava que a economia internacional iria crescer acima de 4% ao ano no restante da década. Hoje em dia está claro que 4% é o limite máximo da média de crescimento mundial, pois existem limites que são intransponíveis.

Um dos limites é o preço do petróleo. Em 1998, o preço do barril chegou ao valor real (deflacionado) mais baixo da segunda metade do século XX, ficando abaixo de 20 dólares o barril (WTI). Mas com a retomada do crescimento econômico o preço do petróleo foi subindo até chegar próximo de 150 dólares o barril em 2008, para depois cair pela metade (em torno de 75 dólares) com a recessão de 2009. Mas com a retomada do crescimento, mesmo que de forma moderada, os preços do petróleo aumentaram e o barril (WTI) tem ficado acima de 100 dólares em 2012. Estudos recentes mostram que um aumento do preço real do petróleo de 10 dólares está associado a uma redução entre 0,4 e 1% na taxa de crescimento econômico do PIB mundial. Portanto, aumento do preço do petróleo tende a reduzir o ritmo de crescimento econômico (e a aumentar o preço dos alimentos).

O Índice de Preço da Comida da FAO (Food and Agriculture Organization) também chegou aos seus níveis mais baixos na virada do milênio, acompanhando o baixo preço do petróleo. O Índice da FAO estava abaixo de 100 no ano 2000 e chegou a 220 pontos em 2008. Portanto, o preço dos alimentos dobrou de valor na primeira década do século XXI. Com a crise econômica, o índice do preço dos alimentos caiu para a casa dos 150 pontos no início de 2009, mas voltou a subir com a retomada do crescimento da economia mundial. No mês de abril de 2011 o índice da FAO atingiu o seu pico histórico no corrente século, atingindo o patamar de 235 pontos. Mas com a crise européia, o baixo crescimento dos Estados Unidos e a desaceleração da China o índice ficou em 211 pontos em dezembro de 2011.

Porém, mesmo com o baixo crescimento da economia mundial, o preço dos alimentos voltou a subir em 2012 e atingiu o patamar de 214 pontos em abril do corrente ano. Parece que a tendência em 2012 é repetir os preços elevados de 2011.

Como mostrou a ecofeminista Vandana Shiva, o modelo do crescimento pelo crescimento e o uso indiscriminado dos combustíveis fósseis fazem parte de um mesmo paradigma fossilizado e que está chegando aos seus limites. O mundo precisa de uma mudança de paradigma para enfrentar a crise energética e alimentar que já é grave e pode piorar. As perspectivas para os próximos anos, por um lado, pode ser de crescimento econômico com aumento do preço da energia e dos alimentos, ou, por outro lado, recessão com aumento do desemprego.

A era do crescimento ilimitado e indiscriminado está chegando ao fim. Ou se muda o atual modelo consumista e poluidor ou o mundo todo terá que pagar um alto preço pelos danos ambientais e suas consequências sociais. Pode ser que o paradigma fossilizado ainda sobreviva alguns anos, mas o pior cenário seria manter o atual modelo com elevação do preço da energia e dos alimentos e, ao mesmo tempo, com aumento das taxas de desemprego, como Grécia e Espanha são um péssimo exemplo.

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José Eustáquio Diniz Alves