Vinho e saúde: o que diz a ciência.

Afinal: vinho faz bem à saúde? Ou isso é lorota de bebedor? A análise cuidadosa das evidências científicas aponta para o fato que o consumo moderado de vinho tinto apresenta benefícios para a saúde cardiovascular além de atuar como agente anti-neoplásico, abrindo uma nova fronteira para o estímulo do consumo de vinho tinto: prazer e saúde combinados. Apresento aqui um breve resumo dessas evidências científicas sobre os mecanismos de ação cardioprotetora e anti-oxidante do vinho tinto.

‘‘Life is the art of drawing sufficient conclusions from insufficient premises’’

—Samuel Butler

Cerca de 4500 anos atrás, Ayurveda, o livro de medicina antiga Hinfu descrevia o “darakchasava” (suco fermentado de uvas tintas) como cardiotônico. A Bíblia descreve o suco de uva e o vinho tinto como um “presente de Deus”, utilizado para purificar o corpo e a alma. Mais recentemente, estudos observacionais notaram o que tem sido chamado de Paradoxo Francês, ou seja, baixos índices de mortalidade por doença coronariana apesar da alta ingestão de colesterol e gorduras saturadas, como demonstra essa tabela:


Mas por que os franceses (e também as populações mediterrâneas) apresentam menores taxas de mortalidade por doença coronariana quando comparados às demais populações européias? A saúde do indivíduo e da população em geral é o resultado das interações entre fatores genéticos e um grande número de influências ambientais. Os fatores nutricionais são de fundamental importância nessas interações. Quando analisamos as diferenças nos hábitos nutricionais entre essas populações dois fatores chamam a atenção:


1- O consumo de álcool, especialmente de vinho tinto.

2- 2- A forte presença de azeite de oliva, frutas e vegetais na “dieta mediterrânea”.

Nesse artigo apresento um breve resumo das evidências científicas que ligam o consumo moderado de vinho tinto a uma menor mortalidade por doença coronariana, como também a seu papel como agente anti-oxidante e provável efeito preventivo em alguns tipos de câncer.

Quando tratamos das influências do vinho tinto devemos analisar dois elementos básicos: álcool e polifenóis, especialmente o resveratrol. As cascas das uvas contém cerca de 50–100 mg de resveratrol. A concentração média de resveratrol é de 0,2 – 7 mg/litro de vinho tinto. As principais ações celulares do resveratrol são: anti-oxidante, vasodilatador, anti-inflamatório, e anti-proliferativo para células neoplásicas, como resumido no gráfico abaixo:

Outro componente do vinho tinto com implicação na saúde é o álcool. Desnecessário lembrar os efeitos deletérios do consumo imoderado de álcool. Todos – médicos ou não – conhecemos as implicações sociais e sanitárias do alcoolismo. Mas existe espaço para um efeito benéfico do álcool, quando consumido em pequena quantidade? Parece que sim. Em um estudo seminal, publicado na prestigiada revista Annals of Internal Medicine, pesquisadores da Universidade de Copenhague demonstraram que as pessoas que bebiam de 8 a 20 copos de vinho ou de cerveja por semana apresentavam uma redução da mortalidade por todas as causas da ordem de 34%. Quando separadas as causas de morte, observa-se uma redução de 25% nas mortes por doença coronariana e de 22% nas mortes por Câncer naqueles que ingeriam de 8 a 20 copos de vinho por semana.

Não há espaço aqui para detalhar os estudos, mas o fato científico inquestionável é que o consumo moderado de vinho tinto – graças à ação combinada dos polifenóis (resveratrol) e do álcool – reduz significativamente a mortalidade por doença coronariana e por câncer. Estudos futuros irão determinar de forma mais precisa os mecanismos moleculares dessa atuação, como também estabelecer critérios e estratégias preventivas para aplicação populacional.

Até aqui podemos recomendar uma tacinha de vinho tinto por dia (200 ml) como uma boa medida para diminuir os riscos de infarto do miocárdio e de alguns tipos de câncer.

Bons goles e saúde!!

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Roberson Guimarães