Mundo By Paulo Henrique Guerra / Share 0 Tweet O Timor Leste é um país independente há menos de seis anos e possui na sua história tristezas sem fim. No entanto, o recém eleito presidente José Ramos-Horta não se mostra asfixiado pelo passado e pede à Lula mais brasileiros para reconstruir o país, ou melhor, para construir o país. No ano de 2006, sem qualquer intervenção externa, uma sangrenta crise assolou o jovem país. Foi uma crise circunstancial e dentre suas possíveis razões figuram uma desavença militar, uma disputa étnica entre os firaku e os kaladi e até mesmo uma exacerbação do uso da força por parte da polícia local. O trágico acontecimento foi narrado assim por Ângela Carrascalão: “Agora, reina apenas o silêncio, entrecortado pelo ruído dos helicópteros militares que cruzam os céus. Não há ninguém. Espera-se. Há desconfiança e medo. Porque, afinal, ninguém sabe o que nos espera amanhã.” Apenas um ano após essa turbulência interna, um novo presidente foi eleito: José Ramos-Horta. Segundo o próprio candidato, o seu “plano não era continuar na vida pública, era em maio de 2007 finalmente fechar esse capítulo” porque ele crê que já contribuiu muito para o país. O que, de fato, fez. Aos 26 anos, como ministro das relações exteriores do Timor Leste, José Ramos-Horta saiu do seu país em direção aos Estados Unidos, onde passou cerca de 15 de um total de 24 anos de exílio político acarretado pela invasão indonésia em ’75. Ele rumou à Nova York e, nas Nações Unidas, conseguiu a elaboração de uma resolução unânime que exigia o fim imediato do conflito na Ásia. Sentiu-se triunfante, porém aprendeu que uma resolução prática depende de mais que votações diplomáticas, depende de força política. Após esse episódio inicial da sua carreira, José passou anos de porta em porta, viajando os 50 estados da grande nação capitalista e explanando a situação do seu país. Cultivou sentimentos de fraqueza e incapacidade, posto que, por pior que fosse a sua situação socioeconômica na América, o seu povo amargava uma situação ainda mais humilhante e subumana. Em 1990 foi para a Austrália, país vizinho ao seu, e em 1991 assistiu gloriosamente à uma catástrofe ocorrida no Timor Leste e que foi noticiada pela mídia internacional. MICHAEL MAHER, correspondente internacional: Aqueles que fogem dos disparos dos soldados indonésios eram, em geral, jovens visivelmente indefesos. Numa péssima ironia, era um cemitério e suas lápides que ofereciam a melhor proteção contra os tiros. Max Stahl, da TV Yorkshire, estava no cemitério quando o tiroteio se iniciou. MAX STAHL, cinegrafista: As pessoas estavam tentando desesperadamente entrar no cemitério, e tinha um muro separando a rua deste terreno, dando-lhes proteção frente aos infinitos disparos. MICHAEL MAHER: A contagem oficial dos mortos chega a 19, no entanto testemunhas oculares afirmam que o número de mortos ultrapassa os 100. Com esse atentado televisionado de ’91, José Ramos-Horta viu a causa pela qual lutava se tornar uma questão na pauta global. A partir de então seu trabalho ganhou um novo estímulo e seu mérito foi reconhecido mundialmente, culminando em 1996 com o Prêmio Nobel da Paz, o qual o tornou, além de tudo, o único ganhador desta premiação que abriu mão em vida da medalha de ouro concedida. A medalha foi entregue ao comandante das milícias de resistência numa solenidade realizada após seu retorno do exílio, já em 2002. Agora como presidente, José Ramos-Horta quer transformar a sua terra, desenvolvendo a economia e a cultura, mas além disso preza pelo bom relacionamento entre o Timor e seus vizinhos mais próximos: Indonésia e Austrália. Apesar de afirmar que governa uma “sociedade ainda profundamente traumatizada por mais de duas décadas de ocupação e violência”, este persistente timorense assegura que seu povo não deve odiar os indonésios e ainda pediu à população que perdoasse o ditador Suharto, que executou a invasão do Timor Leste em 1975 e que faleceu no dia 27 de janeiro. “Odiar os indonésios? Não, eu nunca. E nos nossos 24 anos de esforço… E isso não só eu – meus compatriotas, Xanana Gusmão [primeiro-ministro] e todos os outros… meus colegas, nós nunca, nenhuma vez, demonizamos os indonésios enquanto pessoas.” Em entrevista ao jornal O Globo o presidente timorense pediu ajuda ao Lula na questão da educação, tendo-se em vista que metade da população é analfabeta e a língua oficial do Timor Leste é o português, e reforços em aréas estratégicas para o desenvolvimento, como as áreas jurídica, ambiental, financeira além de necessitar de técnicos de saúde e de agricultura. Quando questionado por um jornalista australiano sobre a viabilidade do seu projeto de desenvolvimento nacional, José Ramos-Horta nem mesmo hesitou ao responder. “Ah, sim. Nós temos recursos, nós temos boas pessoas, temos muitos amigos na Austrália e ao redor do mundo, e eu penso que o Timor Leste será um país relativamente próspero em pouco tempo, desde que nós sejamos inteligentes o suficiente para não cairmos no fundamentalismo, nas divisões, brigas internas, e voltarmos à violência”. Paulo Henrique Guerra é um universitário da Universidade Federal Fluminense do curso de Relações Internacionais louco para mudar o mundo.