Dois Vezes Um By Rafael Reinehr / Share 0 Tweet – Guincho guincha guincho? – O rato roeu a roupa do rei de Roma! – Como? – O peito do pé de Pedro é preto! Quem disser que o peito do pé de Pedro é preto tem o peito do pé mais preto do que o peito do pé de Pedro! – Pirou? – Não, ganhei. Você falou um trava-língua. Eu, dois. Perdeu. – Não era um trava-língua, era uma questão existencial. – Guincho… – Guincho guincha guincho? – O rato roeu a roupa do rei de Roma! – Como? – O peito do pé de Pedro é preto! Quem disser que o peito do pé de Pedro é preto tem o peito do pé mais preto do que o peito do pé de Pedro! – Pirou? – Não, ganhei. Você falou um trava-língua. Eu, dois. Perdeu. – Não era um trava-língua, era uma questão existencial. – Guincho guincha guincho, para mim, parece ou trava-língua ou língua do “gui”. Tá bem longe de “ser ou não ser, eis a questão”. Essa sim, diga-se, uma questão existencial de respeito. – Tá, então não era uma questão existencial. Era uma dúvida. Queria saber se, quando quebra, um caminhão guincho é rebocado por outro guincho. – Nossa, mas isso aí tá longe mesmo de ser uma questão existencial. Pelo amor de Deus! Cada um tem o Shakespeare que merece mesmo. – O senhor também não é nenhuma Gwyneth Patrol, para eu ser Shakespeare. E, de qualquer forma, já consertei. É uma dúvida. – Bem idiota, por sinal. – Por que idiota? Queria saber se guincho guincha guincho, uai. Ou se, em caso de quebra, aparece um super-guincho ou um guincho-pai, que reboca o guincho comum. E se, em caso desse guincho-pai quebrar, se o rebocam ou o que diabos fazem com ele. E se o rebocam, quem o faz? Um guincho-avô? – Tolinho, tolinho. – Como? – Até a minha avó sabe que guincho não quebra nunca. Você já viu algum deles parado por aí, em acostamento, esperando ajuda? – Não me lembro. – Pois então. Eles nunca quebram. E sabe por que? – Não. – Questão de princípios. Se todos fossem iguais aos guinchos, o mundo estaria muito melhor. – Tem certeza de que guinchos não quebram nunca? – Absoluta. – Nem o pneu pode furar e, por acaso, eles ficarem sem estepe, necessitando de uma ajuda de um super-guincho? – Bom, se o pneu fura, daí não é questão de quebrar. É questão de azar. E se não houver estepe, o problema é da marginalidade urbana, que rouba estepe que é uma beleza. Nesse caso, aí sim, vem um guincho-pai e reboca o guincho comum. – Olha aí, tá vendo! Sabia! Sabia! E o que acontece se o guincho-pai tem o pneu furado, está com o guincho-comum no lombo, e não conta com estepe? – Vem o guincho-avô. – E se o guincho-avô tiver o pneu furado com os dois nas costas e não possuir estepe? Surge o guincho-bisavô? – Não, porque ele estará velho demais para ajudar. – Chamam os Transformers? – Que mundo você vive? Transformers não existem. – Não? Mas a Megan Fox existe, né? Por favor, diga que sim. – Sim. – Ah! – Mas não é pro seu bico. – Nhé. – Mas de volta ao caso dos guinchos com pneu furado… – Não quero mais saber. – Como não? – Perdi o interesse. Esse lance da Megan Fox não ser pro meu bico me estragou o dia. – Nem se eu te falar que o jeito como resolver o problema dos guinchos é interessante demais? – Nem. Leia no blog de origem: Dois vezes Um