Francisco Grijó By Francisco Grijó / Share 0 Tweet Tenho pesquisado sobre cinema e literatura, duas artes que se correspondem porque vivem das histórias, da subjetividade explícita, e muitas vezes da íntima poesia que as ilumina. Tenho lido um bocado sobre o papel de um criador – seja ele social, político, estético ou puramente lúdico. Viver a própria literatura é o sonho secreto de […] Tenho pesquisado sobre cinema e literatura, duas artes que se correspondem porque vivem das histórias, da subjetividade explícita, e muitas vezes da íntima poesia que as ilumina. Tenho lido um bocado sobre o papel de um criador – seja ele social, político, estético ou puramente lúdico. Viver a própria literatura é o sonho secreto de qualquer escritor, mesmo daqueles que não assumem ter esse desejo. É disso que trata Uma Canção de Amor para Bobby Long, filme de 2004, dirigido por Shainee Gabel, que revi da melhor forma de se rever um filme: como se inédito fosse. É um filme sobre desajuste e redenção, dois substantivos que se comunicam, quase que inevitavelmente, por conta da literatura. John Travolta interpreta o tal Bobby do título, um bebum que manja literatura como poucos e que se relaciona com o mundo – em especial com seu pupilo/amigo/biógrafo, interpretado com competência por Gabriel Macht – por meio de citações dos titãs da poesia e da prosa. É um homem triste e melancólico cuja morte do grande amor – uma cantora – proporciona-lhe conhecer Purslane Will, adolescente interpretada por Scarlett Johansson (ainda um pouco crua, mas ótima de se ver). Carson McCullers, a extraordinária escritora norte-americana, é sutilmente evocada em todo o filme. Autora do ótimo O Coração é um Caçador Solitário – um romance sobre desajustes -, é leitura preferida de Bobby, além de representar a perene ligação com seu grande amor (a cantora), que criou, para ele, uma música com esse título. O romance (excelente, repito), além de outros personagens, traz uma adolescente Mick e o surdo-mudo John Singer, ambos desajustados, mas cada um à sua maneira. Intertextualidade pura, e bem feita. O desfecho é previsível? Mais ou menos – mas não é ele que conta, e sim a história de amor e companheirismo, aquela cumplicidade que se mantém coesa quando há algo maior que os desajustes da própria vida: a arte em si, e mais especificamente a literatura. E há a trilha sonora: um caso à parte. Todo o filme se passa em New Orleans (muita chuva e muita música) – dá para imaginar o que rola. Leia mais em: IPSIS LITTERIS » cinema