Guinchos, uma Questão Existencial

– Guincho guincha guincho?

– O rato roeu a roupa do rei de Roma!

– Como?

– O peito do pé de Pedro é preto! Quem disser que o peito do pé de Pedro é preto tem o peito do pé mais preto do que o peito do pé de Pedro!

– Pirou?

– Não, ganhei. Você falou um trava-língua. Eu, dois. Perdeu.

– Não era um trava-língua, era uma questão existencial.

– Guincho…

– Guincho guincha guincho?

– O rato roeu a roupa do rei de Roma!

– Como?

– O peito do pé de Pedro é preto! Quem disser que o peito do pé de Pedro é preto tem o peito do pé mais preto do que o peito do pé de Pedro!

– Pirou?

– Não, ganhei. Você falou um trava-língua. Eu, dois. Perdeu.

– Não era um trava-língua, era uma questão existencial.

– Guincho guincha guincho, para mim, parece ou trava-língua ou língua do “gui”. Tá bem longe de “ser ou não ser, eis a questão”. Essa sim, diga-se, uma questão existencial de respeito.

– Tá, então não era uma questão existencial. Era uma dúvida. Queria saber se, quando quebra, um caminhão guincho é rebocado por outro guincho.

– Nossa, mas isso aí tá longe mesmo de ser uma questão existencial. Pelo amor de Deus! Cada um tem o Shakespeare que merece mesmo.

– O senhor também não é nenhuma Gwyneth Patrol, para eu ser Shakespeare. E, de qualquer forma, já consertei. É uma dúvida.

– Bem idiota, por sinal.

– Por que idiota? Queria saber se guincho guincha guincho, uai. Ou se, em caso de quebra, aparece um super-guincho ou um guincho-pai, que reboca o guincho comum. E se, em caso desse guincho-pai quebrar, se o rebocam ou o que diabos fazem com ele. E se o rebocam, quem o faz? Um guincho-avô?

– Tolinho, tolinho.

– Como?

– Até a minha avó sabe que guincho não quebra nunca. Você já viu algum deles parado por aí, em acostamento, esperando ajuda?

– Não me lembro. 

– Pois então. Eles nunca quebram. E sabe por que?

– Não.

– Questão de princípios. Se todos fossem iguais aos guinchos, o mundo estaria muito melhor.

– Tem certeza de que guinchos não quebram nunca? 

– Absoluta. 

– Nem o pneu pode furar e, por acaso, eles ficarem sem estepe, necessitando de uma ajuda de um super-guincho?

– Bom, se o pneu fura, daí não é questão de quebrar. É questão de azar. E se não houver estepe, o problema é da marginalidade urbana, que rouba estepe que é uma beleza. Nesse caso, aí sim, vem um guincho-pai e reboca o guincho comum.

– Olha aí, tá vendo! Sabia! Sabia! E o que acontece se o guincho-pai tem o pneu furado, está com o guincho-comum no lombo, e não conta com estepe?

– Vem o guincho-avô.

– E se o guincho-avô tiver o pneu furado com os dois nas costas e não possuir estepe? Surge o guincho-bisavô?

– Não, porque ele estará velho demais para ajudar.

– Chamam os Transformers? 

– Que mundo você vive? Transformers não existem.

– Não? Mas a Megan Fox existe, né? Por favor, diga que sim. 

– Sim.

– Ah!

– Mas não é pro seu bico.

– Nhé.

– Mas de volta ao caso dos guinchos com pneu furado…

– Não quero mais saber.

– Como não?

– Perdi o interesse. Esse lance da Megan Fox não ser pro meu bico me estragou o dia.

– Nem se eu te falar que o jeito como resolver o problema dos guinchos é interessante demais?

– Nem.

Leia no blog de origem: Dois vezes Um

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Rafael Reinehr

Rafael Reinehr é um autodidata eclético. Saiba mais sobre ele em http://reinehr.org/quem-sou