Eu bebo sim... By Roberson Guimarães / Share 0 Tweet A globalização da vinicultura tem despertado em muitos apreciadores o desejo de conhecer e beber vinhos singulares, com uma identidade própria, geralmente refletindo a expressão da região onde ele é produzido e o trabalho daquele que se dedica à construção do vinho. Esse autor é o vinhateiro: o homem que como maestro coordena a produção e provoca sabores e aromas no produto final, normalmente trazendo néctares como resultado de sua arte. Originam-se aí os vinhos de autor ou para alguns vinhos de garagem … O processo de globalização abrange uma variedade de fenômenos e tem gerado impactos diferenciados em diversas áreas – econômico-financeira, comercial, cultural, social, dentre outras. Há uma diversidade de esforços de conceituação e leitura por autores de diferentes áreas sobre o processo global. Porém, pode-se afirmar que existe um elevado consenso, entre eles, de se estar diante de uma nova era do capitalismo e que, no século XX, – mais precisamente, nos últimos 30 anos – o mundo entrou no ciclo de uma história global. Como alerta Deise Mancebo “a globalização cultural aponta uma tendência, nos meios de comunicação, à construção da homogeneidade cultural, em detrimento do particular e da diferença. Dessa forma, a singularidade dos indivíduos e as características culturais específicas de cada grupo são solapadas.” Obviamente, o mundo dos vinhos não seria uma exceção. Aliado ao aumento do consumo observa-se uma preocupante padronização de sabores e aromas, na busca de um “gosto médio”, que atenda mais prontamente às necessidades do consumo de massas. Dessa forma, vinhos ricos em álcool e madeira, mais concentrados que elegantes, tornaram-se o padrão comum da vinicultura mundial, especialmente no Novo Mundo. Contribui ainda para essa excessiva padronização a presença cada vez mais marcante dos “flying-winemakers”, enólogos consultores internacionais, que rodam o mundo emprestando seu estilo a diferentes vinícolas de diferentes países. Por outro lado essa globalização da vinicultura tem despertado em muitos apreciadores o desejo de conhecer e beber vinhos singulares, com uma identidade própria, geralmente refletindo a expressão da região onde ele é produzido e o trabalho daquele que se dedica à construção do vinho. Esse autor, como nos lembra Pedro Serrano, é o vinhateiro: o homem que como maestro coordena a produção e provoca sabores e aromas no produto final, normalmente trazendo néctares como resultado de sua arte. Originam-se aí os vinhos de autor ou para alguns “vinhos de garagem”. Esta denominação surgiu do fato desses vinhos serem produzidos em pequenos imóveis secundários, alguns efetivamente em garagens, e não no imóvel sede, conhecido como “château”. Em tese seriam vinhos de alta qualidade, baixa produção e preços conseqüentemente mais altos. Tendo adquirido força total em 1980, esses vinhos são bastante comuns em Bordeaux, sobretudo em Saint Emilion, onde existem propriedades de tamanho extremamente reduzido, algumas das quais com menos de dois hectares de área plantada. É o caso do primeiríssimo vinho de garagem a ser produzido, o Le Pin (2 hectares), produzido na região de Pomerol, apelação vizinha a Saint Emilion. Entretanto, a categoria e, particularmente, a denominação “vinhos de garagem” só ficaram mais conhecidas através do Château Vallandraud (1,5 hectares), produzido por Jean-Luc Thunevin, em Saint Emilion. Thunevin realmente produzia o seu vinho em uma garagem, o que foi motivo de chacota. Esse vinho ganhou um enorme destaque do crítico Robert Parker e, pouco depois, virou objeto de desejo dos colecionadores ao redor do mundo. A partir daí vinhos de autor passaram a fazer sucesso mundo afora e alguns se tornaram produtos “cult”, tais como o Screaming Eagle da Califórnia e o Duck Muck australiano. Também por aqui em terras brasileiras há algumas iniciativas semelhantes, com produção de vinhos muito especiais, artesanais, de pequena produção, restritos a um pequeno público “conaisseur”. Destaco dois produtores, dos quais já experimentei alguns vinhos instigantes: Marco Danielle (Tormentas) e Vilmar Bettú (autor de um Riesling de colheita tardia interessantíssimo). Na próxima postagem da seção Eu bebo sim… o portal OPS apresenta uma entrevista exclusiva com Marco Danielle, autor dos vinhos Tormentas e Minimus Anima, dois “cult-wines” brasileiros.