O vermelho (rosa) e o negro

O Vermelho e o Negro (Le Rouge et le Noir) é um famoso romance histórico de Stendhal, publicado em 1830. O livro trata da história de Julien Sorel, um rapaz (branco) ambicioso, filho de um carpinteiro, que tenta subir na vida na sociedade francesa do século XIX e estava dividido entre tornar-se um general ou um bispo, as rotas de ascensão social disponíveis em uma sociedade bastante estratificada. O vermelho representaria a cor da vestimenta do exército e o sangue derramado na guerra. O negro é uma alusão à batina do clero e aos poderes eclesiásticos.

O vermelho e o negro também são as cores do Clube de Regatas do Flamengo, fundado para disputas de remo em 1895, mas mais conhecido como um time de futebol masculino, do Rio de Janeiro, com uma das maiores torcidas (senão a maior) do Brasil. Até novembro passado, o futebol masculino do Flamengo já havia conquistado 31 títulos estaduais, 5 títulos nacionais, uma Copa Libertadores e um Mundial Interclubes.

Porém, todas as vitórias do clube aconteceram sobre a liderança de um técnico branco. Como é amplamente conhecido, a exclusão de jogadores negros era uma realidade do início do futebol no Brasil, que era um esporte praticado por jovens brancos, com base no padrão inglês. O Vasco da Gama foi o primeiro time brasileiro a colocar um time racialmente misto em um campeonato. A partir daí, o futebol brasileiro virou uma fonte profissional e um meio de ascensão social para os rapazes negros em busca de fama e dinheiro. Pelé é o caso mais emblemático.

A conquista do Flamengo, em 06/12/2009, trouxe como novidade o técnico Andrade, que entrou para a história como o primeiro treinador negro a conquistar o Campeonato Brasileiro de futebol masculino. Jorge Luís Andrade da Silva, nascido em 21/04/1957, em Juiz de Fora (MG), já havia sido campeão nacional 5 vezes, mas como técnico sempre foi interino até ser apoiado pela torcida para ser o titular em 2009.

Outra novidade do Flamengo foi a eleição, em 07/12/2009, de Patrícia Amorim, como a nova presidenta do clube e responsável por dirigir a instituição entre 2010 e 2012. Pela primeira vez o comando do clube ficará nas mãos de uma mulher. Patrícia Amorim Sihman (nasceu em  13/02/1969 no RJ) foi uma atleta que se destacou na natação e foi 28 vezes campeã brasileira nos 200, 400, 800 e 1.500 metros livres. Foi uma das raras atletas do Brasil nas olimpíadas de Seul, em 1988. Agora inova ao ser uma dirigente feminina de um grande clube brasileiro de futebol.

Embora, o futebol feminino no Brasil não tenha nem um centésimo do apoio que a mídia e a sociedade dispensam ao futebol masculino, uma mulher na direção do Flamengo pode ser o início do fim do mito de que “futebol é coisa pra homem”.

Eu não sou torcedor do Flamengo, mas tenho que reconhecer que o clube rubro/negro contribuiu, nesta semana, para arejar a cultura do futebol brasileiro, abrindo caminho para ascensão social de negros nas direções técnicas e de mulheres na direção administrativa e política. As cores do clube ganharam vida: o negro ficou mais negro e o vermelho ganhou uma coloração rosa.

 

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José Eustáquio Diniz Alves