Francisco Grijó By Francisco Grijó / Share 0 Tweet Se um nada tivesse a ver com o outro, compará-los seria uma brutal injustiça. Mas têm a ver porque Jim McBride assim o quis. Resolveu refilmar o único divertido filme de Godard, A Bout de Souffle, (Acossado, para nós). Godard deu sorte: tinha em mãos uma boa história, tinha Jean-Paul Belmondo como o charmoso bandido […] Se um nada tivesse a ver com o outro, compará-los seria uma brutal injustiça. Mas têm a ver porque Jim McBride assim o quis. Resolveu refilmar o único divertido filme de Godard, A Bout de Souffle, (Acossado, para nós). Godard deu sorte: tinha em mãos uma boa história, tinha Jean-Paul Belmondo como o charmoso bandido e tinha, claro, Jean Seberg para iluminar cenas e seduzir platéias (de todos os sexos). McBride, em seu Breathless (A Força de um Amor, para nós), tenta convencer o público de Richard Gere é capaz de atuar sem os maneirismos que trouxe de American Gigolo. Não é nem nunca será. Vai continuar fechando os olhinhos seja em filmes policiais, seja em produções musicais. Para contrabalançar, apresenta-nos Valérie Kaprisky, a atriz francesa de vinte anos (à época, 1983). Uma beleza, embora não se pudesse encontrar nela a refulgência de Seberg. Godard filmou uma aventura, um jogo de velocidade contida, à moda européia e – por que não? – à nouvelle vague, o movimento chatíssimo que os intelectuais veneram. Mas o filme é de uma elegância que somente os franceses são capazes de criar. Jim McBride fez um filme sem beleza cênica – exceto, claro, a cena do chuveiro entre mocinha e mocinho -, sem o frescor que um filme em que a juventude de um assassino acidental deveria ser a tônica. Ainda mais num filme em que o personagem central dirige um porsche e ouve rock & roll. Sei que há críticos ao trabalho de Godard. Sou um deles. Acho muitos de seus filmes chatos, sonolentos, alguns cheios de lacunas. Mas não esse, que é de prima. É bem feito, a despeito de Godard não ter o roteiro pronto durante as filmagens e, segundo a Cahiers du Cinéma dedicada a ele, escrevê-lo durante a manhã para que fosse filmado à tarde. Se é lenda, publique-se. Mas Jim McBride tem um ponto a seu favor: ele escolheu a trilha sonora, que vai de Sam Cooke, Bob Fripp, Brian Eno, Jerry Lee Lewis e Pretenders. Quer mais? Elvis está lá também. Leia mais em: IPSIS LITTERIS » cinema