Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet Não deixa de ser irônico que uma mulher chegue ao posto máximo do Fundo Monetário Internacional (FMI), depois da prisão do seu ex-Diretor Presidente, Dominique Strauss-Kahn, por tentativa de estupro contra uma camareira afro-descendente, em Nova York.Mas a chegada de Christine Lagarde à direção do FMI reflete uma nova realidade da economia mundial e da situação da mulher no mundo. O FMI, desde que foi criado em 1944, sempre foi dirigido por homens europeus, enquanto o Banco Mundial era dirigido por homens dos Estados Unidos (EUA). A união dos EUA com a Europa garantia a hegemonia dos “países avançados” (na terminologia do FMI) no controle das instituições multilaterais do mundo. Ao mesmo tempo, os requícios do patriarcalismo garantia a hegemonia dos homens no topo da hierarquia dos cargos. Mas esta história tende a mudar no século XXI. Por um lado os países em desenvolvimento (ou países emergentes) tem crescido economicamente a um ritmo superior ao dos países avançados. Por exemplo, o G-7 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) produzia mais da metade do PIB mundial até o ano 2000, caiu para 40% em 2010 e deve ficar em torno de 36% até 2015. Enquanto isto, os demais 12 países que compõem o G-20 produziam apenas 25% do PIB mundial em 2000, mas devem ultrapassar o G-7 já em 2014. Portanto, os países emergentes (liderados pela China e Índia) passaram à frente na economia internacional, mas ainda não possuem a mesma representatividade no poder de voto no FMI. Do ponto de vista das questões de gênero, o mundo passa por um processo de despatriarcalização e cresce a presença das mulheres no mercado de trabalho e na política. Em muitos países as mulheres já possuem níveis educacionais superiores aos dos homens. Cresce o movimento pela paridade de gênero nos postos de direção das empresas e do setor público. Portanto, a exclusão das mulheres do topo da hierarquia dos organismos multilaterais não encontra mais base de apoio na nova realidade de gênero na maioria dos países do mundo. Desta forma, a disputa ocorrida entre uma mulher (européia) e um homem do “terceiro mundo” (Agustín Carstens -presidente do banco central mexicano) já reflete a nova situação econômica e de gênero no cenário internacional. Duas novidades: Christine Lagarde não é economista. Mas sim uma advogada que lida com a macroeconomia. Isto é uma novidade, pois, em geral, as mulheres são associadas à microeconomia, especialmente à microeconomia da família ou de localidades. A ausência de mulheres no trato das questões macroeconômicas é uma das desigualdades de gênero mais persistentes em todo o mundo. Evidentemente, a gestão de Christine Lagarde não será boa simplesmente pelo fato de ela ser mulher. Nem uma gestão de Agustín Carstens seria boa pelo fato de ele ser de país emergente. Mas, sem dúvida, o FMI precisa se renovar e se colocar à altura dos desafios mundiais do século XXI. Além da reforma da estrutura de poder interna ao FMI, serão muitos os desafios econômicos de Christine Lagarde, como as mobilizações de rua da Grécia têm demonstrado.