Terceiro Fragmento: O agente da mudança

Ter coragem, às vezes, significa mover-se simplesmente. É preciso também desejos e direção. Os olhos podem até se sustentar sozinhos e perdidos, quase inaptos, no começo, mas é preciso entender que é nesse começo que o coração precisa organizar escolhas.

E quem vai dizer qual a direção correta a seguir? Qual a velocidade precisa para se chegar em algum lugar importante? Qual o percurso sem desvios?

Às vezes, não basta amar alguém ou uma profissão; é preciso atentar para os detalhes. Aos que querem salários melhores, qualquer mínimo pode ser um motivo para começar. Porque parte das pessoas que se angustia com a vida presente espera o futuro como se o hoje fosse uma prisão: o sol entrando na vida só pela metade, aquele cheiro desagradável de problemas insuperáveis, a cor escura das contas a pagar.

Mas, e se o futuro for, na verdade, uma surpresa que começa a qualquer momento?

E se a vida não for então um mistério, mas apenas uma questão de tempo, espera e movimento?

A mudança pode começar, então, a se instalar na rotina dos corações angustiados quando eles aceitam que obstáculos existem para serem vistos de perto, analisados. Talvez, você seja dos tipos que admiram o sol; mas experimente olhar fixamente para ele ao meio-dia. Possível? E se você esperasse para quando ele se por? Ainda é o sol que você admira, não? Você só precisou se programar um pouco e esperá-lo mudar de cor. As horas continuaram as mesmas; o tempo continuou grudado em você.

Nem estou dizendo que viver é tão fácil assim. No entanto, não ser tão fácil assim viver não é o mesmo que acreditar que não posso me organizar aos poucos para alcançar aqueles objetivos que eu sempre busquei.

Você pode encarar os desvios incômodos como o fim do mundo (e talvez o fim do mundo chegue sempre acompanhado da notícia do não aumento de salário). Então, recomeçar será o desmoronar de qualquer sonho. E se os desvios forem atalhos para a descoberta de que a vida ainda é cheia de possibilidades? Como você se sentiria? Ou você nunca lutou junto de alguém pelo mesmo ideal, ou conheceu alguém que te fez gargalhar, ou que dividiu aquela história cabulosa enquanto a cerveja estava sendo esvaziada, ou aprendeu a pensar em perspectiva e em saídas mais saudáveis quando ouviu o problema do amigo, e tudo isso em um desses atalhos que encontramos por aí?

O primeiro movimento é comprometedor tanto quanto é importante. O universo começa a entender que você está se movendo. Então, talvez isso seja a parte importante. Porque o primeiro movimento, quando você pensou em lutar pelos descontentamentos que te perseguiam, a insatisfação que consumia seus projetos de vida, se iniciou em você, e aí dentro está o futuro.

Ainda estou tentando dizer que viver é muito fácil?

Não. Apenas refletindo sobre as possibilidades que temos de pensar que ainda temos escolhas, que seguir adiante e o meu primeiro passo podem estar dentro de uma realidade que não me satisfaz completamente, mas que mesmo dentro dela posso tentar acreditar que o futuro pode começar a qualquer momento.

Basta o primeiro passo.

 

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Raimundo Neto